Daniel Campos

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18/04/2017 - Passe de guardador a soltador

Imagine-se como um armário. Seu corpo é um amontoado de gavetas, prateleiras, divisões, caixas, vitrines e compartimentos secretos. Enxergue-se como um guardador.

Guardador de quê?

Sentimentos e Ressentimentos. Lembranças e esperanças. Medos e segredos. Preocupações e frustrações. Mágoas e águas passadas. Problemas e dilemas. Culpas e desculpas. Vergonhas e peçonhas. Raivas e travas. Amores e temores. Esperas e feras. Crenças e desavenças. Ensejos e desejos. Saudades e vontades.

Enfim, somos compartimentos ambulantes de vários guardados.
E como todo armário, temos a parte visível e a parte oculta. Sim, temos aquilo que está lá no fundo, quase perdido, praticamente esquecido, longe do nosso alcance, mas que continua guardado em nós.

E muitas vezes, isso que está oculto é responsável por nos atrasar, por nos atrapalhar, por nos adoecer. E nem damos conta disso simplesmente porque não lembramos mais que tais coisas ainda existem em nós. Somos displicentes com nossos guardados.

Culpas, vergonhas, ódios não desaparecem com o tempo. Continuam em nós causando estragos. E esse trio de energias destrutivas pode minar nossos sonhos, projetos, relacionamentos.

Algo que ficou mal resolvido dentro de você em uma relação amorosa passada pode comprometer todos os seus novos envolvimentos. E, ao contrário do que você possa pensar, o “x da questão” não está em uma situação atual, mas remota.

Por isso, nada de ficar guardando isso e aquilo dentro de você de qualquer jeito ou sem motivo.

Não adianta adiar ou fraquejar, é necessário limpar e organizar tudo o que você guarda. E não falo de uma limpeza superficial, mas de uma faxina profunda em seus compartimentos internos.

Anime-se e, então, faxine-se.

Esvazie suas prateleiras, suas gavetas, seus cabides...

E nessa limpeza pesada nada de apego. O que não serve mais, o que não tem mais utilidade, o que não te evolui... descarte.

Solte todo peso desnecessário.

Não tenha medo de deixar espaços vazios, pois é no vácuo que se dá a criação.

Se você está com a cabeça ocupada com pensamentos viciosos, com reclamações, com decepções, com lamentações, com o mesmo do mesmo... fatalmente não criará nada. A inspiração para escrever sua própria história, para resolver seus problemas, para viver sua vida da forma como sonha pode chegar até você e agir, mas precisa de espaço para isso.

E como liberar espaço? Com a prática do soltar.

Solte todas as ideias que não deram certo. Solte todos os erros, as falhas, os traumas. Solte suas inseguranças. Solte tudo o que já acabou. Solte o que não te pertence. Solte as peças que não se encaixam no seu quebra-cabeça. Solte as ancoras, as amarras, os nós, os laços, os lastros que impedem sua realização, sua transformação, sua evolução.

Não tenha medo de soltar tudo o que é inútil e contrário ao seu progresso, ao seu desenvolvimento, a sua iluminação.

Solte tudo o que você está a carregar à toa.

Não adianta guardar roupas de inverno se não faz mais frio. De nada te serve guardar um livro que você nunca vai ler. Para que guardar promessas que você não vai cumprir; só para se castigar depois? Então, por quê guardar o que você não vai usar?

Menos é mais.

Então, desapegue-se, liberte-se, desprenda-se do que não tem mais uso ou utilidade para você.

Faça uma faxina produtiva, intensa, sem esquecer de cantinho algum, pois sempre fica alguma coisa. E não é para ficar nada que não tem mais proveito. E nada de fazer vista grossa. Não fique com dó de jogar nada fora. Você não é lixeira para acumular lixo.

Solte tudo o que te faz adoecer, o que te faz infeliz, o que te impede de caminhar como deveria.

Solte os pedaços, as migalhas, as metades de quem quer que seja que traz consigo. Leve só o que te faz completo, inteiro, pleno.

Não tranque suas portas. Mantenha sua mente e seu coração abertos. Não tenha medo do que você guarda sumir, fugir, cair pelo caminho. Permita que o novo chegue. Novos amores, aprendizados, estímulos. Arrume espaço, destranque-se, crie condições para o novo chegar.

Passe de guardador a soltador, afinal, é mais realizado quem guarda uma pipa com medo de perdê-la ou quem a solta dando cada vez mais linha para ela voar alto?


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