Daniel Campos

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15/01/2011 - Falações sobre o amor

Éramos dois apaixonados entreolhados. Ambos amantes, convictos do mesmo fluido poético que alimenta o coração. Em longo flerte, entre afinidades e divergências casuais, ouvimos nossas vozes em uníssono: por que é que a saudade nasce antes e morre depois de um grande amor? Concluímos, resignados: que é o amor é utopia, quem falar o contrário pode ser apedrejado. Afinal, ninguém pode dizer que viveu o pleno de um amor sem antes ter seu amor de amar terminado. E amor que termina não é amor.

É claro que a saudade não é o capítulo mais importante de um romance, porém, sem dúvida alguma, é o mais presente e o mais marcante. É a saudade que costura os remendos do amor e de seus dividendos. O que acho questionável é que seja vendida ao mundo a idéia de final feliz. Amores felizes não têm final. E, por conseqüência, todo fim de amor é trágico, dramático, infeliz. Por isso que o romantismo está em decadência, pois foi cego pela ciência.

Guias, jornais e revistas não trabalham para perpetuar o amor, mas para desfazê-lo cultuando lugares comuns. Será que a saudade pode, por si só, segurar a reputação de um amor? Até pode mantê-lo vivo – em alguns casos, deve mesmo mantê-lo vivo. O que não se pode é, em nome dela, tratar certos sentimentos como algo que já não é mais. No entanto e, entretanto, nada impede que em nome da saudade do que já foi vivido intensamente se louve o amor presente, glorificando suas glórias.

É preciso valorizar o passado e os símbolos que permeiam o amor. Mas não se esqueça de que isso é diferente de eternizar amores que já caíram nos braços da saudade.


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