Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 238 de 320.

06/06/2013 - Porta-retratos

O vento sopra frio lá pela baixada do rio chegando a fazer arrepio. O dia amanhece nublado e já esquece o passado enquanto o sol que não aquece passa ao lado. A estada esburacada coleciona água parada, gente machucada, cara fechada. O cupido que volta alto está terminantemente proibido de flechar o salto daquela que acha que pode, de fato, andar sem flertar, sem se apaixonar, sem se casar. Cuidado, a ilusão pode trazer saudade ao coração que se tortura de realidade.

É tempo perdido a babá do tempo ensinar o beabá a quem não sabe amar. O palhaço que não faz rir é igual bandido que não sabe fugir. A roda gigante é o paraíso do amante e a montanha russa o inferno para quem tem costume de dizer nem que a vaca tussa. O trem, de estação em estação, é como o refrão da canção que serpenteia pelo estradão. O florista é aquele equilibrista que caminha em passo pequenino na corda bamba entre pétalas, espinhos e taças de vinho. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

18/01/2010 - Porta-Retratos à moda Romero Britto

No primeiro dos porta-retratos ele tem os cabelos azuis, uma pinta roxa na bochecha e toca violão com uma mão de quatro dedos lilás. Ela, ao seu lado, tem cabelos louros tingidos de bolas alaranjadas, com mechas azuis e rosas listradas de pink. Ela também tem uma pinta violeta na bochecha e lábios de uva em forma de “v”. Ambos têm os olhos cerrados e um clima de romance no ar.

Já no segundo porta-retrato, ela tem um corte chanel em seu cabelo azul de listras, círculos e losangos. Ela tem uma face branca e outra rosa e ele, uma branca e outra azul. Ela tem um braço amarelo e ele, um alaranjado com roxo. Ele veste azul celeste e ela azul marinho. Ele tem uma faixa no cabelo e um sorriso sério. Ela tem uma mão dele em suas costas e um olhar secreto. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

07/05/2016 - Portas

Quantas portas você deixou abertas? Quantas você ainda pretende fechar? Portas só podem ficar abertas se por elas ainda for passar. Cuidado com portas encostadas, entreabertas, esquecidas porque por elas podem entrar o que você não espera. Quando for passar de uma porta para outra, certifique que a última está fechada, trancada, lacrada. No labirinto da vida, quanto mais portas abertas, mais chances terá de se perder. Você só conseguirá viver o futuro além-porta por inteiro se essa porta que você deixou estiver cumprida como uma espécie de missão, que não pode ser deixada incompleta nem mesmo por um novo coração. Só haverá amanhã se as portas do ontem estiverem fechadas, porque senão tudo se mistura gerando uma involução. Fecha as portas, com a certeza de que você já a cumpriu, e siga em busca de novas portas, pois um rio nunca volta.


Comentar Seja o primeiro a comentar

17/02/2015 - Portela campeã

Respeitosamente, o mangueirense aqui abaixa o seu chapéu reverenciando a águia redentora ao tempo em que vai declarando Portela campeã do carnaval. Salve a majestade do samba, a maior das vencedoras, a carioca da gema, numa aquarela azul e branco, direto de Madureira, Portela, Portela, Portela... Do baluarte Paulinho da Viola ao verde-rosa Tom Jobim, o Rio passa pela janela da passarela foliã como arte viva, altiva Portela, da nobreza à favela, cidade-samba tão bela, Portela do ontem e do amanhã é hoje a minha campeã. A águia portelense abraça o Rio de Janeiro com asas pela folia de fevereiro tomando de conta do céu inteiro. Num tempero surreal, vem sem igual, arrancando gritos da arquibancada como gol no Maracanã, balançando as palmeiras do Jardim Botânico num amor oceânico, tremulando repiques terças de uma bateria que bota pra rodar a fantasia das baianas atiçando a chama da escola de samba na veia que volteia e rebola no balanço de quem ama. Os malandros-marujos de Oswaldo Cruz içam as velas, azul e branco na tela, da comissão de frente à velha guarda é Portela passando aplaudida, destemida e amada como num conto de fada.


Comentar Seja o primeiro a comentar

13/06/2011 - Pós-dia dos namorados

Onde, onde estão os namorados de ontem? Será que ainda se beijam? Será que as palavras dos cartões de amor continuam válidas? Será que as juras não foram juradas em vão? Onde, pelo amor de São Valentim, onde estão os namorados de ontem? Será que festejam o amor amanhecido, que resistem ao tempo e ao espaço das coisas. Será que o amor bandido finalmente virou amor herói. Será que o amor doente já se curou? Será que o amor proibido enfim se libertou?

