Daniel Campos

O Castigador


2010 - Romance

Editora Auxiliadora

Resumo

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20/05/2010 - Capítulo 22

É preciso resistir

Sebastian chega trazendo sacolas de supermercado e uma orquídea lilás, a cor da espiritualidade e uma das preferidas de Malena. Reconhecendo os erros, tenta reconquistar a mulher resgatando aquele homem que foi se perdendo pelo caminho. Ele precisa se esforçar. Qualquer irritação sua ou deslize emocional dará ainda mais força aos espíritos ruins que querem se aproveitar de sua castigação. Segundo Valentina, não se pode quebrar o castigo, mas há meios de enfraquecê-lo.

Ele dá boa noite às crianças, remexe o cabelo de Tomás, beija a testa de Micaela, entrega chocolates e pede para Tita guardar um pote de sorvete. As crianças agradecem sem entender aquele comportamento. Há tempos Sebastian deixara de mimá-las. Queria mais se fechar num mundo particular junto de sua mulher. Acreditava que todos queriam tirá-la dele. E isso fez com que ele ficasse deveras amargo.

Ao presentear Malena com um beijo, ela se queixa de indisposição. Diz que seu corpo está fraco. Pede para que ela o acompanhe ao médico no dia seguinte. Está preocupada com sua saúde e com o bebê. Abraça-o forte e diz que não quer perder a criança. Que ela o ama muito e sabe o quanto ele será um bom pai. Ele pede para que ela se acalme e que não se preocupe, pois tudo vai dar certo.

Ele fica deitado com ela diante da televisão, falando coisas engraçadas na tentativa de fazê-la rir. Ela diz que se soubesse que ele ficaria leve desse jeito, teria ela mesma dado um jeito de afastá-lo do cargo. Sebastian ri envergonhado e ela logo se desculpa, afirmando que não tinha intenção de ofendê-lo. Ele diz que não há motivo para se desculpar. Ela estranha. Pois nos últimos dias o que ele mais sabia fazer era se chatear com tudo e todos.

Depois de conversarem de forma descontraída, ela cochila em seus braços. Valentina bate na porta, entra e diz que precisa conversar com ele. No corredor, ela conta irá, logo mais à noite, fazer uma corrente espiritual para enfraquecer aqueles que estão querendo seu castigo. Para isso, pede que ele tenha uma noite tranqüila. Que o clima bom em casa será de extrema importância. E que sabendo disso, os umbralinos tentarão deixá-lo nervoso a qualquer custo, inclusive atingindo outras pessoas, como Micaela.

Em seguida, diz que ele terá um papel importante essa noite. Que não é para comer muito e não dormir sem camisa. Além disso, precisa dormir de branco, de preferência com uma peça virgem. Ela vai levá-lo para conversar com sua avó, dona Soledad, tentar amansar seu coração. Essa seria uma forma de fazer Jhaver repensar no teor do castigo.

Só que ela adverte. Embora tratasse disso no mais completo sigilo, muitos já sabem o que irá fazer. Existe uma leva de espíritos que fica tentando descobrir nossos passos para nos anular. É uma verdadeira guerra.

Ele se diz disposto a ajudar e volta ao quarto. Malena ainda dorme. Está frágil. De repente, ainda de olhos fechados, ela aperta seu braço, o belisca. E uma voz diferente sai de sua boca. Uma voz que não combina em nada com o batom Vin Brulé que ela traz nos lábios:
- Você não perde por esperar. Não adianta ficar atrás de sua sogra. Ela é fraca. Já temos planos para ela.

Ao contrário de gritar, de desafiar o espírito, Sebastian se cala mentalizando coisas boas.

- Vai fingir que não me ouve, ex-promotor. Está tentando ficar calminho, não é. Isso não vai adiantar. Hoje, na hora do jantar, você vai ter uma surpresa.

Dito isso, o espírito vai embora e Malena acorda irritada, perguntando por que ele não contou que foi ao centro espírita. Ele desconversa, diz que foi procurar conselhos de sua mãe. Ela diz que quanto mais ele mente, mas ela o odeia. Ele tenta beijá-la e ela se esquiva. Tita bate na porta e os chama para o jantar. Eles descem sem se falar.

