Daniel Campos

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Encontrados 200 textos. Exibindo página 4 de 20.

06/09/2015 - Meu pé de mamão

Nasceu um pé de mamão no meu quintal. Cadê minha mãe pra fazer doce dele ainda verde? Cadê a viola para eu compor uma moda na sombra do mamoeiro? Sai pra lá sabiá pra você não ficar preso no visgo do leite do mamão. A molecada sobe no pé pra fazer a folha de canudo pras bolinhas de sabão. Tem passarinho bicando o mamão amarelinho pra desespero da moça que queria comê-lo no café da manhã de amanhã. Até o vizinho deu pra esticar o olho pro lado do mamoeiro. Tem gente gritando: olha o ladrão, pega o ladrão! Por precaução, amarrei meu vira-lata no pé de mamão. Deu chuva de vento, deu trovoada e o cachorro chorou, como choro de mamão, e derrubou o pé acabando de uma vez com o motivo da confusão.


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31/08/2015 - Mapa coração

Já nos esquecemos de tantos momentos que não eram para ficar. Já deixamos tantos de nós mesmos pela estrada alongada a ponto de nos perder de vista. Já contamos tantos segredos que hoje não importam a mais ninguém. Já não alcançamos mais com nossos braços longos muitos daqueles que juramos manter perto de nós. Já nos doemos tanto que hoje estamos anestesiados pelo tempo a ponto de poder pisar nos cacos de nossas fantasias sem mais se machucar. Já nos desapaixonamos tanto mesmo sabendo que precisamos nos (re)apaixonar várias vezes ao dia. Já criamos tantas e quantas rotinas mesmo sabendo que o mapa da vida é o coração.


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04/08/2015 - Matança

Matar um leão não lhe fará rei. Matar um sabiá não lhe dará asas. Matar um tucunaré não impedirá que o rio continue a correr. Matar uma mangueira não lhe trará frutos. Matar um ipê não lhe colorirá. Matar uma seringueira não lhe enraizará. Matar uma abelha não lhe levará às flores. Matar uma cegonha causará abortos nada espontâneos. Matar um elefante não culminará num coração de marfim. Matar um macaco não ocasionará graça alguma. Matar um lobo não calará dentro de você o uivo. Matar uma cobra não lhe santificará. Matar um cisne não lhe embelezará. Matar uma amoreira não lhe adoçará, apenas lhe manchará como todas as mortes que lhe matam a própria sorte. ...
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25/07/2015 - Matas de Pai João

Matas verdes. Matas fechadas. Matas iluminadas. Matas encantadas. Matas frondosas. Matas virgens. Matas nativas. Matas abundantes. Matas belas. Matas formosas. Matas cheias de vida. Matas dos espíritos. Matas divinas. Matas floridas. Matas dos frutos. Matas perfumadas. Matas profundas. Matas saudáveis. Matas afáveis. Matas fortalezas. Matas refúgios. Matas firmes. Matas intensas. Matas ricas. Matas resplandecentes. Matas envolventes. Matas de passaredo. Matas presentes. Matas de alívio. Matas atemporais. Matas aclaradas. Matas nascentes. Matas guardiãs. Matas enluaradas. Matas selvagens. Matas intuitivas. Matas crescentes. Matas de energia. Matas em movimento. Matas de Pai João.


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24/07/2015 - Muitos

Eu era um, era dois, era oito, era mil, era cem, era vinte, era eu. E eu era você e eu nem sabia nem você. Eu era também aquele, aquela, aquilo. Eu era a nuvem, o poeta, a serpente e o esquilo. Eu era o marmelo, o rastelo, o caramelo, o martelo. Eu era o menino, o destino, a menina, a sina. Eu era o antes e o depois e o agora num só. Eu era tanto e tantos. Eu era o santo e o encanto e o quebranto. Eu era o sabiá, o angorá, o tamanduá. Eu era o nó, o só, o pó. Eu era isso, isto, planta, gente, pedra e bicho. Eu era deus e era eu e era seu e o que me deu. Eu era inteiro, fora e dentro, visão e cheiro, último e primeiro. Eu era o conhecido e o proibido, o lembrado e o esquecido, o mocinho e o bandido. Eu era gênesis e apocalipse em linhas casadas, em poesias misturadas, homem na mulher amada.


