Daniel Campos

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Encontrados 372 textos. Exibindo página 4 de 38.

11/04/2016 - Além do talvez

Era para ser só mais uma vez. Porém, o talvez cansa mais do que a falta de sim. E então, fomos não. Cada um do seu jeito, terminando antes ou depois da hora, mas terminando o que foi começado para não acabar. É como enterrar uma parte de si mesmo. Amputar o próprio coração. E quantos são os partos da saudade durante um mesmo dia que parece durar uma eternidade? Impossível de contar. Difícil de mensurar, de dimensionar ou de redimensionar a dor que existe em tudo isso. Uma dor crônica e interminável. Os doentes de amor não são pacientes terminais, pois a dor do amor não finda. O despetalar da flor da vida entre mal e bem me quer jamais chega ao fim. É ilusão pensar que hoje o amor está completo. Nós somos, por natureza, seres incompletos. Nascidos para buscar o que deixamos para trás em outras passagens. E nessas buscas vamos nos perdendo. Nos perdendo tentando nos achar. ...
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06/04/2016 - A zebra, a girafa e o leão

Era uma zebra, uma girafa e um leão pelas montanhas do Quintilhão. A zebra listrava por onde passava. A girafa espiava por cima das nuvens o mundo que a rodeava. E quando leão urrava nada ficava como estava.

A zebra aprontava e ria como se fosse hiena. A girafa era sentimental e gostava de poema. O leão, leonino como só, achava a vastidão de Quintilhão pequena e queria conquistar outras cenas.

A zebra só comia besteira. A girafa não ficava de bobeira. E o leão dava uma canseira. A zebra não levava nada a sério. A girafa era de outro império. E o leão, queria um grande cemitério. A zebra chorava de rir, a girava meditava antes de dormir e o leão devorava aqui e ali....
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14/03/2016 - Acendendo as velas

Acenda as velas. Bota os veleiros no mar. O vento bate a cortina das janelas. Os olhos da moça pelos confins estão a velejar. Reza pros seus que eles hão de te ajudar. Nada de já acordar com três pedras de sal em cada olhar. O choro não te deixa enxergar o que te espera. Se tudo está seco, sem flor, sem vida, sem amor, não se desespere, já vem a primavera. Acendas as velas.


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11/03/2016 - A lenda de Juara

Juara é uma índia que aos 14 anos se apaixona por Ubirajá, um índio prisioneiro de uma tribo rival. Um amor proibido, pois ela, como filha do cacique, está prometida ao guerreiro Apoema. Ela se entrega a Ubirajá e fogem juntos. Na fuga, encontram o pajé no meio da mata, que profetiza o pior. Passam-se 13 anos. Juara vive com Ubirajá na cidade grande, num barraco. Ela trabalha como doméstica e ele, numa farinheira. Ubirajá é assassinado. Depois do funeral, Juara encontra uma jandaia dentro de seu barraco. Ela não entende como a ave foi parar ali, mas a adota. A ave tem comportamento estranho. Quer ficar grudada com Juara e agride seus amigos e qualquer homem que se aproxima dela. Ela começa a sonhar com o pajé dizendo que ela precisa voltar e com Ubirajá virando e desvirando a jandaia. Ela larga tudo e volta para a tribo. A jandaia vai junto. Na tribo é recebida com hostilidade e precisa lutar para reconquistar seu espaço. Descobre que Ubirajá havia voltado como jandaia para terminar a história deles, já que ele foi morto antes da hora. Apoema já está casado, mas ainda a quer como sua esposa, tanto que vence os duelos com outros índios por sua mão. Seu pai, o cacique, está muito doente e quer casar a filha antes de morrer. No dia do casamento com Apoema, por amor a Ubirajá, Juara se enche de penas e também se transforma numa jandaia voando pela floresta adentro.


