Daniel Campos

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A mulher de machu picchu

Por detrás do portal do sol
Desvirgina-se
A mulher de machu picchu
Aprisionada pelo último imperador inca
Teve suas asas cortadas
E sua vida condenada
A mais de dois mil metros de altura.

Diante da escolha de ficar
Ou se jogar da velha montanha
Resistiu ao tempo
E foi eleita rainha daqueles templos, praças
E corpos mumificados
Que um dia
Desejaram-na enquanto amada.

No seio da velha montanha
A mulher dorme no templo do sol
Um sono fúnebre
Que deixa seu corpo
Em uma espécie de coma
Sem qualquer sinal visível de vida
A temperatura é gélida
A pulsação não é vista a olho nu
E pernas e braços parecem feitos de pedra.

Bendita ou maldita
No dia 21 de junho
As 7h15
Através da única janela daquele templo
Seu corpo é acordado
Pelo sol que ilumina cada centímetro físico
Ou não
E reboliça os limites
Entre a vida e a morte
Existentes em seu corpo rosado.

Ao contrário dos poetas que rimam
A chegada da amada com o início da primavera
A mulher de machu picchu
Desperta na assunção do inverno
Como flor prematura
E, de beleza, sem cura.


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