Daniel Campos

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19/06/2011 - Dados

Eu já lhe dei minha vida, minha alegria. Eu já lhe dei meu sangue, minha fantasia. Eu já lhe dei minha chegada, minha partida. Eu já lhe dei meu romance, minha escrita. Eu já lhe dei minha profecia, minha ferida. Eu já lhe dei meu buquê, minha margherita. Eu já lhe dei minha derrota, minha vitória. Eu já lhe dei meu porquê, meu depoimento. Eu já lhe dei meu brilho, meu trilho. Eu já lhe dei meu refrão, minha história. Eu já lhe dei minha solidão, meu sentimento. Eu já lhe dei minha nuvem, meu vento. Eu já lhe dei minha memória, meu tempo.

Eu já lhe dei meu querer, meu querer bem. Eu já lhe dei meu ódio, meu ópio. Eu já lhe dei meu amanhecer, meu desdém. Eu já lhe dei meu destino, meu menino. Eu já lhe dei mira fera, minha bebida. Eu já lhe dei meu além, meu aquém. Eu já lhe dei meu caminho, minha saída. Eu já lhe dei meu telefone, meu endereço. Eu já lhe dei meu esquema, meu poema. Eu já lhe dei minha despedida, minha querida. Eu já lhe dei meu começo, meu poente. Eu já lhe dei meu preço, meu de repente. Eu já lhe dei minha semente, meu apreço.

Eu já lhe dei minha lua, meu calendário. Eu já lhe dei meu peixe, meu aquário. Eu já lhe dei minha rua, meu infinito. Eu já lhe dei minha identidade, meu mito. Eu já lhe dei meu rito, minha cidade. Eu já lhe dei minha estreia, minha ideia. Eu já lhe dei minha sombra, minha saudade. Eu já lhe dei meu silêncio, minha plateia. Eu já lhe dei meu pão, minha sofreguidão. Eu já lhe dei meu ultimato, minha loucura. Eu já lhe dei meu fato, minha procura. Eu já lhe dei meu não, minha ternura. Eu já lhe dei minha doença, minha cura. Eu já lhe dei minha união, minha desavença.

Eu já lhe dei meu rio, meu oceano. Eu já lhe dei meu vazio, meu engano. Eu já lhe dei minha estação, meu barraco. Eu já lhe dei meu rubi, meu trapo. Eu já lhe dei meu bisturi, meu colibri. Eu já lhe dei meu passado, meu fado. Eu já lhe dei minha passagem, minha janela. Eu já lhe dei minha chave, minha aragem. Eu já lhe dei meu suor, minha passarela. Eu já lhe dei meu êxtase, meu pior. Eu já lhe dei minha voz, meus lençóis. Eu já lhe dei minha noz, meus nós. Eu já lhe dei minhas netas, minhas avós.

E já lhe dei minha lágrima, meu leito. Eu já lhe dei minha angústia, meu punhal. Eu já lhe dei meu peito, meu carnaval. Eu já lhe dei minha astúcia, minha lástima. Eu já lhe dei meu mapa, meu roteiro. Eu já lhe dei minha capa, meu coqueiro. Eu já lhe dei meu quadro, meu lado. Eu já lhe dei minha boca, meu abraço. Eu já lhe dei meu laço, minha querência. Eu já lhe dei meu traço, meu guardado. Eu já lhe dei minha inocência, meu passo. Eu já lhe dei minha ciência, minha paciência. Eu já lhe dei meu pecado, minha penitência.


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