Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 256 de 320.

04/09/2011 - Refeição literária

Amanheceu e não tomou o café da manhã de costume. Torradas, sucos, geléias, pães, frutas ficaram sobre a mesa. Intocáveis. Estava sem fome. Ao menos, sem fome de comida. Ao menos, daquele tipo de comida. Sua mulher estranhou. Ofereceu-lhe então ovos mexidos, bolos de cenoura, pães de mel. Ele torceu o nariz. Estava entojado daquelas iguarias. Ela ainda tentou mais uma vez: champanhe? O não veio como num estouro de rolha, alto e seco.

A filha, aproveitando da situação, sugeriu que o pai pedisse uma pizza. Ele riu e saiu da mesa às pressas. Pegou um paletó e saiu dizendo que ia comprar comida. A esposa não entendeu nada e a filha lamentou a falta da pizza. Horas depois chegou com sacolas e mais sacolas. Mas não eram sacolas de supermercado com legumes, verduras, carnes, frios, enlatados supérfluos... Eram sacolas de livrarias. Pelo menos cinco delas. Nem sinal de comida. ...
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05/06/2016 - Refeito na terra

Hoje eu acordei colocando o pé na terra, conectando-me a tudo o que eu sou. Com bom caipira minha lira é carro de boi, minha viola é enluarada e dou oi pra passarada que faz festa no ribeirão. A mata me inspira, me fortalece e me vira do avesso, fazendo-me ainda mais coração. Meu endereço é um pé de jabuticaba e minha mulher amada é a ventania que me beija com seu hálito fresco todo dia.

Manchei a boca de amora, pequei com as pitangas e deitei pelas sementes como se meu corpo fosse linha para as miçangas. Veio uma carroça para me levar pra roça mas eu preferi ir nas asas de uma sabiá. Vi só deus sabe o que eu vi lá de cima, a doce lima virou limão. Bebi água de nascente, entreguei meu coração para água corrente, pintei-me de urucum e jurei que mal algum me tomba daqui pra frente. ...
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03/02/2013 - Refestelo

Vento minguante. Sol raso. Sonho moído. Trem de polvilho. Canto mudo. Boneca de barro. Noite febria. Coração de água. Pétalas farpadas. Nós de pirata. Pés suspensos. Palavras viradas. Promessa de barriga. Pássaro de chão. Fruta raiada. Bolo de lençóis. Menina ferina. Trovão azul. Barco torto. Chuva de baixo pra cima. Estrela oca. Índio negro. Ramas de lampião.

Vontade amolada. Nuvem invernada. Poeira de assombração. Sapo de pedra. Linha do destino. Sapato de fuligem. Casa de concha. Adeus no começo. Mulher quebranto. Braseiro de ideias. Morte arrependida. Buquê de pirilampo. Pecado de santo. Segredos de gaveta. Retalhos de superstição. Trova em réstia. Enredo de passaredo. Paixão urucum.


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22/06/2016 - Reflexão: o melhor a ser feito!

Somos formados por duas energias – positiva e negativa. Por isso, travamos um conflito interior diário com direito a ataques de riso e crises de choro inexplicáveis. E não há como ser diferente sendo compostos por duas forças tão distintas. Nossa grande batalha é buscar o equilíbrio, a harmonia, a paz em nosso íntimo. Não podemos desistir, cansar, ignorar esse duelo, pois nós somos o produto dessa luta. Se alimentarmos as forças negativas seremos dúvida, tristeza, arrependimento, frustração, desânimo, ira... já se alimentarmos o outro lado, a tendência é nos tornarmos pessoas melhores, mais conscientes e evoluídas, prontas para receber aquilo que nos cabe, prontas para aceitar o que nos destina, realizadas no amor....
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04/11/2015 - Reflexões noturnas

Escuro. Escuridão. Sombras. Assombração. Relampeja. E me veja. Troveja. E me beija. Dá-lhe arruda. E me gruda. E me acuda. Chova. E me mova. Ilumina. E me sina. E me alucina. Minha menina. Clareia. Claridade. Clarão. Tempestade. Noite. Borrão. Açoite. Bicho-papão. Cama. Drama. Clama. Por Deus. Pela luz. Pelo breu. Para, continua, valeu. Lampião. Lamparina. Vela. Aquarela. Minha bela. Eclipse. Disse-me-disse. Desassossego. Sol negro. Estrela. Centelha. Friagem. Estiagem. Miragem. Time. Je t’aime. Bobagem... ...
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28/06/2011 - Reflexões sobre a felicidade

