Daniel Campos

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28/11/2013 - O espelho e a Branca de Neve

E foi então que o espelho se apaixonou pela Branca de Neve, desejando que ela mergulhasse mais e mais seus olhos nele. Ah! Como ele queria ser seu príncipe, mas era só um espelho. E, numa magia ainda não sabida, ele colecionava todas as expressões e belezas da Branca de Neve. No entanto, não havia mais onde guardar aquela beleza infinita, que a cada dia se mostrava mais e mais bela. Era beleza demais até mesmo para um espelho encantado. Ainda mais porque a Branca de Neve conseguia ser ela e outras personagens de conto-de-fada, como Cinderela, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho...

Ah, como aquele espelho, naquela falta de braços físicos, queria abraçá-la. Queria tê-la junto para todo o sempre, ser parte de um final feliz possível. Ele chegava a ficar bobo refletindo alguns e aprisionando outros traços daquela princesa que além de caminhar em sua direção falava com ele “Espelho, Espelho Meu”... Aqueles cabelos iluminados, aquela boca colorida, aqueles olhos amadeirados – sim os olhos exalavam perfume, e aquele rosto perfeito em sua feminilidade deixavam marcas naquele coração espelhado, que vivia para refletir o raio e os raios luminosos daquela criatura.

E ele, o espelho, tinha enorme prazer em dizer que em todo reino não havia ninguém mais bela do que Branca de Neve. Ele queria poder dizer “eu te amo”, “eu te quero”, “fica comigo”... mas ele não podia, pois era apenas um espelho. E ela precisa mais do que um espelho falante, do que um espelho mágico. Ela precisava de alguém que pudesse lhe levar nos braços pelo reino afora. E ele era frágil demais, podia quebrar ao defendê-la de cavaleiros ou monstros. Por isso, mantinha esse amor escondido. Não importava em se ferir com isso desde que não ferisse Branca de Neve.

Mas, como sempre tem que haver um “mas” nessas histórias, Branca de Neve, num dia de muita tristeza, chorando por assuntos internos, pediu que o espelho a confortasse dizendo, repetidas vezes, que não existia mesmo ninguém mais linda que ela. E ele disse, redisse e voltou a dizer até ficar rouco. Ela se alegrou e, em agradecimento, aproximou-se mais do que de costume e beijou sua superfície de um jeito lento e profundo. O espelho sentiu aquele beijo e se entregou as suas consequências. Desde aquele dia, nunca mais conseguiu refletir nada passando apenas a repetir aquele beijo.

Dizem que o amor cega, e, de fato, aquele espelho fechou para sempre seus olhos à realidade passando a viver, reviver, e tornar a viver de seu sonho.


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