Daniel Campos

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19/02/2012 - Balanças da alma

Já assuntou que no carnaval os pássaros não cantam, silenciam. Nas árvores ou nas gaiolas, entre asas pra lá e pra cá ou em poleiro s estáticos, eles se calam. É como se antecipassem o silêncio da quaresma. Nem estalos alegres nem repicados de tristeza, som algum deixa seus bicos retos ou curvos. Uma espécie de protesto, de luto, de voto de silêncio, de maldição ou de uma simples indisposição com o excesso de algazarra que ecoa por todos os lados nestes dias.

Os pássaros, orquestrais por natureza, parecem sentir ciúmes de surdos, cuícas e pandeiros fechando o bico propositalmente. E tem mais: além do canto, os bailarinos dos céus abdicam-se de passos de frevo, de samba, de axé como se renegassem todo movimento e qualquer movimentação. Nesta época, não desfilam, não andam em bloco, não seguem o trio elétrico.

Esses pássaros orfeus negros, brancos, amarelos, vermelhos, azuis, verdes, matizados, que vivem em estado permanente de música, demonstram, no carnaval, uma solidão tão doída, que canta para dentro, como pierrôs apaixonados. Pássaros, balanças da alma, vivem o avesso humano para equilibrar os mundos, sendo folia na ausência de alegria e despindo-se da fantasia na sombra do dia.


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