Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
10/03/2012 - Sansão ganhou o céu dos cachorros

Sem você não há mais sentido passar na padaria. Para quem eu vou dar pão cedinho? Não acredito que não vou mais lhe ver correndo de olhos fechados pelo jardim em busca do seu pão. O quintal está num silêncio difícil de aceitar. Por que foi partir assim tão rápido? Ainda tínhamos tanto a viver, a correr, a cantar juntos. Lírico, uivava à lua. Místico, conversava toda meia-noite com criaturas invisíveis. Tinha algo de humano e de sobrenatural em sua existência canina.

Sansão, o nome do guerreiro com o qual foi batizado não combinava com você. Embora fosse grande, era frágil e medroso. O típico cão que ladra e não morde. E a força não estava em seus cabelos, mas em seu estômago. Comia de um tudo e sem parar, numa ânsia, numa intensidade, numa capacidade constante de se superar a cada prato. E tinha o coração maior que o mundo. Um solitário apaixonado pela vida e com uma insegurança de dar água nos olhos.

Sua partida precipitada criou-se um imenso vazio aqui em casa. É como se tivesse caído um meteoro e devastado tudo. Ao avançar o portão e ver seu corpo estático, caído debaixo do pé de citronela, causou uma dor sem medida. O cão que era uma mistura de pastor policial com husky siberiano tombou vítima de um câncer fulminante. Não houve tempo ou espaço para se fazer nada senão doer junto de você. Que no céu dos cachorros seus caminhos sejam feitos de pão.

Obrigado pela companhia e desculpa pela impotência diante da sua doença. Um dia a gente ainda se encontra...


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar