Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 25 de 26.

Poeta da areia

O dia surge numa ausência sempre notada. Os caminhos se esparramam como desertos e toda aquela areia se remoí dentro de uma apertada ampulheta. Vejo caminhos nas alucinações que eu mesmo crio só para que eu possa continuar a caminhar. Seria tão bom se voltasse, mas devo seguir com uma mínima dose de lucidez. Mesmo que seja a mínima da mínima dose possível.

Às vezes, tenho e me detenho à nítida impressão que o tempo me prega algumas peças. Estou distante, longe, numa perspectiva praticamente impossível. Ao mesmo momento, parece que foi ontem. E mesmo passando os dias, parece que foi ontem. Ontem que nos deixamos, não porque queria, mas porque chega um momento que é preciso desdar as mãos. Um momento em que só permanece o que é realmente forte. E no momento decisivo, você não foi forte. Tempos depois, continuamos vivos. Mesmo com todo o deserto, não acabou....
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Pombal

São dezenas. São centenas. São milhares de pombos. Pombos do ar, da cidade, das migalhas. Pombos que infestam as praças. Pombos que se assentam nos fios da eletricidade. Pombos brancos, pombos pretos, pombos acinzentados, pombos esverdeados, pombos machados, pombos mesclados, pombos riscados, pombos sujos e imundos, pombos contagiosos e epidêmicos. Pombos que comem grãos, frutas, sementes e lixo. Pombos de coco verde e mal cheiroso que tingem o asfalto, as camisas dos executivos que passam e os cabelos das moças que namoram no meio da rua....
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Ponte

A noite manchara os lábios de uísque e os delírios corriam à solta. Diante dos olhos, o horizonte de uma ponte na seminudez de três arcos de concreto. De uma ponta a outra da cidade, a ponte se lançava sobre um lago que era mais escuro do que a própria morte. Um lago de águas calmas, aquietadas como se uma lembrança na escuridão do esquecimento. Os pés tocam a ponte sem maiores pretensões. De repente, como se o vento encontrasse a brisa no meio da ponte, ela se encontra com um espelho. Ela vem com os saltos salpicando a ponte. Fuma uma fumaça fina e joga as cinzas do cigarro no lago. E nem se preocupa se queima as cristas daquelas águas negras. ...
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Por detrás da fantasia

Fim de tarde. A folha de papel em branco parece não querer me dizer nada além de coisas já ditas. As nuvens, ao contrário das cores tradicionais que reza o fim do ano, vestem-se de negro. A caneta tem dificuldade em desenhar as letras. Tantas lembranças se misturam as expectativas, que também são tantas. O texto nasce devagar, regado à chuva e bossa nova, na sede de buscar o ser humano que existe em cada um de nós e que anda meio esquecido.

Dizem que há uma certa magia no ar. Os quatro ventos nos alimentam com mensagens bonitas. Os olhos se enchem de panetones, presentes, leitoas, corais, perus, luzes, cumprimentos, cartões, sinos, vitrines, pinheiros, neve, orações, estrelas, enfim, é natal. ...
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Por mais que doa, a primavera vem aí

A primavera vem aí! Por mais que doa, ela virá. Por mais que doa, nascerão as flores. Por mais que doa, os tons serão coloridos. Por mais que doa, ela não se vestirá de flores negras. Por mais que doa, a primavera e seus amores. Por mais que doa, as flores estarão nos jardins, nas praças, nas mãos de tantas namoradas. Por mais que doa, entre cores, perfumes e texturas existirá um sabor de saudade. Por mais que doa, a esperança, tímida e assustada, estará escondida em algum lugar desse tempo chamado primavera. ...
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Por onde anda a esperança?

