Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 206 de 320.

07/03/2016 - O rio da sede

Vasculhei as gavetas. Abri os armários. Procurei sobre o roupeiro. Vi pelas pedras do aquário. Não achei letra alguma do seu paradeiro. Andei pelos canais da TV e nenhuma notícia de você. Bisbilhotei pela internet, encontrei a Beth, a Margareth, a Ivete, mas nada de você. Perguntei para o pivete do sinal vermelho, mas ele não me deu sinal do seu cabelo, do seu joelho. Questionei o espelho e ele ainda me mostrou você vivendo em mim. Seu cheiro ainda emana das flores do jardim. Sua voz ainda grita e geme debaixo dos lençóis. E eu amanheço, entardeço e anoiteço com esses tantos nós que não desatam e me desacatam numa falta, numa ausência, numa penitência que me mata. Risquei as cordas do violão, perguntei ao nosso cachorro da imaginação, cochichei com os porta-retratos e ninguém te viu por aí. Pedi para um bem-te-vi de te ver, mas ele sumiu daqui. Pedi para um pirilampo te assuntar, ele foi como um relâmpago para nunca mais voltar. Pedi para meu anjo da guarda te guardar e ele deu de me faltar. Tudo o que era meu foi com você, meu sentido, minha razão, meu porquê. Tudo seguiu seus passos, correu para seus braços, intuiu para seus laços. Tudo do meu futuro ao meu passado foi arrastado pelas águas da sua correnteza. Sua beleza me inundou, me aguou, me levou o que eu tinha e o que desejava ter. Um rio de tromba d’água, sem anágua, sem paga. Um rio perfumoso e malicioso, de curvas e curvedos, de tantos segredos. Um rio de riscos, coriscos, perigos que me deixou sem abrigo. Um rio devastador que dá de beber para depois minguar numa sede de amor. Um rio que enche o coração, preenche de ilusão e depois some, deixando para a gente apenas o nome e o vazio.


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18/06/2008 - O samba e o choro

"Chegou ô, ô, ô, ô
A Mangueira chegou, ô, "...

No último sábado, morreu Jamelão. Não estranhe, caro leitor, ao pensar que meu texto está atrasado. Acreditei que minha homenagem póstuma, a esse sambista morto, ficaria melhor em uma quarta-feira, dia em que o carnaval finda sua alegria... Não é semana santa, mas hoje a quarta-feira é de cinzas. Cinzas de lembrança repicada. Cinzas de dor cadenciada. Cinzas de uma tristeza sincopada. Morreu o samba. Ou melhor, morreu a voz do samba....
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08/09/2010 - O segredo da longevidade

Sim, a fonte da juventude existe. E eu sei como encontrar o jardim que a abriga. Para alcançá-la não é preciso enfrentar duendes, bruxas ou outros guardiões mitológicos. A única briga que terá de travar será contra sua natureza. Afinal, para chegar a tal fonte basta exercer uma atitude: não sentir saudade. Isso mesmo, o segredo da longevidade está em não remoer o passado, em não chorar os nossos mortos ou o que ficou pelo caminho. Vinho? Dietas? Ioga? Esses ensinamentos são paliativos, na verdade, acumula mais idade quem não luta a todo e qualquer momento para ter uma chance de voltar. De voltar atrás em gestos e palavras, em dias e estradas. Convença-se de uma vez por todas: vive mais e melhor quem vive adiante. ...
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21/09/2010 - O segredo dos relógios

É o relógio pulsando no pulso de quem volteia pra lá e pra cá como ponteiros que se encontram e desencontram a cada volta. É o relógio de parede nos observando dos cabelos aos sapatos. É o relógio de bolso nos acorrentando ao que vai ficando. É o relógio digital mudando as horas como se fosse mágico. É o relógio no visor do celular, no canto da tela do computador, piscando no painel do carro. É o relógio no forno microondas, nos jornais da televisão, nas fachadas dos prédios, na torre das igrejas. É o relógio sendo cultuado como objeto de apreensão nos saguões do aeroporto, da rodoviária, das estações do trem. É o relógio de areia, de sol, de corda, de lítio. É o relógio marcando o tempo da vida, anunciando o início das refeições sobre a mesa, o horário de acordar, sonhar e dormir, o banho, o momento da chegada e da partida. É o relógio tiquetaqueando pela nossa cabeça dizendo que está na hora de ir, de vir, de fazer, de comer, de saber, de querer......
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08/06/2013 - O seu amor?

