Daniel Campos

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23/07/2013 - Pé de joaninha

Os olhos se pintaram de lágrimas quando a menina encontrou uma joaninha morta na beira de um vaso. Era daquelas vermelhas com pintinhas pretas que ela estava acostumada a ver somente nos desenhos animados da televisão. Colocou o bichinho na mão, ainda com receio dele se mexer. Ela queria que a joaninha ainda estivesse viva, porém, ao mesmo tempo, arrepiava-se só de pensar naquele inseto andando pela sua mão. Para tristeza ou alívio da menina, o milagre não aconteceu e a joaninha continuou morta, sendo velada pelos olhos pintados de luto.

Quem poderia tê-la matado uma vez que ela não era de fazer mal a ninguém? Por que morrera bem ali, na borda de um vaso de espinhos e não no leito de uma flor cheirosa? O que seria de seu corpo, já um tanto desbotado pela falta de vida e pelo excesso de sol? Eram tantas dúvidas que ela não pensou duas vezes antes de correr pelo quintal com uma pá pequenina e um mini-regador. Foi para um lado, para outro e, quando certa de que ali era o local ideal, abriu um buraco, enterrando a joaninha no meio do gramado, com olhos de esperança.

Ao contrário dos enterros comuns, ela cobriu o corpo da joaninha de terra e regou o túmulo, com olhos de contentamento, pois não via a hora do seu trabalho dar resultado. Sim, porque ela esperava que ali nascesse um pé de joaninha. Se existem pés de jabuticaba, de pitanga, de azedinha, por que não poderia nascer um pé de joaninha. Seus olhos brilhavam ao imaginar uma árvore frondosa, repleta daquelas joaninhas vermelhas de pintinhas pretas. Seria a sensação da rua, da escola, do bairro todo. Meninos e meninas disputariam um pouco da sombra das joaninhas. E assim ela foi crescendo, regando aquela cova, com olhos de fantasia.


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