Ontem os namorados estavam felizes, trocando presentes e votos de felicidade, mas e hoje? Como estão? Para onde vão? Quem são? Será que as flores brotaram ou murcharam? Será que as alianças seguem nos dedos ou já estão nas gavetas? Será que o gosto que ficou dos bombons foi doce ou amargo? Será que as peças de roupa foram vestidas de pronto, guardadas ou rasgadas? Será que os sapatos saíram para dançar ou foram chutados para debaixo da cama? ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

21/12/2012 - Posologia

Uma garrafa de Black Label para curar as inflamações da alma. Horas e horas de Tom Jobim para se libertar de todos os males. Colheradas de romantismo. Chuva mansa para fechar a tarde. Pílulas de quero mais. Doses extras daquela paixão que arde em feitio de pimenta. Uma pitada de ineditismo em tudo o que se dispor a fazer. Um frasco de sublimação. Um punhado bem generoso de lembranças de que a vida valeu à pena até então. Um bocadinho de saudade e quilos de esperança. Gotas de ilusão e dois compridos de fantasia são fundamentais. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

16/08/2013 - Povo Tupinambá

Quando olho, olhos nos olhos, nos seus olhos esverdeados, misturando nossos verdes, meu sangue caboclo fala mais forte, e vou para longe, como que levado para as matas fechadas de um Brasil antigo. Vou por entre riachos e cachoeiras, por entre árvores imensas e animais selvagens, por um território desconhecido dos meus dias e tão comum a minha memória ancestral. Vou por um tempo sagrado e jamais esquecido. Sinto-me forte, vivo e parte daquele mundo encantado. Sou pintado com as cores de sua tribo. Saúdo e sou saudado na sua língua. Piso aquele solo que guarda marcas da minha origem e o corpo dos meus antepassados....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

25/12/2008 - Pozdrevlyayu s prazdnikom Rozhdestva is Novim Godom

Estranhou o título? Pois bem, é feliz natal em russo. Afinal, graças à crise mundial que abalou sobre o mundo, a coisa está russa. Quem acostumou a se fartar de leitão no natal em razão do preço do bacalhau e do peru, teve que engolir trinta por cento de aumento na carne suína. Mas o Lula está otimista. Então, digo para ele: Kala Christouyenna! Não entendeu nada? É feliz natal desejado em grego. Afinal, a esperança criada em torno do operário foi um belo presente de grego que nos demos há alguns natais. ...
continuar a ler


Comentários (1)

22/07/2012 - Pra chegar até aqui

Pra chegar até aqui é só espreitar o cheiro do café que ferve no fogão à lenha. Pra chegar até aqui é só espreitar o som casado das dez cordas da viola. É só espreitar o véu das nuvens ou o buque das estrelas. É só espreitar o vento que deita o capim. É só espreitar o trote dos cavalos no estradão. É só espreitar a florada da plantação. É só espreitar os barrados da chuva. É só espreitar causos que vão madurando como uva.

Pra chegar até aqui é só acompanhar o perfume do mato. Pra chegar até aqui é só acompanhar o rastro melado das abelhas. É só acompanhar os gemidos do carro de boi. É só acompanhar os bordados das moças. É só acompanhar o latido do cachorro brejeiro. É só acompanhar o serpenteio dos rios. É só acompanhar as asas dos pássaros do fogo. É só acompanhar o balé do tempo. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

27/12/2011 - Pra confundir

Eu não sou daqui. Eu não vim de lá. Eu não me conheço. Eu não sou de ter endereço. Eu ainda não descobri o meu preço. Eu não sou de falar. Eu não sou de sorrir. Eu não tenho direito ou avesso. Eu não tenho nome, sobrenome, codinome. Eu não tenho sede, não tenho fome. Eu não tenho som. Eu não tenho santo. Eu não tenho dom. eu não sou de encanto. Eu não sou de telefonar. Eu não sei pedir. Eu só faço blefar. Eu não sou de fugir. Eu não sou de cair. Eu nasci para dançar.

Eu não sou deste mundo. Eu não vim desta vida. Eu não começo sem terminar. Eu não apareço no espelho. Eu não sou de chuva. Eu não nasci para viúva. Eu não sou da lida. Eu não sou raso, não sou profundo. Eu não sou de dobrar o joelho. Eu sou o livro que não li. Eu ainda não me descobri. Eu não sou de não me apaixonar. Eu não fotografo bem. Eu não sou de ficar refém. Eu não sou da luz. Eu não morri numa cruz. Eu não sei esquecer. Eu não sou e desdizer. Eu não vivo para me entender. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   236  237  238  239  240   Seguinte   Ultima