Daniel Campos

Bendicta


2007 - Poesia

Editora Auxiliadora

Resumo

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Anatomia da mulher amada

A mulher amada não é humana
É arte
Independente se pintura
Escultura teatro ou poesia
Deve ser plástica e dinâmica
Seus olhos devem mirar
Horizontes e ser propícios
Para navegação
Mesmo que possuam ondas bravias
E mar revolto,
Mas de águas cristalinas
Que, acima de tudo,
Reflitam a lua em suas fases cotidianas
E em sua fase proibida,
Que a boca seja tropical
Quente e úmida
E que num beijo
Haja brisa e até mesmo uma corrente marítima
Capaz de mudar a temperatura
E até a estação que controla
As plantações e as colheitas da mulher amada
Que em seus ouvidos
Haja os ecos de uma poesia que nunca se foi
E que as narinas
Saibam distinguir
Perfeitamente
Os perfumes do medo e do desejo
Presentes no corpo de quem a ama.
Que a mulher amada lhe receba
Sempre de fronte
Como um exército em linha de frente
Um exército
Sem escudos
Sem lanças
E canções de guerra
Que haja um arranjo
Romântico
De pensamentos
Na cabeça da mulher amada
E que eles aflorem
Como notas da modinha
De um piano.
Que as mãos da mulher amada
Sejam do tamanho exato
Para segurar o coração de quem ama
Nem mais nem menos
E que sejam de unhas ideais
Para deixar marcas nas costas
E causar arrepios,
Que as linhas das mãos
Da mulher amada sejam caminhos
De sorte ou de azar
Mas que levem sempre a um amor pleno...
Que a mão nos leve ao antebraço
E ao braço e acabe em um abraço
Ou no ombro em choro
Ou nas axilas
No perfume cítrico
De fruta madura e silvestre
De preferência morango.
Que os seios da mulher amada
Formem o decote perfeito
Para os sonhos mais atrevidos
Pousarem de asa delta,
Que seus seios nos induzam
A escaladas e a saltos
Plurais e tridimensionais;
Que o tórax da mulher amada seja
Amplo para as flechadas do cupido
E que suas costas
Sejam guardadas, por no mínimo,
Três anjos da guarda
Que haja dunas e runas imaginárias
Na imensidão de suas costas
E uma pelagem fina e macia,
Que seu abdômen seja sacro
Capaz de guardar o útero
Como uma relíquia perdida
Que o seu quadril tenha um balanço
De bolero
E que sua cintura
Ponha-nos a girar em carrossel.
Que os pulmões da mulher amada aspirem
E inspirem sentimentos
E que passado presente e futuro
Naveguem em sua corrente
Sanguínea,
Que sua mandíbula
Cause mordeduras
De sétimo grau
E que mordisque
Baixinho
A meia luz
O corpo de quem ama,
Que seus ossos sejam fortes
E leves
Para lhe permitirem vôos mais ousados
E que a pele lhe caia
Como um manto
Nobre santo.
Que os cabelos da mulher amada
Sejam lisos e se acabem em cachos
Cachos de uva
Cachos de abelha
Que haja abundância
De vinho e de mel
Na mulher amada,
Que sua língua fale a língua
Mais antiga
A língua do sentimento
E que suas bochechas rubrem
Como maçãs argentinas
E que o umbigo
Nos leve para dentro dela
Como redemoinho
De deserto ou de mar.
Que as nádegas da mulher amada
Sejam o pecado em pessoa
E que o joelho
Num só movimento
Ponha-nos de joelhos,
Que suas pernas se cruzem
E se descruzem
Fartas
De carne
E de elasticidade
E que desafiem as leis da física
E que sua panturrilha
Entorte os nossos pescoços
E que nisso tudo
Falte-nos o ar e a gravidade.
Que os pés da mulher amada
Sejam curvilíneos
E covardes e tímidos
Mas sensíveis e amáveis
Que ela guarde à flor dos pés
As emoções guardadas
De tantos caminhos
E os chakras
Mais íntimos
Que se pode
E os que não se pode
Imaginar.
Que a glândula pineal
Da mulher amada
Conceda-lhe o sono exato
Mas com direito a algumas
Horas de insônia
Regada ao sonho
De menina que guarda
A sete chaves,
Que ela tenha átrios e ventrículos
Geométricos
E que a sua aorta cruze
Para a esquerda
Em memória de karl marx.
Que mesmo com todos os riscos
Haja uma explosão
De estrogênio
E que a femilididade
Exale dos poros
Da mulher amada
E que haja uma ovulação constante
E uma nascedura de anos luz
De ilusões no corpo da mulher amada.
Que o sistema nervoso
Nunca a estresse
Que a pressão arterial
Tenha a ver com a pressão atmosférica
Que além do emocional
Ela dependa da latitude
Da altitude e da temperatura,
Que o corpo da mulher amada
Tenha um relevo minucioso
E que haja vulcões e terremotos
E outros abalos sísmicos
Capazes de mudar o eixo do planeta
Que é a mulher amada,
E que nisso tudo haja
E reaja
Um que de vida
E um que de morte
Para irmos além dos limites
Do corpo da mulher amada.


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