Daniel Campos

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06/10/2009 - A casa e o infinito

Uma casa é feita de muitos sonhos e suor. Uma casa é feita de linhas. Linhas arquitetônicas, matemáticas, orçamentárias. Uma casa é feita de frente e, sobretudo, de verso. Uma casa é feita da mistura de pensamentos e sentimentos. Uma casa é feita de palavras escritas e ditas em silêncio, em sussurros, em urros de dor e felicidade. Uma casa pode ter uma infinidade de telhas ou de estrelas, dependendo do desejo e da necessidade de quem nela habitar.

Uma casa pode ser construída na beira do lago, do penhasco, do vulcão ou a 50 metros de altura, arranhando o céu. No entanto, a casa, por mais abstrata que seja, precisa ser sólida. Isso porque além de guardar afeto, um teto é uma espécie de feto a lhe proteger, a lhe envolver, a lhe tecer. Uma casa pode ter uma infinidade de paredes e quartos, contudo necessita primordialmente de uma porta. A partir dela, você tem um mundo só pra você. E é ali que você se faz e refaz por inteiro, recebendo quem ama, mostrando-se às visitas.

Branca, verde, amarela... A casa tem sempre a cor do dono ou dona. Uma casa é feita para além do olho nu. Por isso, uma casa é feita de sótão e porão. Quantas coisas se escondem no mistério desses submundos. Talvez o sótão simbolize a nossa cabeça e o porão, nosso músculo mais sentimental - o coração. Entre os dois, ergue-se o corpo. O corpo estético. O corpo poético. O corpo profético. E como cabeça e coração estão sempre inventando moda ou se reinventando, uma casa sempre precisa de reforma.

Há sempre algo a acertar, a colorir, a nivelar, a mexer, a pendurar, a decorar. Uma casa é um ser em mutação constante. Pode ser arrumada de mil maneiras. Sabemos onde uma casa começa, a tal pedra fundamental, mas nunca onde termina. E isso porque uma casa é um livro sem página final. Algo que está acima do bem e do mal. Uma casa, por mais que tenha endereço fixo, caminha diariamente, tendendo ao vento do infinito.


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