Daniel Campos

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01/07/2008 - Durvinha "quebrou o rei"

Nos anos 20 e 30 do século passado, um grupo de justiceiros ou, melhor, cangaceiros, assombrava o nordeste brasileiro. Era época de Lampião e Maria Bonita, a versão sertaneja de Romeu e Julieta. Mas atrás das duas estrelas do cangaço, vinha um bando de causar medo em qualquer valentão. Juntos, eram paixão e destruição. Se uma vila negasse dinheiro ou, comida ou, apoio, ou fosse lá o que queriam, botavam para quebrar. Os cangaceiros seqüestravam crianças, incendiavam fazendas, matavam rebanhos, estupravam, assassinavam e torturavam. Se fossem atendidos em suas reivindicações, organizavam bailes e davam parte do que roubaram para a população local.

Essa onda de pavor durou até 1938, quando quarenta soldados, em uma emboscada, mataram Lampião, Maria Bonita e mais 10 integrantes do bando. Poucos conseguiram fugir. Entre os sobreviventes, Jovina Maria da Conceição. Durvinha, como era conhecida a cunhada do rei do cangaço, ajudou Lampião a incendiar o Sertão. Mas depois que o mestre morreu, ela fugiu pela caatinga até encontrar Minas Gerais, onde viveu anônima por quase 70 anos fazendo e vendendo farinha. Em 2005 contou sua história para os filhos que revelaram seu segredo. Ah! Seu marido, Virgílio, morreu em um combate ainda no nordeste. Mas ela não perdeu tempo e se casou com Moreno, outro integrante do bando, que diz ter matado vinte soldados só no Ceará.

Mas a morte não se esqueceu de Durvinha. Apenas deu um tempo em consideração aos serviços prestados no passado. No último sábado, dia 28 de junho, como se diz na gíria do cangaço, a última dama do cangaço "quebrou o rei", ou seja, faleceu. Isso aos 94 anos de idade. Não foi nenhum soldado do antigo regime que matou Durvinha, mas um acidente vascular cerebral, o popular derrame. Sustentado por pernas fracas de 98 anos de idade, seu Moreno foi se despedir da mulher guerreira ou, melhor, cangaceira. Durante o velório, debruçou sobre o rosto sofrido e forte de sua companheira e chorou um tempo de paixão e destruição que não volta mais.


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