Daniel Campos

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06/07/2011 - Mulher melódica

Milímetro a milímetro, um novo pedaço de mulher desponta à medida que o silêncio é quebrado por suspiros, sussurros e gemidos. Violinos e pianos vão despindo-a a cada nota. É um desbravamento rítmico e totalmente melódico que vai absorvendo seus tons vivos e pastéis, seu equilíbrio, sua suavidade. Ora ela se mostra em meio ao som do vento ora em uma algazarra de gaivotas. Ela tem faces de bossa, feições de valsa, expressões de jazz, variações de blues, manhas de bolero e um chorinho sincopado.

Os acordes vão revelando os cartões postais da tal mulher num ângulo obtuso e profundo que olhar algum é capaz de enquadrar. Anjos e demônios disputam a regência da orquestra que a controla. Poetas, atores, políticos, pintores, magnatas são levados pela cadência dessa mulher cujo corpo ora é sombra ora é luz; ora canta ora cala; ora é canção ora é aplauso; ora é pausa ora é pulso. Essa mulher faz do seu coração um palco e da sua vida uma contínua apresentação a si mesma, desconsiderando público e crítica.

A música, que seduz e provoca, vai transformando seu corpo em uma natureza renascentista e perfumada, com direto a mares de uma aquarela de azuis, montanhas virgens, vegetação delicada e corais coloridos. Linha a linha, o som da criação vai permitindo que uma determinada partitura se transforme em carne. E então, num sopro de lirismo, entre vozes altas e fartas e desenhos de sóis entre lençóis, ela vai se compondo, se dispondo e se recompondo ao compasso que vai sendo cantada.


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