O problema da felicidade é que ela acaba quando começa a tomar corpo. Ela não se apresenta ao som de trombetas e termina quando o desenvolvimento começa a ficar interessante. É a fábula da irrealidade. Nós a buscamos pela vida afora, dia após dia, e quando a encontramos não sabemos bem o que fazer com ela, já que não existe da maneira que pensávamos. A felicidade não é palpável, prevista, manipulável. Ela é nuvem. Cada dia está com um formato, com uma textura, com uma cor, com um ritmo...
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22/04/2014 - Regência íntima

O amor me rege da primeira à última hora do dia. Sou do signo da paixão. Meu mapa astral é nascido do ventre da lua cheia. Falo a língua das estrelas. As ciganas se emocionam quando nas minhas linhas do coração. Minhas previsões são líricas. Meu ascendente é a fantasia que oscila do carnal ao astral numa simbiose perfeita. Um anjo me confessou que a minha sinastria amorosa com minha bem amada é fora do normal. Minha posição astronômica ideal é quando estou imerso nos braços de quem amo. Recebo meu horóscopo da boca que me leva ao espaço. Meus aspectos planetários ficam à flor da pele quando perto da pele que traz tatuagens subcutâneas do cosmos que me forma. E querendo ou não o universo conflui para a conjunção do poeta e da poesia.


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Registro civil

- Em que posso ajudar?

- Eu queria registrar meu filho.

- Você é o pai?

- Sou sim senhor?

- Parabéns, mas não me parece muito contente.

- É... Eu tenho dó dele.

- Desculpe-me, mas ele tem algum problema, não é sadio?

- Tem não seu moço. É um menino forte, encorpado, lindo.

- Então?

- Eu tenho pena é do futuro dele. Agora que ele tá mamando tá tudo bem, mas daqui um tempo a mué fica sem leite e ele já vai começar a chorá de fome. Sabe, eu tenho um empreguinho, mas é coisa pouca, depois com o tempo, já vai precisá de remédio, médico, brinquedo, roupa e essas coisas todas. Depois não sei se ele vai conseguir estudo, se vai arranjá emprego, se vai tê onde morar, se vai tê dinheiro para sustentá seu filho......
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03/04/2016 - Rei do coração

O rei passou por aqui, o rei bebeu por aqui, o rei espiou por ali e jogou sua coroa no mar. O rei não quis mais reinar. O rei deixou aposentos reais, riquezas e banquetes. Trocou tudo por um ramalhete vivo que o fez redivivo. Ela tinha olhos de matagal, e não pertencia às casas de Espalha, Catalunha ou Portugal. Ela não era de sangue azul, mas de sangue verde. Um sangue que vertia em seus olhos, em sua alma, em suas esperanças. E o rei perdeu a cabeça por essa criança. Abandonou mantos, cetros, mulheres, filhos, conselhos, exércitos, muralhas pelo coração. Tornou-se o amante de um amor que se vingou. O rei que tanto fez chorar, chorou. O rei que tanto traiu, foi traído pela própria ilusão. O rei que tanto mandou, obedeceu. E mesmo aos farrapos, o rei dizia valeu trocar a linhagem pela apaixonagem.


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30/03/2010 - Rei dos sem reinos

Quando a noite chegar, vou-me embora. Vou-me embora para um reino sem rei. Chega de duelar, de trabalhar, de matar dragões. Chega de ser plebeu de brasão. Chega de escutar histórias de feiticeiros. Chega de viver de masmorra em masmorra. Chega de guerra e de guerrear. Chega de távolas redondas, quadradas ou triangulares. Chega de coroas e cetros dizendo para eu fazer isto e aquilo. Chega de calabouços. Chega de forjar espadas nos ossos da morte. Chega de, no meio do caminho, haver sempre um rei de pedra. ...
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