Na mesa, sogra, genro e filha se entreolham em silêncio. Atendendo ao pedido de Sebastian, Tita serve carne assada com batatas fritas, o prato preferido das crianças que estão no jardim conversando com um amigo em comum. O que era uma iniciativa louvável tornou-se um problema. Malena abusa:

- Está tentando comprar as crianças ou levar Micaela para a cama?

Valentina arregala os olhos, pede para que Sebastian permaneça calado. Ela o havia advertido sobre possíveis desarranjos. E tudo o que ela não precisa é de uma briga conjugal. Se dormirem brigados, as orações noturnas perderão força inviabilizando a ida ao celestial.

Como não obteve resposta, ela provoca mais:

- E agora essa troca de olhares, de segredinhos com minha mãe... Você não tem vergonha mesmo, não é Sebastian? Se meu pai tivesse vivo lhe daria uma lição...

Genro e sogra engolem as provocações.

Micaela e Tomás entram. A menina percebe o mal estar. Começam a comer. Sebastian tenta aliviar o clima elogiando a comida e o fato de estarem todos à mesa. No entanto, suas palavras, solitárias e sem resposta, morrem no ar.

Em pensamento, Valentina exige que os umbralinos se afastem de sua filha. Pede auxílio de espíritos amigos e faz uma oração para limpar o ambiente.

No entanto, eles jogam pesado. A porta se abre e Alícia acompanhada do filho e de Hernandez. Avisa que ele estava disposto a fazer as pazes, que se cansou das brigas e que pretende desistir do processo judicial que move contra a ex-mulher.

Sebastian tem o impulso de jogar o prato contra aqueles dois, mas algo segura seu braço. Ele sente algo lhe apertando. Mais tarde saberia que se tratava de um espírito de luz. Educadamente, ele se levanta, diz que vai para o quarto na intenção de que eles conversem melhor e deseja um bom jantar a todos. E ainda avisa para as crianças não esquecerem que tem sorvete no congelador.

Malena não aceita aquele Sebastian calmo e se irrita com sua falta de irritação. Alicia fica sem graça e logo tem pressa de se retirar. As crianças vendo a saia justa em que ficou o padrasto, também saem da mesa em direção aos seus devidos quartos. Valentina vai atrás de Alícia e diz que se ela continuar com esse comportamento perderá a mãe. Ela diz que, ao contrário da irmã, sempre paparicada, nunca teve mãe.

Hernandez e Malena ficam sozinhos. Com o mesmo charme barato e a inconveniência de sempre, ele senta à mesa e belisca algumas batatas. Ela se levanta, pede para que ele se retire, que não tem nada para conversar. Se ele quiser falar alguma coisa que procure seu advogado. O dançarino de tango sai e a paz parece voltar a reinar.

A atitude do promotor havia acabado com os planos dos umbralinos. Ou quase.

Ao entrar no quarto, o espírito que incorporou em Malena agarra o queixo de Sebastian e, fincando as unhas em seu rosto, ameaça:

- Como castigo por ter atrapalhado nossos planos com essa bondade, com essa calma, com essa gentileza toda nós prendemos aquele intrometido do seu avô. Agora vou deixá-lo aí pensando noite adentro nas maldades que ele virá a sofrer em nossas mãos.

Será ou não um blefe. É preciso contar isso para Valentina. Mas Malena volta a si ainda mais está nervosa:

- Que vermelhão é esse no seu rosto. Estava me traindo com quem?

Ele pega um terço e começa a rezar em silêncio. Malena endoidecida pelos umbralinos que alimentaram nela ódio e ciúme fala uma série de absurdos e, não contente, quebra imagens de São Miguel e de Nossa Senhora.

Sebastian permanece resignado e em oração. É assim que escuta uma voz lhe dizer mentalmente:

- Isso é mais uma de suas provas. Não reaja. Nós estamos aqui.

Insultos e mais insultos depois, Malena desiste e dorme, como que dopada. Depois de tanto estresse talvez fosse preciso dopar Sebastian também.

Aos prantos, ele se deita, com o terço enrolado na mão, entre os cacos dos santos.

Observação do autor: Atenção! Próximo capítulo: 25/5 (terça-feira). Até breve!


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