Daniel Campos

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29/06/2015 - As maçãs-do-amor de Sinhazinha

Sinhazinha se arrumou toda pra se sentar na pracinha esperando alguém que lhe desse uma maçã-do-amor. Mas na pracinha não tinha macieira e nem era tempo de fogueira. Mesmo assim ela esperou, ela esperou, ela esperou e dançou com o tempo que seus olhos caramelizou. Sinhazinha não estava grávida, mas ardia numa vontade parideira que faz a desejosa subir e descer ladeira dia após dia até matar as lombrigas que brigam e fazem intriga e desdém em torno da fome do que não se tem. Passaram fulanos, ciclanos, beltranos sem que ninguém oferecesse maçã alguma à salivação crescente da sinhazinha que estava acostumada a viver sozinha. Passaram-se horas até que a menina chora e um tal moleque, longe de ser pivete, aproximou-se e enxugou aquelas lágrimas com um beijo certeiro daqueles que desmancham o coração por inteiro. Sinhazinha ficou pasma, faltou-lhe o ar como numa crise de asma, e suas maçãs do rosto ficaram coradas, avermelhadas como as maçãs-do-amor que ela tanto queria e pedia. Coisas da poesia.


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