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05/03/2016 - A mula que leva o tempo

A mula que leva o tempo em seus jacás nunca empaca. Ela vem com um passo firme e passa por onde nem imaginamos ser possível chegar. A mula ataca ribanceiras, ladeiras, precipícios, indícios de impossibilidade, de irredutibilidade e de irresponsabilidade. Atente ao que faz com o seu tempo. Tente viver entre o amanhã e a saudade de um jeito totalmente diferente. Avance e não canse com as pedras. A mula que leva o tempo em seus jacás há de seguir independentemente das tormentas, do que venta, cai e troveja. Veja que a direção aponta para frente. Toda semente jogada na terra um dia há de brotar. E quando esse dia raiar sementerá um novo velho sempre tempo. O tempo que está em todo lugar, no alto céu, no fundo mar, nos jacás da mula que o leva, no magnífico ventre da semente que rasga, parte, escapole da casca dura como uma dura certeza – de que o tempo virá em completa beleza e que ninguém o segura porque o tempo é correnteza que tudo carrega e ninguém sossega.


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25/02/2016 - A árvore e o vento

Impossível te esquecer, te apagar, não lembrar, não viver você. Está em meus pensamentos, pelos meus neurônios, indo pelos meus axônios, habitando as minhas partes e impregnando o meu todo. Seja como garotinha ou mulher, protagonista ou coadjuvante, marcante, você está lá no meio, bem no meio do meio, da minha cabeça. Está deslumbrante, estonteante, vibrante. Você me leva à frente e quando eu vou carrego você como o noivo carrega a sua noiva, como menino leva o coração da sua menina, como homem guarda as lembranças da sua mulher. Tudo o que eu faço tem uma digital sua. Tenho suas marcas em meu corpo, em minha alma, em minhas vidas. No que eu como, sonho, caminho, canto, falo, beijo, abraço, transo, voo, planto, leio, escrevo, toco, invoco, provoco está você. Em cada mordida, em cada arrepio, em cada música, em cada fantasia, em cada passo lá está você. Pode não acreditar, mas vive em mim de um jeito único e sagrado, sacramentado a cada fração de segundo. O meu mundo roda em torno do seu eixo, e se anda por tudo o que sou é porque eu deixo. Eu amo e não me esqueço. O perfume que eu uso, a roupa que eu visto, o retrato que eu vejo no espelho me trazem você. No meu querer, no meu ser, no meu fazer só dá você. Mesmo ausente fisicamente, você é plena e presente na minha história contínua. Meu romance, meu conto-de-fada, meu era uma vez que continua sendo mais e mais e mais uma vez. Tudo o que vivemos e o que não vivemos se casam em tantas variações e possibilidades. E se... e se.... e se... Tudo o que não aconteceu, acontece de um jeito ou de outro cá dentro. Há uma explosão de sentimento. E seu olhar, no fim do túnel, me traz o alento. Se eu ainda voo é porque conto com suas asas. Se eu ainda falo em casamento é porque tenho você unida em mim. Se eu ainda componho é porque proponho doses da sua poesia ao meu dia. Mulher. Menina. Anja. Colombina. Garota. Noiva. Musa. Amada. Estrada. Estrela. Princesa. Delicadeza. Tantas faces, qualidades e incertezas em uma mesma beleza. Face a face, você me olha e me tem. Corpo a corpo, o que somos um para o outro não se contém. E nessa mistura de saudades e expectativas, desejos e realidades, tenho você a todo o tempo, em qualquer lugar, no meu universo particular. Sou árvore verde e você o vento azul que chega e mata a minha sede, balança minhas folhas, entorta os meus galhos, dança pela minha copa, escorre pelo meu tronco, entra pelo meu oco, assovia e canta pelo meu interior. Chega ao meu coração e bebe da minha seiva fazendo-me florir e frutificar só para você, ventania, levar minhas flores e sabores que nunca deixei de te ofertar. Impossível te esquecer quando minhas raízes te buscam mundo adentro, quando minhas folhas escritas partem de mim tentando te encontrar. Impossível te esquecer quando estamos unidos pelos mistérios do verbo amar. E nessa verborragia toda que nasça e renasça a magia de sermos juntos numa espécie de pomar do paraíso, num quê de se apaixonar nunca perdido. Com ou sem juízo, o amor entre a árvore, enraizada na ilusão, e do vento, que varre a solidão, nunca estará esquecido.


