Daniel Campos

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18/10/2010 - Xexéu

Maria Eduarda ganhou um pônei. Esqueceu do colo da mãe, das brincadeiras do pai, dos mimos da avó. A menininha de quatro anos se identificou de tal forma com o mini-cavalo branco que os familiares, os amigos e, até mesmo, os brinquedos tiveram que se adaptar a nova realidade. Ela coloca as bonecas para cavalgar e, de forma bastante benevolente, permite que as amiguinhas cavalguem em Xexéu, o qual ela chama carinhosamente de “Xéu”.

Foi o melhor presente de Dia das Crianças de sua vida, embora tenha só quatro anos. Um vizinho construiu um estábulo, outro trouxe jacas de milho e feixes de capim. Seu avô lhe deu um pelego lindo, cor de rosa. Aquele pônei em seu quintal fez de seu mundo um mundo encantado, assim como aqueles mundos das histórias de ninar e dos desenhos da televisão. Como ela não se contenta com o básico, está tentando ensinar o cavalo a falar e a dormir deitado. Até agora não teve muito sucesso, mas não está disposta a desistir.

O fato é que no vilarejo não se fala em outra coisa senão na paixão da menina pelo animal. Ela deixou de ir às aulas de balé, sapateado e violino. Até mesmo da escola anda inventando desculpas para faltar. E Maria Eduarda era uma aluna tão aplicada. No entanto, como deixar o pônei sozinho. E se algum bicho papão levá-lo embora? E se ele ficar com fome, frio, sede? E se ele precisar dela? O fato é que pela primeira vez Maria Eduarda deixou de querer que cuidem dela para cuidar de alguém.


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