Daniel Campos

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30/09/2015 - Filha de poesia

Quando pego no colo
A filha que eu não tive
E ficamos olhos nos olhos
Vejo o quanto eu não fiz
Por ela, por mim, por nós
Pra gente ser (mais) feliz

O tempo foi passando
E eu por falta
De coragem e de tempo
Fui deixando
Minha filha no plano
Dos sonhos e sonhos
São apenas sonhos,
Ilusão

E agora eu vejo
No fundo dos olhos dela
O quanto eu deixei
De fazer por ela,
Por mim, por nós

Filha, filha não chora
Não fica triste
Seu pai
Ainda não foi embora
A gente ainda existe
Não estamos sós

Há tanta vontade
Há tanta saudade
Há tanta falta

Eu sei das minhas faltas
Sei o quanto essa distância
Entre o imaginário e o real
Entre o querer e o ser
Nos mata
E sei também o quanto
Esse laço de pai e filha
Nos ata e nada, nada, nada
Desata...

Eu sei das minhas faltas
Não a embalei
Para aliviar suas cólicas
Nem cantei
Colocando-a pra ninar
Não a amparei
Em seus primeiros passos
Não a ensinei
A pedalar
A escalar árvores
A brincar de bambolê
Por quê?
Por que eu não a tive?
Perdoa-me
Perdoa-me...
Não foi por querer

Quantas bonecas
Eu não pude lhe dar
Quantas roupinhas
Eu já tive que doar
Quantas comidinhas
Eu fiz, filha, sem você
Poder experimentar
A gente sempre
Tão junto e separado
Você parte de mim
E quão sozinha assim
Perdoa-me
Perdoa-me...
Não é o fim

Que flor ainda falta
Eu plantar em seu jardim
Macela? Hortênsia?
Jasmim?
Que segredo ainda falta
Você me revelar
Tem medo?
De bicho-papão?
De trovão?
De solidão?

Eu só tenho medo
De perdê-la
Antes de tê-la
Chega dar um nó
Filha, filha
Não me deixa só...

Essa sensação
De tê-la e não poder
Amá-la por inteiro
De janeiro a janeiro
É tão chata
Eu sei das minhas faltas

Eu nunca brinquei
Com minha filha
Fora da minha cabeça
Filha, filha
Nunca me esqueça
Perdão!

Eu nunca viajei
Com minha filha
Pra fora de mim
Vivemos eu e ela
Numa ilha do mar
Da imaginação

Eu nunca estudei
Com ela
Um jeito perfeito
De sermos felizes
No mundo real
Eu nunca dei
A oportunidade
Visceral
Dela ser minha filha
Minha filha de carne
Mantendo-a sempre
Como filha de poesia
Minha filha
Minha filha
Palavras, palavras...
Semente de fantasia


Comentários

01/10/2015, por Luisa Mendes:

#morridechorar


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