Daniel Campos

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11/09/2011 - Mulher paisagem

Olhos coloridos como chita. Destinos trançados como vime. Boca de cumbuca. Sentimentos artesanais. Mulher dos vilarejos, dos beijos naturais. Suas costas são como falésias, desafiadoras, solitárias e assassinas. Mulher de olhares chuvosos, alma forte e corpo sinuoso. Tem um bafo úmido de calor, como se estivesse em febre constante. Mas, pelos seus cabelos, reina um vento noroeste que tem efeito de refresco de caju com três pedras de gelo.

Mulher das aventuras e do sossego. Mulher do agito, do grito, da paquera. Mulher de um quê bonito e de um querer de fera. Mulher da natureza, da franqueza, da era das águas. Mulher da contemplação, da solidão, das mágoas. Mulher das provas, das trovas, das covas. Mulher, lua alaranjada, nua de suas anáguas, subindo por entre o lilás e o azul escuro da noite. Mulher do açoite, do coiote, do trote. Mulher das ruelas e da areia fofa, sem endereço e sem luz elétrica. Mulher sagrada e cética.

Mulher, esperança escaldante, de uma dança alucinante. Mulher de pernas e ar, de pernas para o ar, de pernas no ar, de pernas de ar. Mulher que passa no ritmo das águas do rio, ora vagarosa, ora cheia, ora rasa, ora correnteza. Mulher de bangalôs, de estradinhas, de fagulhas, agulhas e linhas. Mulher cravejada de estrelas, que extrapola os espelhos. Mulher de coqueiros e conchas, de saudades e tonalidades, de verde claro e azul turquesa. Mulher de difícil acesso e de permanente regresso.


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