O seu amor multiplica ou subtrai? O seu amor desperta ou adormece? O seu amor faz rir ou chorar? Seu amor fica ou vai? Seu amor lembra ou esquece? Seu amor é de fugir ou de enfrentar? Seu amor levanta ou cai? Seu amor se agiganta ou se apequena? Seu amor é prosa ou poema? Seu amor é fixo ou corrente? Seu amor é real ou miragem? Seu amor é frio ou quente? Seu amor é de covardia ou de coragem? Seu amor é alegria ou felicidade? Seu amor é passageiro ou tatuagem? Seu amor é expectativa ou saudade?
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15/09/2015 - O seu chão

Não há nada melhor do que pisar o seu chão. Para alguns, o piso da casa, a grama do quintal, a areia da praia, o orvalho do mato, a água do riacho, o tapete do quarto, as costas do seu amor... Os pés buscam raízes invisíveis, conectando o seu agora com um passado muitas vezes desconhecido. Tudo o que está adormecido no seu chão chega a você por meio dos seus pés. Tudo o que brota, cresce e floresce no seu coração ou na sua cabeça vem do seu chão. Quando você se emociona, quando a vida ganha sentido, quando você mergulha num infinito é porque algo está passando do seu chão até você. Não importa se pisa nele de sapato ou descalço, se ele é sólido, líquido ou gasoso, se é bonito ou feio para os outros, se está no solo ou no céu, avesso ou de ponta cabeça, o seu chão é sagrado. ...
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27/06/2015 - O seu hoje

Hoje os pássaros são todos seus. Hoje quem já foi, volta para ter você nem que seja por um segundo a mais. Hoje a arte é sua. Hoje toda parte é sua. Hoje até Marte é sua casa. Hoje você ganhou o mel das abelhas. Hoje você ganhou o véu das centelhas. Hoje você ganhou o céu das ovelhas. Olhe você ganhou asas e um coração em brasa. Hoje as ruas são suas passarelas. Hoje, para você, abrem-se todas as janelas. Hoje o príncipe que você escolher vai te chamar de donzela. Hoje o mundo se faz mais doce por você. Hoje os olhares se voltam todos para você. Hoje os querubins oferecem suas flechas para você. Hoje estrelas e mais estrelas te são entregues por um deus apaixonado em forma de buquê. Hoje todo e qualquer adeus perde o seu porquê. Hoje há uma multidão de poetas procurando por você. Hoje há um turbilhão de almas inquietas esperando por você. Hoje há um tempo de paixão nascido para você.


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27/06/2016 - O seu presente

Como uma caixa de presente deixada na porta de sua casa, eu me coloco por inteiro em suas mãos. Agora, depende de você. Depende de você se dar esse presente. Uma vida nova. Um amor de contos de fada. Um homem capaz de fazer tudo por você. Depende de você se dar o melhor presente de aniversário da vida, pois este presente não acaba hoje, tampouco tem data de validade. Um presente que chega para ficar. Ficar para sempre. É um presente feito sob medida para você. Um presente que você espera há tempos. Um presente que vai transformar os seus dias. Um presente que vai iluminar a sua vida. Um presente que vai te fazer viver no mundo real como princesa. Um presente que não mede esforços para te agradar, te surpreender, te realizar, te fazer feliz. Um presente único. Um amor único. Uma oportunidade única. ...
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12/04/2012 - O silêncio e as palavras

É preciso reconhecer quando não há mais espaço para palavra alguma. Tudo já foi dito e redito. Agora cabe ao silêncio cuidar de tudo. É bom lembrar que o tempo age fazendo-se de mudo. É momento de deixar as frases se assentarem. O que secou pode brotar. O que queimou pode se regenerar. O que ficou pode voltar. As palavras necessitam de um tempo de maturação para surtirem o efeito esperado. Como na passagem da lagarta para a borboleta, as palavras que agora rastejam amanhã em pouco tempo podem abrir as asas. ...
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14/03/2012 - O silêncio que mata

Depois do baile, os sapatos estarão no chão e os pés tatuados de notas musicais. Na planta dos pés, partituras inteiras. Pés com predominância de sol, de fá, de mi... Pés bailarinos silenciados de dor. Não da dor de calos ou bolhas de sangue, mas da dor do silêncio. Do silêncio nascido da ausência de música. Os músicos se perderam, os pares foram desfeitos e o salão ficou tão escuro quão noite sem vagalume. O corpo deserto e incerto como um eclipse que traz sempre a dúvida entre o temporário e o eterno. ...
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