Daniel Campos

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23/11/2012 - O axé de Joaquim Barbosa

Ir à cerimônia de posse de Joaquim Barbosa foi como ter ido ao redescobrimento do Brasil. Um país sem máscara, sem vergonha de ser o que é, assumido e feliz. O Salão Branco do Supremo Tribunal Federal nunca foi tão negro. Como foi bom ver a mais alta corte do país com a cara do Brasil. A negritude de Lázaro Ramos, de Milton Gonçalves, de Djavan, de Martinho da Vila, de Hamilton de Holanda traduzia o sentimento de festa. Entre homens de terno e mulheres de tailleur, uma senhora negra com as roupas de santo totalmente inserida na carga simbólica daquele momento. Impossível ficar indiferente ao clima instaurado por aquela arquitetura de Oscar Niemeyer. Depois do axé trazido por Joaquim Barbosa, a certeza de que o Supremo nunca mais será o mesmo.

Eu, ali, com os pés nesse nosso Brasil, na condição de plateia, de aplauso, de abraço. Eu, no meio do todo, como parte de um novo começo. Pela expressão, até a presidenta Dilma Rousseff sentiu a zoar da África que entrou, depois de uma eternidade, pela porta da frente do Palácio para se instalar no lugar mais alto. Os olhos de orgulho da mãe de Joaquim, dona Benedita Gomes, diziam tanto na simplicidade de seu silêncio. Mérito, mérito, mérito, essa é a palavra que traduz Joaquim Barbosa. Saindo do STF, o céu azul de Brasília cedeu espaço para nuvens negras, que choravam de felicidade. Uma chuva fina, com gosto de superação, de realização, de libertação. Enquanto caminhava pela chuva, lembrava das palavras que falei ao ouvido de Joaquim durante o abraço:

- Que durante sua gestão, o STF seja como o Oxê de Xangô.

Joaquim riu como quem diz: “pode deixar”.

Que Joaquim, feito o Oxê, o machado duplo de dois cortes laterais de Xangô, consiga fazer com que o Supremo Tribunal Federal corte todas as desigualdades que insistem em se colocar no caminho da Justiça.


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