Daniel Campos

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28/05/2016 - E a primavera não chegou

Por noites e dias, preparei o jardim. O meu jardim particular, íntimo, secreto ou não. Sem parar, cuidei do terreno, em dias frios, quentes e amenos, esperando a primavera chegar. Mas tudo era verão, outono ou inverno. Protegi as sementes de nós dois do vento, dos corvos, dos ratos... Deixei de comer, de dormir, de viver para proteger as sementes do que eu pensei que seria uma estrada florida, perfumada, repleta de casais de mãos dadas, de crianças brincando pelas pétalas, de pássaros se deliciando naquela aquarela de cores. Vigiei as sementes do passado acreditando que quando a primavera chegasse elas nos trariam tudo o que queríamos dali para frente. Porém, a primavera não veio. Secaram meus jardins de dentro, deixando-me sem início e sem fim, no deserto do meio. Mesmo assim, não me desfiz das sementes. Continuei esperando pela primavera. Fui perdendo as forças físicas, mas não a fé de que ela chegaria. Porém, o corpo não aguentou e tombou. E uma ventania roubou as sementes de mim. E, enfim, quando o fim chegou eu, mesmo com tudo aparentemente perdido, acreditei. Fechei os olhos e vi a primavera com seus olhos verdes, carregando uma rosa azul, colorindo jardins de norte a sul. Era como se aquele perfume primaveril nunca tivesse me deixado. Resisti tanto tempo em vão para finalmente entender que a primavera não chegou porque, e simplesmente porque, nunca me deixou.


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