Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 5 de 27.

27/03/2010 - Sassá e Tieta

Quando chega por volta das seis horas da manhã, no fundo da campina, um cocoricar ajuda a descortinar o negro manto da noite. O sol vai clareando aos poucos os poucos já de pé enquanto aquele galo pequeno, mas bastante invocado, dá seu recado cocoricando insistentemente. Como Peter Pan, ele não vai crescer mais. Só que ao contrário do menino das histórias infantis, Sassá Mutema não voa. Dá uns pulinhos, mas não chega a bicar os céus. Mas para que tanta cantoria?

Para anunciar o novo dia? Para despertar os dorminhocos? Para fazer bonito para Tieta? Tieta? Tieta é a galinha por qual Sassá suspira e canta apaixonado. Ela é negra, toda arrumada nas penas. Ele, meio índio, vai do azulado ao branco em seus poucos centímetros de altura. Desde que chegou ao quintal lá de casa, o casal de garnisé deu início a um encontro de telenovelas. Com a licença de Lauro César Muniz e Aguinaldo Silva, Sassá e Tieta, entre bicos e esporas, vão enredando seu romance....
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31/07/2012 - Saudação às mulheres africanas

Aplaudo as mulheres africanas aplaudindo as Yabás e Obirinxás (orixás femininos). Eparrei Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Salubá Nanã, deusa da lama e do fundo dos rios. Ore Yeyé ô Oxum, a bela das belas. Odo Iyá Iemanjá, mãe de todos os orixás, senhora do mar e dos oceanos. Obá Xirê, deusa guerreira. Ri Ró Ewá, dona da beleza virginal e dos mistérios mais elevados. Que essas divindades intercedam pelas mulheres que sofrem com a guerra e com a fome no Continente Negro.

Que hoje, em especial, as mulheres africanas possam contar com a fertilidade de Nanã, com as águas doces de Oxum, com a maternidade de Iemanjá, com a coragem de Obá, com a luz dos raios de Iansã, com a vidência de Ewá. Chuva e prosperidade, paz e riqueza, determinação e fé. Que as Yabás e Obirinxás tragam um mundo novo mundo às filhas, mães e esposas africanas. Que a realidade, sempre tão hostil, receba as encantarias dessas deusas que, como pisaram aquele solo no corpo de mulheres de rara beleza e de muita luta. ...
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10/08/2011 - Saudade alpina

E de tudo ao meu amor-perfeito serei saudade. De tê-la num estribilho pelos passeios de trem nos trilhos da serra serei saudade. De ter lábios alheios aos meus nas notas finais de um chocolate quente serei saudade. De tê-la pelas ruas estreitas pisando nos meus passos serei saudade. De ter olhares de lã me envolvendo em meadas de linhas e geadas e vinhas serei saudade. De tê-la canção em lareiras e ladeiras e beiras de estação serei saudade.

De mergulhar meu corpo ao dela como numa panela de fondue serei saudade. De tê-la entre camadas e camadas de coberta serei saudade. De suas palavras levadas pela canção de Jobim serei saudade. E de tudo ao meu amor-perfeito serei saudade. De tê-la entre o branco e o rosa das cerejeiras serei saudade. De um tempo que passa de charrete sob as minhas janelas serei saudade. De tê-la sem juízo num sorriso alpino serei saudade. ...
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22/06/2014 - Saudade caipira

A saudade canta rangida como um carro de boi. A saudade se esparrama como ramas depois da chuva. A saudade fecha como tempo em tarde de temporal. A saudade balança como cavaleiro no lombo do animal. A saudade ronca como trator em marcha pesada arrastando grades pela terra selvagem. A saudade assovia como vento solto pelo estradão. A saudade mancha por dentro e por fora como amora. A saudade aperta como caju. A saudade caleja como mãos no cabo da enxada. A saudade orvalha os olhos de quem sente. A saudade esquenta como fogão de lenha. A saudade respinga como casa sem forro em dia de chuva. A saudade chicoteia como cavalo xucro. A saudade é locomotiva puxando tantos e quantos vagões de lembranças. A saudade troveja e faz clarão. A saudade escorre como água de mina. A saudade afia como corte de canivete amolado na pedra. A saudade madura como fruta no pé. A saudade vai fundo, e mais que mais fundo, como raiz. A saudade dá arrepio como causo de assombração. A saudade é estação sem trem. A saudade estala como fogueira ao luar. A saudade valsa como pés que se põem a rodar. A saudade corta como capim napier. A saudade dá fisgada como peixe que morde sem morder a isca. A saudade é como a galinha que mesmo sem ovos continua choca. A saudade chora como leite na pele verde do mamão. A saudade vai encorpando como uma boa polenta. A saudade é visível e invisível e por isso engana como teia de aranha. A saudade é o cisco que não quer sair do olho. A saudade rói até a lua no céu. A saudade açucara o que temos de mais doce. A saudade é boiada estourada. A saudade nos trança com mãos de saci. A saudade pinica como folha de milho. A saudade faísca como casco na pedra. A saudade espinha como arroz-do-diabo. A saudade ponteia o que não terminou.


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15/10/2013 - Saudade Calopsita

Ela se foi sem dizer. Não ouvi seus gritos de dor ou de perdão. Ninguém sabe o horário exato que ela arrumou as malas e partiu. Será que foi loucura? Será que foi tontura? Por que foi que ela caiu? Ela se foi sem ir. Caída no chão do quarto, encolhida e sem vida, vestida para casar. Não conseguiu ser mãe ou amante, foi só mulher de dois casamentos. Sem sorte no amor, Paola, um marido morto, um marido ao vento.

Ela se foi sem querer. E já há alguém cantando sua falta num canto lírico. E já há alguém investigando sua partida repentina. E já há alguém a comparando com um lírio – lindo e breve. Ainda não descobriram quais foram suas últimas palavras. O viúvo endoidou... Será que finge tanto amor? Ela é lembrada de tantos jeitos e formas. E por todos os lados palpita uma saudade calopsita – doce e selvagem ao mesmo tempo.


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06/08/2009 - Saudade de Marilene nº 1

Sentir saudade é ter uma faca apontada para o pescoço. Entre o passado e o presente, qualquer movimento mais brusco pode ser fatal. A vida com saudade é extremamente vinculada ao tempo presente. O que passou virou saudade e o que virá não aumenta nem diminui a saudade. Por isso, a saudade é permanente, afiada e corta mais do que faca de açougueiro. Pode pedir, pode suplicar, pode ajoelhar, pode rezar, pode chorar, pode negociar com o destino, com a vida, com o tempo, com os deuses... chova ou faça sol, a faca continuará roçando seu pescoço. Não é à toa que dizem que saudade mata. E eu já estou quase morrendo. ...
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07/08/2009 - Saudade de Marilene nº 2

Eu queria fazer café com coisas para você. Eu queria alimentar os seus pássaros. Eu queria fechar a casa para lhe poupar do frio e do pó. Eu queria massagear seu corpo. Eu queria uivar em seus ouvidos como lobo inebriado pela lua. Eu queria carregar sua bolsa e entrar em sua bolsa feito canguru. Eu queria contar as contas de uva que seus lábios contam. Eu queria fazer sua comida, naquele tempero que você gosta. Eu queria estar ao alcance dos seus braços. Eu queria ser seu travesseiro por mais essa noite. Pelos santos óleos, eu queria dizer eu te amo olhos nos olhos. ...
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08/08/2009 - Saudade de Marilene nº 3

Pode anotar, saudade é dor que nunca terá cura. É o mal dos tempos. Pior, é o mal dos apaixonados. Como ficar longe da criatura amada sem que altas doses de sofrimento invadam mente e coração? Ao lembrar dos beijos, o vento frio da solidão roça e parte os lábios em mil pedaços. Ao lembrar dos abraços, a vida faz questão de gritar em seus ouvidos que o mundo ao seu redor é um grande deserto. Ao lembrar da amada, os pensamentos entram em curto. Curto-circuito. É isso, a saudade é uma espécie de curto-circuito que danifica o corpo físico, mental e espiritual....
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08/12/2014 - Saudade de temporizar

Ando com saudade do tempo em que eu tinha tempo para pensar no tempo. Tempo bom que ficou no tempo. Tempo que não volta. Tempo que não se cota. Tempo que dia a dia se esgota. Tempo que o tempo não devolve. Tempo que o próprio tempo absorve. Tempo que não se importa com nós. Tempo que nos deixa a sós no tempo. Tempo que dá e desdá nós em nosso sentimento. Tempo marrento. Tempo birrento. Tempo lamento. Tempo sofrimento. Tempo algoz. Tempo passando pelos ilhós do tempo. Tempo, tempo, tempo carregado de tempo, temporal, temporação, temporamento, temporatura, temporão... Ando com saudade do tempo que eu tinha tempo de temporizar.


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27/01/2015 - Saudade desfeita

E, de repente, eu me vi nos braços da senhora novamente. Aquele mesmo sorriso forte, sem mostrar dos dentes, mas numa profunda felicidade estampada nos lábios contraídos de emoção. As linhas de sua face, como nos nossos reencontros depois de muito tempo, tremiam. Seus olhos tentavam capturar o máximo de mim. Como se diz por aí, nem piscava. E quando me aproximei ela abriu os braços e num silêncio arrebatador, fui pra seu colo. Não falamos nada por um período de tempo que não dá para contabilizar. E nosso silêncio disse tudo o que precisava ser dito. As energias se manifestaram e a saudade foi desfeita.


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