Daniel Campos

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29/04/2011 - As filhas dos pais

Numa mesma quinta feira perdida no final de abril morreram as filhas dos pais. Podiam ser chamadas assim essas mulheres nascidas de uma poesia de Vinícius de Moraes, de um discurso de Leonel Brizola. Independentemente das tentativas, nenhuma das duas conseguiu superar a fama de seus criadores. No fim das contas, só aumentaram a lista dos casos em que o sobrenome fala mais forte que o nome.

A filha do político, Neusinha, enveredou pela carreira artística e teve uma série de desentendimentos públicos com o pai por causa das drogas e um ensaio de nudez para uma revista famosa. Chegou a ser presa. Morreu no hospital por complicações pulmonares assim como o pai. Os pulmões da cantora silenciaram. Uma morte simples para uma mulher que, entre outras extravagâncias, já encheu uma banheira com champanhe para tomar banho.

A filha do poeta, Luciana, inspirada na obra de Vinícius, teve sua morte carregada de emoção. No auge do drama, seu corpo foi encontrado numa calçada do Leblon. Cortou os pulsos e se jogou da janela de um prédio da Zona Sul, berço da bossa nova. Peritos vão investigar a morte daquela que cuidava do acervo artístico e financeiro do pai, mas já se sabe que não há muita explicação para as coisas do coração.

A caçula dos três filhos de Brizola foi uma personagem do pop rock dos anos 80. Seu maior e talvez único sucesso seja a canção “Mintchura”. Gostava de dizer que criou o Movimento Anarquista Tropicalista Energético, do qual era sacerdotisa. Chegou a fazer uma festa de casamento no alto do Terminal Rodoviário Menezes Cortes. A cerimônia foi celebrada por ninguém menos do que Paulo Coelho.

Luciana, a quarta filha do poetinha, fruto do terceiro de seus nove casamentos, tinha traços físicos e comportamentais bastante parecidos com os do pai. Faltou só o azul dos olhos de Vinícius para coroar as semelhanças. Filha de Lila, irmã de Ronaldo Bôscoli, Luciana vivia com Adriana, sua companheira há pelo menos 10 anos. A brisa vinda do mar dos boatos sopra que a mulher que teve sua vida marcada pela discrição andava deprimida nos últimos tempos.

Viveram e morreram de formas completamente diferentes. O engraçado é que a trajetória de vida de uma combinava com a morte da outra. Independentemente de tantas e tamanhas particularidades, elas se foram deixando um mesmo tom de tristeza. Uma tristeza que une a fala carregada de sotaque de Brizola aos uísques silenciosos de Vinícius.


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