Daniel Campos

Politiquia


2008 - Prosa

Editora Auxiliadora

Resumo

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23/12/2008 - O grito de Van Gogh

Há cento e vinte anos, Vincent Van Gogh, um dos pintores mais aclamados de todos os tempos, cortava parte da sua orelha esquerda. Loucura? Depressão? Arte? Há quem corte os pulsos, quem corte o pescoço, quem corte as genitálias, mas cortar a orelha? O que será que passou na cabeça do pós-impressionista? Se quisesse se matar, o pintor holandês certamente daria uma outra direção à lâmina. Talvez quisesse se castigar ou provar que poderia ir além de qualquer limite.

Não conseguiu ter família. Não conseguiu se sustentar. Não conseguiu ter amigos. Não conseguiu ver o sucesso de suas obras. Era como se em seu mundo, só houvesse ele de habitante. E nessa solidão, a orelha, que ouvia desaforos, o incomodava. Então, era melhor cortá-la. Mais de um século depois deste ato que mitifica ainda mais o seu universo, pense se dá ou não uma vontade de cortar as orelhas depois de ouvir as barbaridades políticas, econômicas, sociais e culturais a quais estamos expostos.

Escondam as facas, as tesouras, os canivetes porque eu quero cortar minhas orelhas. Minhas orelhas estão cheias de crise, de fome, de miséria, de roubo, de corrupção, de enchentes, de impostos, de guerra... Dá uma vontade de cortar as orelhas e sair correndo pelos campos de girassóis de Van Gogh e soltar O Grito. Ops, embora esse quadro tenha tudo a ver com o pintor holandês, é uma pintura do norueguês Edvard Munch. O grito de Van Gogh não foi retratado em tela, mas em um gesto. Cortem as orelhas.


Comentários

10/06/2011, por karol:

achei maravilhoso o quadro eo comentario


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