Daniel Campos

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16/08/2011 - Sacolas de memórias

Atravessei os últimos dias com sacolas carregadas de memórias. O viço bom das histórias que insistem em viver após o ponto final. Sob o pretexto de amar, pedaços de sorrisos e silêncios, de súbitos e pausas, de suspiros e desfechos vão se colando, formando assim um só corpo. No caminho, cheiros, sons e texturas me alcançam. Sabores aconchegantes me conduzem numa barca de sonhos e medos pela água da boca.

As cores do que é verde e maduro se contrastando na composição de um cenário que mistura sequências de futuros e pretéritos. Lembranças aromatizadas. Tardes matizadas. Temperos em movimento. Afetos meticulosos sob o mesmo teto. O teto da imaginação. Ilusões inéditas e usadas, novas e quebradas, reformadas e inutilizadas esperando para nascer, para morrer, para renascer ao mínimo toque da vara de condão da esperança.

As memórias pesam nas sacolas. Os braços envergam. As pernas tremem. O suor corta o rosto num fio de sal. Sigo, em frente ou em círculos, prossigo. Desafio mapas e calendários. Onde ou quando estou? Contento-me em saber que estive, estou, estarei para além de mim. Se chover saudade não me faltará comida. Se vingar a solidão não me faltará companhia. A decomposição das minhas memórias aduba a minha fantasia.


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