Daniel Campos

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01/05/2013 - 19 anos de impunidade

Há 19 anos um crime brutal continua impune. O assassinato de Ayrton Senna continua sem solução. Os culpados seguem suas vidas como se nada tivessem feito. O circo da Fórmula-1 continua armando suas lonas milionárias como se nada tivesse acontecido. Não vai faltar quem diga que não se tratou de um crime, mas de um acidente. Será? Eu tenho razões de sobra para acreditar que uma conspiração envolvendo uma série de pessoas, interesses e fatores foi responsável por ceifar a vida do tricampeão.

Quase duas décadas se passaram sem que a morte de Senna tivesse a investigação devida. As autoridades internacionais empurraram a sujeira para debaixo do tapete. E o Brasil, mais uma vez, optou pelos caminhos da submissão, da cegueira, do descaso. Se o piloto tivesse identidade européia o desenrolar e o desfecho dessa história seriam bem diferentes. Porém como o morto tinha sangue tupiniquim e, mais que isso, adorava exibir a bandeira desse país verde-amarelo no alto do podium, lavaram as mãos.

A morte de Senna fez um mal tremendo ao esporte, mas há muito a Fórmula-1 deixou de ser um esporte para se transformar em um negócio. Um negócio que rende mais quando o piloto vencedor tem como nacionalidade a principal potência da Europa – a Alemanha. Os patrocinadores fabricam talentos de uma maneira nada lícita. O dinheiro compra poles, voltas mais rápidas e vitórias. O poder manipula temporadas. Senna, no braço, atrapalhava esse jogo como ninguém.

Para a F-1 continuar com as manobras que já haviam arrancado um título de Senna (1990), ele teria que sair. Porém, Senna não queria se aposentar ou deixar a categoria pela porta dos fundos. Por mais que lhe dessem um carro ruim, ele continuava aprontado das suas em nome de um talento indiscutível. Os chefões da Fórmula-1 não engoliam aquele atrevimento. Senna sabia do desfecho de tudo isso. No entanto, em momento algum se acovardou.

Fez questão de ser morto acelerando em primeiro no grid, liderando uma corrida depois de ter feito a pole. Do remendo criminoso feito pela equipe na barra de direção a um tiro disparado no momento que ele começava a fazer a curva várias teorias foram levantadas e nenhuma delas investigada a fundo. Foi mais cômodo tentar convencer o mundo que o acidente derivou de um erro do próprio Senna. No entanto, como acreditar que o maior piloto de todos os tempos erraria ao fazer uma curva reta.

Não é só no Brasil que tudo acaba em pizza. Pressionada pela comoção dos fãs, que não engoliram as hipóteses de erro e até mesmo de suicídio de Senna, a Suprema Corte da Itália, em 2007, condenou o diretor-técnico da Williams por homicídio culposo. Porém, ele não cumpriu pena, pois o crime havia prescrito. O fato é que se Senna não tivesse morrido, os rumos da F-1 teriam sido outros. Schumacher, por exemplo, não teria reinado soberano numa categoria que já tinha seu rei.

Morto, o domínio europeu voltou à categoria. Como lenda, a imagem de Senna ainda ofusca alguns pilotos, mas pode ser convertida com mais facilidade para gerar lucros. Seu nome rende fortunas a quem nunca vestiu um capacete. Dezenove anos depois, a pergunta – o que fez Senna bater naquele muro? – continua atualíssima. Dentre o universo da falta de resposta, a única certeza é de que o povo brasileiro, tradução da cordialidade, engoliu muito, mas muito facilmente um assassinato fruto de um grande conspiração: a Conspiração Tamburello.


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