Daniel Campos

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28/05/2015 - O íntimo e o ínfimo

Quem disse que eu preciso de tudo isso para viver, para ser alguém ou ser feliz? Eu já me desfiz dos meus discos, cds e vinis, mas Chico, Tom, Bethânia, Cartola e outros tantos mais ainda seguem comigo. Doei meus livros, obras inteiras de Drummond, de Pessoa e Vinícius, mas eles continuam impregnados em mim como vícios. Distribui meus sapatos, caixas e mais caixas, pois não tenho pés suficientes para realizá-los e por aí hão de encontrar alguém para amá-los para além de apertos e calos. Rasguei e queimei álbuns e mais álbuns de fotografias, pois as lembranças como poesias vivem em minhas andanças. Eu fui me desapegando das crianças que brincavam em meus labirintos e hoje nem jovem nem adulto nem velho eu me sinto. Sou só o que sou, nada aquém nada além. Como as cigarras, deixei tantas cascas presas pelas árvores do tempo. Como camelão, mudei de cor, mas não mudei de sentimento. Sonhos se perderam, se realizaram, se conformaram, se esqueceram... Um sorriso precisa ir embora para outro chegar. Desisti de ter uma coleção de obras de arte, pois muitas vezes é melhor ter a parte ao invés do todo. Os pés que não pisam os céus nunca deixam o lodo. E a fé me revela que o senhor tem seu templo em meu íntimo. A acumulação do que quer que for nos faz ínfimo. O que você não usou hoje, alguém poderia ter usado. Liberte de si tudo o que precisa ser libertado.


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