Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 9 de 28.

03/11/2008 - O gosto amargo de 1989

Há títulos que custam muito suor, muito talento, muita determinação, muita ousadia e muito dinheiro. No caso da decisão do campeonato de F-1, que vestiu de verde, amarelo e vermelho o circuito de Interlagos, as cifras roncaram tão alto quão os antigos motores V12 da Ferrari. Eu acompanho esta modalidade esportiva desde as primeiras corridas de Ayrton Senna e posso afirmar, com certeza, que algo não cheirou bem na última do GP Brasil. E esse fedor não foi de borracha queimada ou de motor estourado. ...
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O Gosto de uma época

Um vento forte e sem direção. Acordo numa espécie de transe. A vista confusa. O corpo meio zonzo. Caminho. Os meus passos seguem outros passos. Não sei se são passos desgarrados, se são passos guardados, eu só sei que são passos passados. Não me pergunte qual é ou era o mundo. Só sei que, está ali diante dos meus olhos. Os rastos ora mais fortes, ora mais fracos rabiscam a estrada. E lá vão os passos, e lá vai um tempo, e lá vou eu.

Por hora, caminho ao som de uma música. Não sei de onde vem, mas conforme caminho, ela, a música, fica mais próxima. É a minha única guia. Não vejo o cantor, mas deve estar usando colares, paletó de veludo e calça-boca-de-sino. A vida, como uma amante, remexe os seus calendários como quem remexe os guardados das gavetas. ...
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02/09/2008 - O governo dos peixes

Depois do combustível vegetal e do combate à pobreza, vem aí o governo dos peixes. Lula vai ceder seu posto presidencial ao Surubim, ao Matrinxã, ao Tambaqui? Se você pretende fisgar alguma coisa é bom não jogar a isca nessa hipótese. A peixada da vez é que a Secretaria da Pesca, que tem status de Ministério, anda investindo pesado na tal semana do peixe. O objetivo? Incentivar o aumento do consumo da carne branca. Mas há um paradoxo nisso tudo. Como obrigar o brasileiro a comer algo que está em franca extinção? ...
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01/08/2008 - O governo perde a voz

No dicionário da música, a expressão "a voz" é sinônimo de ninguém menos do que Frank Sinatra. Coincidências à parte, às vésperas do filho do astro norte-americano apresentar seu show em Brasília, o governo brasileiro perde a sua voz mais afinada. Gilberto Gil pediu demissão. O baiano suportou seis anos de Ministério da Cultura, lutando pela arte popular. Depois de sucessivas tentativas de se afastar, Gil deu o veredicto final. Por mais que Lula queira, ele não voltará para o bis.

Os palcos agradecem, mas como ficará o gogó do governo? Sem dúvida alguma, Gilberto Gil tinha a melhor voz da Esplanada dos Ministérios. No entanto, foi uma das que menos ecoaram nestes anos todos. Gostando ou não, a voz enrouquecida de Lula e a voz sisuda de Dilma Roussef são atualmente as que mais chegam aos ouvidos do público brasileiro. Para compor o trio de tenores do poder, eis que surge o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Embora seja o mais tímido, ele é responsável por um dos principais acordes, o Fi. Dó Ré Mi Fá Sol Lá Fi... Fi? Financeiro! Cantando em politiquês e economês, essas vozes estão longe da poesia de Gilberto Gil. ...
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23/12/2008 - O grito de Van Gogh

Há cento e vinte anos, Vincent Van Gogh, um dos pintores mais aclamados de todos os tempos, cortava parte da sua orelha esquerda. Loucura? Depressão? Arte? Há quem corte os pulsos, quem corte o pescoço, quem corte as genitálias, mas cortar a orelha? O que será que passou na cabeça do pós-impressionista? Se quisesse se matar, o pintor holandês certamente daria uma outra direção à lâmina. Talvez quisesse se castigar ou provar que poderia ir além de qualquer limite.

Não conseguiu ter família. Não conseguiu se sustentar. Não conseguiu ter amigos. Não conseguiu ver o sucesso de suas obras. Era como se em seu mundo, só houvesse ele de habitante. E nessa solidão, a orelha, que ouvia desaforos, o incomodava. Então, era melhor cortá-la. Mais de um século depois deste ato que mitifica ainda mais o seu universo, pense se dá ou não uma vontade de cortar as orelhas depois de ouvir as barbaridades políticas, econômicas, sociais e culturais a quais estamos expostos. ...
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27/07/2008 - O Guardião da Capela

Uma pequena capela. Uma pequena capela esbranquiçada. Uma pequena capela esbranquiçada culminando em uma torre pontiaguda. Uma pequena capela esbranquiçada culminando em uma torre pontiaguda onde mora um sino. Uma pequena capela esbranquiçada culminando em uma torre pontiaguda onde mora um sino que era badalado por um homem que gosta de repetir as frases.

