Daniel Campos

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03/07/2010 - De grão em grão

É de assovio em assovio que um pássaro faz sua canção. É de tijolo em tijolo que o homem ergue sua construção. É de ponto em ponto que a mulher compõe suas rendas. É de centímetro em centímetro que ela seduz através de suas fendas. É de milho em milho que a galinha enche o papo. É de passo em passo que se molda um sapato. É de gota em gota que se enche um copo. É de zoom em zoom que se acha o foco. É de tronco em tronco que se faz um arvoredo. É de mão em mão que se passa um segredo.

É de beijo em beijo que se escreve uma novela. É de barraco em barraco que se monta uma favela. É de rua em rua que se trança uma cidade. É de ausência em ausência que se faz saudade. É de procura em procura que algo se acha. É de memória em memória que se fecha uma caixa. É de botão em botão que se chega à nudez. É de desespero em desespero que se alcança a insensatez. É de rosa em rosa que a primavera visita um jardim. É de rama em rama que se alastra o amendoim.

É de roupa em roupa que se enche uma mala. É de pá em pá que se abre uma vala. É de gole em gole que alguém se embriaga. É de furo em furo que uma canoa naufraga. É de conto em conto que se estrutura uma mentira. É de inocência em inocência que nasce um caipira. É de coração em coração que o mundo gira. É de sonho em sonho que a realidade pira. É de brasa em brasa que o fogo esquenta. É de aflição em aflição que ele se apoquenta. É de fio em fio que se traça um destino. É de meninice em meninice que cresce um menino.

É de suor em suor que a gente chega lá. É de ano em ano que se come ingá. É de lua em lua que a gente namora. É de reza em reza que se vê Nossa Senhora. É de pé em pé que se arquiteta uma dança. É de brincadeira em brincadeira que se realiza uma criança. É de conta em conta que se dá a volta de um rosário. É de borbulha em borbulha que o peixe vive num aquário. É de palavra em palavra que o poeta dá à luz um verso. É de estrela em estrela que caminha o universo.


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