Daniel Campos

Moinhos de Ilusão


2001 - Poesia

Editora Auxiliadora

Resumo

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Moinhos de ilusão

Ninguém devia acreditar
Que a vida é só um coração batendo.
Por que achar que ela vai além de um parto?
De um diploma? De um salário no fim do mês?
De uma rotina?
Se ela não passa de um coração batendo...
Eu queria que ela fosse um prazer descoberto
Mas pelo visto e revisto
Os prazeres ainda não foram descobertos.
Sonhamos com os beijos nunca dados
Mas muitos desses beijos quando dados
Tem gosto de guardado.
Por essas e outras, a vida é a entrega
Que nunca se dá por inteiro.
Há sempre uma parte vestida
Uma parte encoberta
Uma parte entreaberta
Uma parte oculta
Há um pouco e muito de mistério em tudo isso
Que impede que ela seja vista totalmente nua.
E que vida é essa que não se sabe ao certo?
Talvez seja a vida de um coração batendo...
A vida poderia ser um sorriso
Se não fosse pelas bocas sem sorriso
E a procura constante por um outro riso.
A vida poderia se ruma música
Se não fosse pelos amantes do silêncio.
Quem nunca amou em silêncio?
A vida poderia ser um retrato
Se não fosse pelo tamanho dos porta-retratos
Alguns grandes demais, outros pequenos demais.
Os grandes demais têm de ser deixados
E os pequenos demais se perdem
Ao longo do caminho caminhada.
Quando acho alguém que acredita piamente
Que a vida é um coração batendo
Eu olho nos olhos
E digo e maldigo e bendigo ? saudade!
Saudade como verbo e como destino
Eu saudade, tu saudades, ela saudade
Somos feitos de saudades
Das mais genéricas as mais íntimas possíveis.
Saudade que une os pedaços perdidos pelo corpo
Num só tempo.
Saudade do que ficou, do que passou, do que deixamos
E do que nos deixou.
Saudades de gestos, palavras, olhares
Saudade de si mesmo.
Saudade das esquinas que se cruzam e que não voltam
Saudade de um amor que nunca existiu
Saudade para sempre do que não foi para sempre.
Ao contrário de um coração batendo
A vida talvez seja um coração moendo
Saudades
Como moinhos que não existem mais.


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