Daniel Campos

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08/02/2012 - Mulher flor

Certas palavras da criatura amada são capazes de desenhar orquídeas no ar, bem como impregnar o perfume dessas flores no vento. A boca dessa mulher é como uma crônica-buquê, com palavras florescendo entre pétalas e espinhos. São versos rosas, tulipas de prosas e um palavreado digno de jardins europeus. Há um lirismo de lírios pelos seus atos. São lábios tecidos pelo melhor da safra do algodão. É um palavreado miúdo, possível, envolvente. Sentidos dóceis como as flores do campo.

A mulher amada é flor que se atiça, imaginação que se inebria, amante que entrega seu pólen ao ser que ama. O tempo dessa mulher é tão incerto quão o tempo da germinação de um amor. Um tempo ausente, mas sempre presente, que se alastra como erva daninha e nos enche de surpresa. As cores se dissipam, os formatos mudam, o cheiro se recria ainda mais intenso e vibrante.

Os “sim” e “não” da mulher amada são as pétalas que forrarão nossa cama. Muito cuidado com essas pétalas, pois enquanto algumas acalentam, outras espinham. A mulher amada enfeita, inspira, provoca suspiros e gemidos, mas também gritos de dor. A primavera, assim como a beleza e pureza, dói fundo na alma. A intensidade da criatura amada machuca, molesta e medra o ser que a ama.

Dores à parte, é válido destacar que a mulher amada não está presa num vaso ou num canteiro, mas caminha pelas ruas e abre as pétalas, em curvatura de asas, pelo céu.


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