A capela que guarda em seu altar uma senhora negra vestida com um manto e tendo em sua cabeça uma coroa, guarda também um senhor branco, sem manto ou coroa. Entre a fileira de pouco mais de 16 bancos de madeira, o homem que gosta de repetir a conversa já dita, por mania ou por pura poesia, dança. Como um perfeito cavalheiro, enlaça, em um bolero, uma vassoura daquelas que ele mesmo plantava, amarrava e vendia. Ele e a vassoura, dois pra lá, dois pra cá. Canelas magras, bigode perdido entre o negro e o branco e um Oriente no pulso, daqueles que funcionam com um simples chacoalhar do braço. Camisa de viscose de manga curta, feita por sua mulher, dona Ruth, que costurava pro gasto. A calça escorre acinzentada por suas pernas longas até desembocar em sua botina de solado de pneu. ...
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25/10/2012 - O homem

O homem para ter paz, faz a guerra. O homem para declarar o que sente, cala. O homem para se desenvolver, destrói. O homem para se encher de amor, enche de sofrimento aos corações alheio e ao seu. O homem para fazer um sonho, desfaz tantos outros. O homem para vencer, precisa derrotar. O homem para ter, dá. O homem para avançar, tem que voltar. O homem para lembrar, há de esquecer primeiro. O homem para amar, precisa se espantar. O homem para dar uma face, tem que negar a outra.

O homem para ter razão, pisa na cabeça de quem não lhe dá razão. O homem para apoiar, apoia-se. O homem para chegar à verdade, trilha uma estrada de mentiras. O homem para construir o que é seu, desmancha o que é do outro. O homem para estar, vai. O homem para dizer um sim, diz uma série de mil não. O homem para ser livre, necessita de estar preso ou de prender. O homem para se casar, faz a separação. O homem para enxergar, fecha os olhos. O homem para germinar, tem de primeiro morrer. ...
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04/10/2008 - O homem dos olhos vazios

Tinha o corpo alto, os olhos vazios e os braços longos. Sua magreza era de fome. E faminta era a solidão que mordia sua canela. Reza a lenda que ele pertencia à inteligência da polícia e, por amor, abandonou tudo. Ou melhor, por desamor, tudo lhe abandonou. Não era à toa que despertava medo, asco, náuseas e outros sentimentos não muito bem quistos em quem o via, o ouvia, o sentia. O mundo, diante daquela caricatura, fugia. Fugido do hospício de si mesmo, não hesitava em desmascarar a normalidade das coisas....
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02/03/2011 - O homem pó agora é cinzas

Estamos a uma semana de tudo virar cinzas. Deus disse que o homem retornaria ao pó, mas em virtude dos pecados ou de algum outro desvio, tem retornado à cinza. O homem feito de terra dá lugar ao homem feito de brasa. O homem que acende como uma pira e queima sua existência de forma intensa e rápida. O homem queima sorrisos e esperanças, prantos e bonança. Queima uma vida cheia de destinos e caminhos num simples riscar de fósforo.

São homens e mulheres ardendo de amor ou de dor, numa rima tão barata quão quente. São criaturas possuídas pelo fogo do querer mais, do saber mais, do ter mais. E esse incêndio é contagiante como fogo em um palheiro. Uma multidão queimando por dentro suas angústias e expectativas. Queimando a inquietude de existir. Queimando sob o sol de verão e sob os pensamentos de plantão. Queimando sangue, carne e coração. ...
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22/08/2008 - O homem que sabe das coisas

Ele sabe das coisas. Não sei como consegue, mas as rodelas de abacaxi que vende são fartas de açúcar a ponto de provocar um coma profundo em que as devora. Um verdadeiro néctar saído daquela casca espinhosa. E como boa abelha que sou, trato logo de me afogar ali. Olhando assim, ninguém daria nada por aquele homem de barba por fazer. Mas ele é doutor em fruta madura. Como alquimista das frutas, vai misturando seus perfumes e oferecendo fragrâncias afrodisíacas ao nosso estômago.

Além do abacaxi, morangos escandalosamente vermelhos, mamões pequeninos, fatias sem semente de melancia e carnudas mexericas se expõem em sua banca modesta, como estrelas de cinema. E embora tenha todo esse glamour, as rodelas de abacaxi são espetadas com dois ou três palitos de dente. E o caldo escorre pela boca, pela mão, açucarando a pele. Do outro lado do balcão, o vendedor faz tudo com a cara séria. É de poucos sorrisos. Talvez a vida não lhe seja fácil. Talvez tenha que se concentrar para não errar na dose. Talvez não goste de abacaxi. ...
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