Daniel Campos

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24/09/2008 - Vale a pena ser feliz

Era um trapo, era um prato, era um pato na lagoa nadando a toa, boiando numa boa. Era um gira-mundo, era um vagabundo, era um moribundo ao vento querendo, se vendo, morrendo num sentimento fundo, mais que profundo. Era um manto, era um santo, era um canto de amor total ferindo, frigindo, agindo no furor letal de um carnaval que foi vindo num passo, indo num contrapasso e sumindo num compasso carnal de espaço sideral, de traço espiritual e de laço bucal.

Era um dia, era uma alegria e era uma fantasia tomando a avenida da vida de poesia lida, vivida, sentida. Era um nó, era um dó e era um só numa era de felicidade que vai, ai quem dera se não existisse a saudade e se a fera não insistisse na vaidade de uma vontade primavera. Era um mar, era um lar, era um luar no meio da rua, no meio da lua, no meio da tua ciranda que anda e desanda sem parar. Era um fio, era um arrepio, era um rio correndo, moendo, doendo na gente, de repente, tão somente a gente.

Era um caminho, era um carinho, era um vinho na mesma taça de pólen que passa e some num beijo, num desejo, num realejo que não existe mais, triste demais. Era um sabiá, era um jatobá, era um deus-dará no meio da multidão da estrada, no esteio de uma paixão falada, no centeio de uma canção dourada de sol, de um rouxinol em mi-bemol. Era um choro, era um coro, era um namoro de dois corações febris, de dois vagões de anis, de dois refrões de um poema aprendiz: ser feliz vale a pena, vale a pena ser feliz.


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