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22/07/2015 - Meus cantores

Milton nascente nascido nascença Nascimento. Gilberto braseiro brasileiro brasil Gil. Chico Buarque de angola, de luanda, de Hollanda. Paulinho do violão, da cuíca, da Viola. Martinho do bairro, do morro, da praia, da Vila. João bossa nova Gilberto. Edu lua uivo Lobo. Tom mata atlântica Jobim. Nara leoa leonina Leão. Zé rama trama chama Ramalho. Vinícius vícios amoritíssimos de Moraes. Ney bosque selva mato Matogrosso. Raul trem das sete Seixas. Caetano arcano Veloso. Elis feliz Regina. Beth mangueira ipê angico Carvalho. Clara claridade Nunes. Clementina dos santos dos orixás de Jesus.


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30/06/2015 - Mais do ser só

O cupido parece ter indeferido meu pedido. O curió canta, canta, canta a tristeza de ser só. Nuvem sozinha não faz tempestade tal e qual um único galo não faz rinha. Uma corda não configura um violão. Quem disse que a primavera é casada com o verão? O que as ondas do mar vêm buscar? O astronauta, na carência do espaço, tenta trazer estrelas no laço. Sem musa não há poeta. São precisos dois corações para fazer-se um amor completo.


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09/06/2015 - Malandragem

Malandro é o sol que não toma chuva para não entrar em curto. Malandra é a formiga que anda em fila para não causar intriga. Malandra é a cigarra que abandona a casca do passado para ir leve ao futuro. Malandra é a árvore que se desapega de folhas, frutos, sementes, flores, galhas e continua árvore. Malandro é o rio que corre sempre para frente. Malandra é a morte que não se revela para continuar surpreendente. Malandro é o beija-flor que dorme em pleno voo. Malandra é a abelha que se lambuza de mel. Malandra é a estrela que continua existindo como luz por muito tempo mesmo depois de seu fim. Malandra é a ostra que se fecha para o mundo em busca de sua pérola interior. Malandro é o pardal que anda aos pulos. Malandro é o astronauta que vive com a cabeça em Marte, em Saturno, na lua... Malandro é o vento que sopra sem cumprir itinerário. Malandro é o João-de-Barro que não mora de aluguel, tampouco financia sua casa própria. Malandra é a vida que no seu espetáculo diário guarda em sigilo absoluto as próximas cenas.


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05/05/2015 - Meu pai, ó veja só...

Meu pai, ó veja só, deixa eu lhe mostrar a nova de Caetano. Entre um verso e um universo, vou lhe falar dos meus planos. E quando Caetano parar de girar na vitrola não chora nem vá embora pois vou colocar para rodar o piano do maestro soberano que tal e qual você a gente ama e se chama Antônio Carlos. Ó veja só, um é Jobim, passarim; Outro é rato, Ratz. Antes do fim, vamos por partes. Aqui ou em Marte a gente se encontra por meio da arte. Que tal algumas páginas de um poeta português. Ou será que a pedida do dia são os quadrinhos de um certo gaulês. Asterix, Obelix, Ideiafix. E quando tudo se acalmar que tal o repique da bateria da nossa verde-rosa. Olha pai, meu pai, lá vem Cartola puxando a nossa escola que é vizinha da azul e branco de Paulinho da Viola. Música para gente não é de araque. Somos de tirar acordes da manga feito Mandraque. No nosso dicionário Manda-Chuva é um gato, a página dois da Folha é um porta-retrato e Chico Buarque é rei de direito e de fato. Meu pai, ó veja só, descobri um disco da Clementina com Adoniran agora pela manhã enquanto você estava na banca comprando Tio Patinhas. E viva a vida hoje tem arroz com carne-moída. E antes de pegar a estrada, aceito uma dose de Vinícius, uma pedra de Drummond, mais um som do nosso Tom e uma fatia de marmelada ou uma colher de abóbora bem apurada.


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31/01/2015 - Minhas saudações

Minhas saudações ao povo do alto. Minhas saudações a quem não é do asfalto. Minhas saudações a quem se doa sem pedir nada em troca. Minhas saudações para quem é de fazer tudo pro outro como se fizesse para si mesmo. Minhas saudações para quem é da oca. Minhas saudações para o que não se explica. Minhas saudações para o que descomplica. Minhas saudações para quem não se deixa os sonhos a esmo. Minhas saudações para as almas que brilham. Minhas saudações para nossas raízes ancestrais. Minhas saudações aos nobres casais que amam demais. Minhas saudações aos que adiante trilham. Minhas saudações aos que estendem a mão. Minhas saudações aos que enxergam para além de toda e qualquer escuridão. Minhas saudações aos anjos do mato, do mar, das cachoeiras... Minhas saudações a quem trabalha e não fica de bobeira. Minhas saudações aos mestres do ar. Minhas saudações a quem vai perseguindo o que é amar.


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