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10/02/2016 - A moça da maré

A moça chegou cruzando pernas causando barulho de quem derruba toda a louça. Chamou a atenção, olhares e agitação. Provocou inveja, raiva e a imaginação. As pernas da moça como dois veleiros cruzando seus ventos num mar manso e traiçoeiro ao mesmo instante. E os beberrões foram bebendo por aquelas pernas, fazendo delas suas tabernas. E os ingênuos foram descobrindo formas pela arquitetura das pernas como se fossem gênios. Es os incrédulos com seus mundos pequenos encontraram credos profundos beirando à loucura. E o céu ficou pequeno para aquelas pernas de siri, de garça, de cegonha, que se recolhe, se encolhe e se esgarça cheia de graça. E nessa movimentação, a maré enche e vaza, as ondas se agigantam, os mares da solidão cantam, e a imensidão extravasa.


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10/01/2016 - A chuva chega, vem, chama, cai...

A chuva chega e se aconchega em nossos corpos nos trazendo a alegria dos porcos rolando na lama e o intimismo dos amantes se confessando na cama.

A chuva vem e traz também os perfumes dos anjos que cheiram a mato e flor num arranjo de frescor que enche de ardume o coração, que bate encharcado de paixão.

A chuva chama todos os sentidos a se expandirem e dos olhos aos ouvidos tudo fica mais amplo, mais tanto, com mais encanto e inflama em nós o desejo de não sermos sós. ...
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08/01/2016 - A viagem da fantasia

Quem nunca sonhou em fazer o gol do campeonato? Quem nunca quis salvar a garota mais linda da sala? Quem nunca se imaginou no meio de um palco com todos os holofotes voltados para você? Quem nunca saiu do cinema querendo ter ficado na tela, numa história que podia ser sua? Quem nunca fantasiou a vida que atire a primeira pedra. Fantasiar é viajar para onde, de fato, se quer ir. Não importa se tem dinheiro para passagem, se a viagem é longa, se você pode deixar as crianças, o trabalho, a casa, o seu amor... Que seja tudo pela fantasia tomando o coração como guia.


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27/11/2015 - Avôs doutores

Meus dois avôs não tinham nem o primário. Aliás, pouco foram à escola. Trocaram os livros pela enxada. Os dois sabiam ler com dificuldade e assinavam o nome. No entanto, eram dois homens que tinham um conhecimento sem explicação. Liberato tinha olhos topógrafos que colocava qualquer cerca, por mais comprida que fosse, no enquadramento exato. Meu avô media terrenos a passadas, esquadrava linhas exatas, milimetricamente falando, numa engenharia que me deixava boquiaberto. Era preciso no que fazia. Uma mistura de entendimentos milenares e futuristas que fugiam a minha compreensão. Antônio era exímio relojoeiro sem nunca ter tido uma relojoaria nem aprendido a profissão por meio de curso algum. Eu me admirava de vê-lo desmontando e consertando aqueles relógios de bolso num impressionante minimalismo. Um inventor, que se fascinava por ferramentas e parafusos. Ambos conheciam a fundo uma matemática que eu, com anos e anos de estudo, não consegui dominar. Também eram mestres em literatura e história, pois contavam causos ricos em detalhes, indo do classicismo ao romantismo, do barroco ao contemporâneo, com extrema facilidade. Causos que me ensinaram muito, tanto em matéria de composição literária e histórica quanto no que diz respeito ao estilo. Ambos colocavam amor em suas prosas e poesias. Aliás, botavam paixão em tudo o que faziam. Conhecedores da geografia das coisas, da biologia do universo, da química da vida... Sabiam prever o tempo observando a lua, o vento, os bichos... Sabiam da arquitetura que envolvia uma dança de catira e da afinação de uma viola... Engenheiros, sabiam com quantos paus se faz uma canoa e com quantas fiadas de tijolo se ergue uma parede... Falavam muitas línguas, a dos pássaros, do fogo, do tempo, das águas, dos bois de carro... Entendiam de folhas, raízes, frutos, enfim, da natureza como poucos porque simplesmente eram parte integrante dela. Por essas e outras que eu acredito em outros planos astrais, pois o conhecimento desses dois não se limitava a uma existência. Tenho certeza de que Liberato continua fazendo suas plantações geométricas e Antônio segue envolvido com as engrenagens do tempo. ...
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