Daniel Campos

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28/11/2010 - Mutações amorosas

Desde que eu encontrei você, desencontrei-me. Fui me perdendo, mudando de endereço, me transformando. Fui adquirindo elementos que não são meus. Ou que eu pensei que não fossem. Tornei-me uma espécie de mosaico de sonhos e olhares alheios. Dentre os retalhos da colcha da minha alma, difícil encontrar alguma estampa original. Tudo foi alterado, trocado, revirado, retocado. Eu me tornei uma coisa que não conheço no melhor sentido da expressão. Uma coisa que vaga pelas ruas, pelas tabernas, pelas luas, pelas pernas do destino na inocência de um menino.

É como se eu tivesse morrido e tornado a brotar inúmeras vezes. Como se eu estivesse na quinta ou sexta vida de um felino. Como se eu renascesse das cinzas a cada carnaval. Difícil explicar, acreditar e até confiar em minhas palavras. Mas é real. A cada abraço fui ganhando outros braços. A cada beijo fui criando novas camadas labiais, com sobreposição de lembranças. A cada verso fui trocando de língua. A cada acontecimento, fui quebrando o cimento, entortando o aço e fazendo um embaraço desta construção que sou.


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