Daniel Campos

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22/03/2012 - Paisagem pitoresca

Casinhas com quintais de terra e abacateiros ao fundo. Abacateiros verdes, grandes como não existem mais. Um romance anda por estradinhas em ziguezague. Um vira-lata latindo pra ninguém. O vento faz dançar o capim dourado ao mesmo tempo em que traz ecos da montanha de pedra. A saudade é quente e úmida. Os desejos são esticados na janela em feitio de cobertas. Um cavaleiro galopa por vielas estreitas e alongadas.

Na beira dos caminhos há flores e pedras. Dizem até mesmo que são as pedras que florescem. Histórias não faltam. Lendas então... A cana sangra cachaça. Até o vento tem sotaque. O lugarejo acolhe e embala. Tudo ali tem tempero incomum. As lembranças grudam nas paredes como lagartixas. Há um tilintar de prece pelo ar. O sol tem cor de caco de telha. Ali, a linha que separa os mundos não é imaginária.

Até o orvalho tem um quê de mistério. As almas dos habitantes daquelas casinhas trazem doses de vinho, luz e doces. Tudo por ali acorda lentamente. As nuvens formam verdadeiras muralhas no peito do céu. A paisagem provoca um arrepio bom. A lua surge a pino antes do anoitecer. Há plumas e brumas. Os portões - se existissem portões naquelas redondezas - estariam sempre abertos como abraços convidativos.

Por entre aquelas casinhas o único congestionamento que existe é dos pensamentos. Ali, os pensamentos se proliferam e andam pra lá e pra cá. Cenário de fotos e encontros. Tudo conduz ao encantamento. Há uma leva de saudades encravadas por aquelas encostas. O café sobe meio fumegante pela torre da capela que fica mais ao alto. Ali, até mesmo as estrelas descem do salto e caminham descalças pela relva.


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