Eleições. Política no café da manhã, no almoço, no jantar e em todos os intervalos imagináveis. Televisão, rádio, internet, jornais, revistas e um assunto em comum: eleições. Debates, horário eleitoral, entrevistas, pesquisas, agendas e dá-lhe candidatos. Candidato foi não sei onde, almoçou com não sei quem, vestiu uma gravata tal... Nós também somos candidatos. Candidatos a sobreviventes nessa tempestade de propaganda. Eu gosto de política, mas nem sempre existe política nesses momentos eleitorais. ...
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Por onde anda a liberdade?

O céu escuro ganha riscos. Riscos finos e coloridos. E não são riscos de cometas apressados ou, de fenômenos sobrenaturais ou de fogos de artifício perdidos no tempo. O céu escuro, coberto por efeitos especiais (aqueles que se costuma encontrar nos cinemas), vê-se cortado por mísseis. Mísseis que, infelizmente, deixam o mundo da ficção.

Enquanto o céu escuro é violentado, soldados marcham sem se perguntarem pela razão daquela marcha. Soldados marcham e crianças perguntam por seus pais. Soldados marcham e crianças deixam de ser crianças. Soldados marcham e crianças se encolhem num canto, não menos escuro, diante do medo das explosões que se fazem lá fora. ...
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Pormaiores

Por onde anda aquela lua que nos olhava cansada? Por onde anda o silêncio que varria nossas bocas? Independentemente da primavera, por onde andam as flores? Por onde andam os tantos sonhos? Será que andam esquecidos? Será que andam guardados? Será que andam abandonados? Seja lá como andam, andam calados. Por onde andam os sorrisos? A boca traz um gosto amargo, um gosto de saudade. Por onde andam as conversas? Por onde andam nossos destinos? Eu não sei dos amanhãs, mas as lembranças caminham pelos caminhos do meu corpo. Por onde andam os primeiros pássaros? Por onde andam aquelas expectativas? Por onde andam as ruas escuras? Por onde anda o até amanhã? Por onde anda aquele sol que era motivo de reclamações? Por onde andam os pormaiores neste universo de pormenores?


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Presente

A luz do abajur se espalha cansada. Os olhares não sabem se ficam nos ponteiros vagarosos do relógio ou nas bordas do horizonte escuro. Na verdade, ficam nas tantas coisas que ficaram e não eram para ficar. Uma sede de amanhecer. De se encontrar com o novo. Mesmo que o novo se resuma a uma folha de calendário. Não importa. A possibilidade de se livrar desse tempo presente traz-me um certo alívio. Aos pés da cama, alguns frascos de remédio. Calmantes. As doses aumentam, noite a noite, mas de pouco valem. O corpo parece hipnotizado, tomado por uma espécie de insônia. Os discos são os mesmos da noite anterior. As páginas dos livros são as mesmas de anteontem. Até os passos que riscam o piso são os mesmos de duas ou três semanas atrás. Não se sabe mais se é calor, ou febre ou qualquer coisa que faça mal. Perdi a conta das vezes que o corpo entrou debaixo do chuveiro. Mas até a água parece ser a mesma das vezes passadas. Não existe nenhum sentimento novo rondando no ar. Até os olhares são os mesmos. Os mesmo olhares nascem em outros olhares como um filme que não valeu. Mas quem sabe, quando o dia amanhecer, o mundo seja diferente. Quem sabe, quando o dia amanhecer, a luz invada o útero daquele velho mundo e fecunde ali, outros sonhos, outros sabores, outros tempos.


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Previsões

Um dia, não sei há quanto tempo distante de mim, a mulher do poema estará solitária em casa. Estará à vontade, vestida de pés descalços e uma calça qualquer. Sozinha, do verbo solidão, divorciada ou à espera de um marido. Por quem espera pouco importa, em qual cidade, sob qual motivo... Não sei. Profetizo apenas que ela estará em seu quarto abrindo e vasculhando gavetas à procura de não sei o quê. Talvez buscasse algo tão irrelevante que nem valha a pena descobrir. Procurará as voltas com uma ansiedade já conhecida. ...
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