Daniel Campos

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Não, definitivamente não

Eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...
Nada mais concreto
Do que o vazio
Nada mais indiscreto
Do que o frio
Da tua falta
Ah! A tua falta me pauta
E a saudade é o feto
Nascente de nós
Que eu carrego
A sós
Na minha ausência de útero
Pelos caminhos
E descaminhos
Deste destino adúltero
Que nos trai
Quando nos atrai.

Ah! O destino nos afasta
E como dói a tua falta
A tua solidão corrói
A espinha dorsal
Dos meus sonhos
E me liga a tua sofreguidão
E me ilha umbilicalmente
E desesperadamente
Demais
A tua ausência
E eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...

Vem ver os beija-flores
Do mensageiro do vento
Vem ver que sem você as flores
Perderam os sabores
Do sentimento
E eles nem se beijam mais
Ah! Tanto tempo faz
Ah! Vem ver nossos lençóis
Se amarrotando
Se amarelando
Se rasgando
A sua espera
Vem vestir de luto
O último amarelo
Da gérbera que se entregou
À fera
Dos minutos
Porque não suportou
Suas garras
Vem, vem desatar as amarras
Dessa aflição
Que estrangula
O meu desespero
Cristão
Que grita:
Eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...

Vem, vem desatar as travas
De amores e raivas
Dessa convulsão
Que atiça a gula
Do mais cruel dos prisioneiros -
O medo...
O medo de perder-te
Perder-te no verbete
Que não reconhece a minha língua
Que é por ser-te
Apenas a minha íngua
De doer-te
Porque eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...

Quebrem o são josé
Tragam a seca dos anus
Esqueçam a minha fé
Nas rodas de candomblé
Deixem-me nu
Com meu último
I love you
Deixem-me sentir
O gosto de um perfume
O ciúme e o morango
Na mesma pele escorregadia
Confessionário de fantasias
Noturnas e diurnas
Afinal, eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...

Ah! Deixe-me nu
Feito um molambo
De emoções
Ah! Onde estão as batidas
Desvalidas
Dos corações
Será que estão presas
Nas conchas
Como o barulho do mar
Por onde anda a beleza
Das cochas
Das estrelas do luar
Será que todos foram embora
Enquanto o leão do tempo
Vorazmente me devora
No ditado sangrento:
Eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...

Ah! Sou vela em teu leste
Sou pirata em teu oeste
Não há qualquer direção
Que vá além do teu braço
Não há qualquer destino canastrão
Que me roube do laço
Do teu abraço
Pode me matar
Pode me estrangular
Pode me negar
Mas é em teu ser que eu me acho
Do primeiro ao último
Passo
Que dou
E já me vou
Porque eu não existo,
Definitivamente não,
Não sem você...

E ai de quem não me deixar
Passar
Em teus norteios
E ai de quem não me deixar
Chorar de contentamento
Em teus seios
E ai de quem que não me deixar
Buscar
Os teus desejos
Mais alheios
Alheios do mundo
Do universo
Eu sou o teu verso
Sem fundo
Aquele que comporta
Toda a tua poesia
No meu dia
E que me numa falange
Esconde-se atrás da porta
Que range:
Eu não existo
Definitivamente não
Não sem você...


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