Daniel Campos

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24/02/2013 - Doramento

Dói saber que a dor do mundo lhe corrói numa doração sem começo, sentido ou fundo. Dói não compreender a razão de se estar nessa vida a esperar por milagres, por surpresas ou pela própria morte. Dói estar aqui e a ali ao mesmo tempo e, na verdade, não estar em lugar algum. Dói ter os pés presos ao chão e a cabeça nas nuvens. Dói ver o tempo, com oportunidades e saudades na bagagem, passar e se perder da sua vista. Dói o florista passar direto por sua porta. Dói toda descrença. Dói saber que ninguém se importa com sua dor. Dói saber que se pode viver perfeitamente sua presença. Dói terem o amor como um vírus, uma cólera, uma doença.

Dói se pegar falando sozinho sobre assuntos que não interessam a outros seres, encantados ou não. Dói estar aquém das pedras, dos bichos, dos nichos de estrelas. Dói ser um pescador de promessas, colocando o próprio coração na isca para fisgar alguma ilusão. Dói dizer tudo bem quando está tudo mal. Dói olhar para o espelho e não se encontrar no próprio reflexo. Dói dizer adeus para tantos sonhos ainda não realizados. Dói saber que deus não está aí para passar a mão na cabeça de ninguém. Dói ter uma estrada fechada. Dói não ter remédio, não ter consolo, não ter saída. Dói ter as asas quebradas. Dói ter a imaginação refém da realidade.


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