Daniel Campos

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20/05/2010 - Bote mais pimenta nesse acarajé, ò Luislinda

Luislinda Valois, a primeira juíza negra do Brasil, foi convidada para gravar um depoimento sobre sua história de vida às vinhetas exibidas pela última novela da Globo, “Viver a Vida”. Em sua fala, emocionou-se ao relatar o quanto foi discriminada pela vida afora. No entanto, a baiana se esqueceu de dizer que o preconceito continua mordaz. Eis que durante a festa de encerramento das gravações da telenovela, um fotógrafo flagrou a juíza ao lado de uma atriz global. Cliques depois, um site, desses que vivem de fofoca, publicou tal foto com a seguinte legenda: “Natália do Valle enche de carinhos sua camareira”.

Camareira?! Nada contra as camareiras, afinal Luislinda não nasceu juíza. Desempenhou atividades como lavadeira e catadora de mariscos antes de chegar à magistratura. Porém, o preconceito racial neste país-fantasia não acaba com uma toga. A duração de sua vinheta foi pequena. Não deu tempo para dizer quantas audiências foram adiadas depois que as partes tiveram conhecimento que a juíza era negra; o quanto postergam propositalmente sua nomeação para o cargo de desembargadora; o quanto boicotam seus projetos dentro e fora do âmbito da Justiça. Aliás, a vida da ilustre senhora de cabelo rastafári deveria ser tema de uma minissérie. Sugiro até o título:

“Luislinda, a identidade que o país insiste em não assumir”

Escrevo para prestar solidariedade e para pedir que Luislinda bote mais pimenta nesse acarajé. Símbolo de resistência em favor da democracia racial, ninguém melhor que ela para desmascarar esse Brasil que, em sua história, deve muito aos negros. O país descoberto, colonizado e explorado por brancos europeus tem a alma negra. É preciso que nossas crianças saibam e se orgulhem disso. Só assim evitaremos que os negros continuem vítimas de comentários discriminatórios como aconteceu agora com essa baiana de sorriso farto e olhos doídos, de tantas chibatadas.

Não se avexe, juíza. Atitudes como essa só servem para reafirmar sua existência, sua luta e nossa esperança.

Salve Luislinda, Iansã e todos os orixás!

Observação do autor: Para saber mais sobre essa guerreira, acesse:

http://www.danielcampos.biz/textos/exibe/linhas/luislinda-de-todos-os-santos


Comentários

30/04/2015, por Heribaldo Lima do Nascimento:

Gostaria de participar do filme, falando: Luislinda, o jeito forte, simples e meigo de ser.

30/05/2015, por nilza:

Olá Daniel, como falastes temos a alma negra, apesar de sermos explorados por brancos, quando irão aceitar o importante não e a cor mais sim o caráter,a nossa alegria, nossa inteligencia, a garra de passar por todo esse preconceito e ainda sim vencer na vida.

02/10/2015, por Dalirio:

Realmente professora a discriminação no País é gritante ,tanto sim que um médico americano esteve em nosso País para proferir uma palestra, e ficou impressionado; como num País onde a população é composta na sua maioria de negros só apareceram 5(cinco) ou 6(seis) médicos de cor negra ?


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