Daniel Campos

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07/04/2016 - Na casa do duque

Era um batuque. Era uma sinfonia. Era uma bagunça noite e dia. Na casa do duque era bem isso o que se fazia. Era Tião criando confusão. Era Ana caindo na cama. Era Clara catando feijão. Era Zequinha no acordeão. E Mariazinha no reco-reco. Bárbara ficava de xaveco com o coronel. E Beto botava a cuíca para gemer. Beatriz jurava que era feliz e queria porque queria fazer ali mesmo no sofá a sua lua de mel. Bia era gata e malicia. Era caso de polícia. Era um espaço de desejo, de antirealidade e de muito festejo. Tinha amor de toda idade. E, ali, beijo não tinha data de validade. O amor era tratado como samba, como muamba, como banda. E por mais que tudo fosse incerto, tudo dava certo, tudo era completo. Na casa do duque, muque não tinha vez. Ali a língua era o ovo de indez. A língua falada, a língua tocada, a língua trocada. Era uma quizomba, cada festa de arromba. Marinho queria Guiomar, que se enrabichava pros lados do Gaspar, que quando botava sua camisa cor-de-vinho falava aos ouvidos de Lia, que não sabia como disfarçar o seu amor por Guiomar, que deixava Marinho pelo caminho em nome desse amor desenfreado por Gaspar, que não se fazia de rogado e cego caía nos decotes de Lia, que tudo via e nada podia. Era um quiproquó que dava enredo, mas que muitas vezes morria ali em segredo. Era um batuque. Era uma sinfonia. Era uma bagunça noite e dia. Na casa do duque era bem isso o que se fazia.


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