Daniel Campos

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Uma cidade em perigo

Chamem a tropa de choque, a força aérea, os agentes especiais. Chamem os recrutas e chamem os ladrões. Todos são necessários. Mogi-Mirim está tomada. Invadiram a cidade. Não, não é coisa dos sem-terra, tampouco dos extraterrestres. É um inimigo que chega em bando, canta sempre o mesmo hino e suga o sangue de quem encontrar pela frente. Vampiros? Quase. Pernilongos. Milhões deles.

Sem que ninguém os impedisse, os mosquitos se alastraram pela cidade com a fome dos exércitos medievais. Desde então, a rotina é a mesma. Enquanto o sol impera no céu, eles se escondem. Ficam invisíveis, protegidos em alguma sombra. Afinal, eles são guerreiros das sombras. Depois, a noite chega e eles atacam. Aquele barulho infernal nos ouvidos é o sinal de que a guerra está declarada. Voam pela casa como aviões norte-americanos sobre o Iraque. Por falar em EUA, avisem o Bush que em Mogi-Mirim há uma nova espécie de terroristas. Pernilongos terroristas. Se as autoridades municipais não conseguirem resolver o problema, eu sugiro que chamem o 007, o Exterminador do Futuro, o Marcos. Marcos? Aquele da novela das oito. Aquelas raquetes de tênis usadas pelo personagem de Dalton Vigh para bater na mulher seriam de grande utilidade na batalha contra os pernilongos.

Algum vereador deveria criar um projeto de lei que obrigasse à distribuição gratuita de mata-mosquitos para a população. Diante dessa guerra, é dever das autoridades armar e proteger a população civil. Afinal, a população é vítima. Vítima dos bueiros não pulverizados, dos terrenos baldios, das margens sujas dos rios-esgotos que cortam a cidade. São vítimas do descaso. E não é um caso isolado. É uma epidemia que infesta toda a cidade. Todo mundo reclama dos pernilongos. Eu desconfio que existam mais pernilongos em Mogi-Mirim do que chineses na China. Antes que a população se mate intoxicada com esses venenos em spray, alguém precisa tomar providências.

No próximo ano tem eleição municipal. Desde já, aviso que vou votar no candidato que apresentar a melhor política de combate aos pernilongos. É hora de mostrar serviço. O ideal seria ver um desses candidatos armados até os dentes combatendo esses insetos. Seria uma prova de consideração ao povo da cidade. Dias atrás, os jornais divulgaram que a Prefeitura faria uso do apagão. Mas cuidado, com a cidade às escuras os pernilongos podem reinar absolutos.

Os cidadãos já preocupados com tantos problemas merecem ao menos um boa-noite de sono. Mas os pernilongos lhe roubaram isso. A situação é grave. Imagine um serralheiro diante dos dentes da serra elétrica, um médico diante de uma cirurgia delicada, um estudante diante do exame final. Agora, imagine se eles, por um instante sequer, cochilarem. O estrago é terrível. São vidas humanas que estão em jogo. A ressaca de uma noite mal dormida pode ser pior do que a provocada por uma pinga qualquer.

Além dessa "ressaca", essas noites mal dormidas provocam um estresse coletivo. Pode ocorrer uma revolução por conta dos pernilongos. Isto é, se a população não desaparecer. Mogi-Mirim corre o risco de se transformar em uma cidade fantasma. Os moradores? Mortos. Envenenados e sem sangue. Leitor, eu estou sendo apocalíptico, mas alguém precisa fazer barulho em relação a esse problema. Hoje são os pernilongos. Se assim continuar, amanhã serão as baratas, depois os ratos, depois as cobras, depois os corvos...


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