Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 229 de 320.

18/10/2011 - Pensativas

É de aço ou de lã esse amor que me consome? É sólido e pesado e intransigente como aço. É macio, quente e cheio de meadas como lã. Vem do chão ou do céu esse amor que me move? Vem do chão quando brota feito lavoura depois da chuva. Vem do céu porque parece milagre, suspenso no peito. É solene ou informal esse amor que me envolve? É solene em seus ritos e rituais. É informal em sua casualidade, em sua espontaneidade, em seu jeito sem quê nem pra quê.

Está em mim ou fora de mim esse amor que me abraça? Está em mim como pedaço de meu corpo. Está fora de mim como um sopro. Está aberto ou fechado esse amor que me embaraça? Aberto quando tudo conflui a favor num esforço de dar certo. Fechado quando faz balanço e rebeldia. Está claro ou escuro esse amor que me enlaça? Claro quando se trata de coisas objetivas, práticas, reais. Escuro quando falamos em saudade, quando desço fundo na escuridão da alma. ...
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14/04/2008 - Pense no aborto

Pense no aborto. Pense no destino final dos fetos. Pense no choro das crianças abortadas. Pense na dor de ser tirado vivo de um ventre que o rejeita. Pense nos bebês que são jogados no incinerador. Pense no cheiro daquela criança não-nascida pegando fogo. Pense no colorido das fumaças que saem das chaminés. Fumaças rosas para meninas. Fumaças azuis para meninos. Fumaças negras de luto. Pense no cheiro, na cor, na dor dessa esperança perdida.

Pense nos milhões de quase-recém-nascidos que são vendidos para as fábricas de cosméticos. Pense nos sabonetes e nos cremes feitos com as proteínas da carne de alguém que podia ser seu filho. Pense no seu corpo, debaixo do chuveiro, ensaboado na espuma de fetos abortados. Pense nas peles de milhares de fetos virando bolsas a desfilar por ai. Pense nos sabões feitos com a gordura desses fetos lavando o uniforme dos soldados que estão no Iraque, matando, matando, matando. Pense na barbarie. ...
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30/03/2014 - Penso em você

Eu não paro de pensar em você. A toda hora, a qualquer hora, eu penso eu penso em você. Em nome de tudo o que o sonho eu penso em você. Nos momentos da alegria que eu queria dividir com alguém eu penso em você. Nos instantes de tristeza que eu queria ter alguém para enxugar meu choro eu penso em você. Pensando alto, eu penso em você. Ao pensar na felicidade que eu sempre sonhei eu penso em você. Voo longe pensando em você. Entre quatro paredes ou a céu aberto, eu penso em você. Na cama ou no papel eu penso em você. Adiantando ou atrasando o relógio para lhe encontrar no futuro ou no passado de nós dois, eu penso em você. Revivendo tudo o que me disse eu penso em você. Penso em você caminhando ao meu lado. Penso em você apaixonada. Com toda sinceridade e honestidade e lealdade e fidelidade e saudade, eu penso em você. Penso em você com todo amor que há. Penso em você olhos nos olhos mais a lua. Ao falar de amor, eu penso em você. Penso em você a cada afloração de romantismo. Como não sendo nada por acaso, eu penso em você. Por caminhos floridos, perfumados, embonecados eu penso em você. Como destino cruzado, eu penso em você. Penso em você quando respiro. Penso em você sentindo-me vivo. Toda vez que acredito no infinito eu penso em você. Quando penso no que quero para mim, penso em você.


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13/08/2011 - Peoa de boiadeiro

De um jeito um tanto queixudo, ela chega e se apresenta em meia dúzia de versos improvisados. Menina peoa nascida no interior do interior em berço caipira. Mulher parceira, adolescente tranqueira. Moça xucra, que pisa nos homens como se pisasse no chão duro. Pisa firme. Pisa forte. Pisa doído. Nem boi bandido nem peão malandro domam seu coração nem lhe tombam na arena em dia de apresentação.

Amassando lama ou levantando poeira, gosta do mato e noiva com o sertão toda noite de lua cheia. Chega a chorar ouvindo violeiro pontear histórias de solidão. Mulher ajeitada e aporrinhada, de corpo bitelo, chega a dar febre nos peões de boiadeiro. Não é de negar pulo. É de rodeio, mas não é de cancha. Encara boi xucro e cavalo velhaco no laço de sua corda americana. Seu colchão é de feno, sua cama é cigana. ...
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18/11/2015 - Pequeno grande aprendizado

Não precisamos de um naco a mais do que temos. Não merecemos nada além do que nos é dado. Não nos é ofertado uma semente do que não foi plantado por nós. Não saímos vencedores ou perdedores, apenas com as marcas do que fizemos. Não chegamos ao terceiro degrau sem ter passado pelo segundo. Não nos encontramos com ninguém por acaso. Não passamos por um caminho sem uma razão. Não realizamos ação alguma sem gerar uma consequência. Não mentimos ou enganamos, ou ainda iludimos quando o assunto é a nossa própria vibração. Não dormimos culpados e acordamos inocentes ou vice-versa. Não chegamos a lugar algum sem trabalho. Não há força alguma mais forte que a emanada pela simplicidade do amor.


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09/11/2013 - Pequeno tratado sobre o ciúme

O ciúme embaralha os sentidos. O ciúme zombe e fala absurdos aos ouvidos. O ciúme é, quase sempre, abusado. Ninguém controla o ciúme, e os que dizem o contrário – mentem ou não amam. O ciúme é fera traiçoeira. Perfume do amor? Só se for uma essência de tempestade, de redemoinho ou de pimenta malagueta. O ciúme faz chorar um choro quente e ferino. Quantas guerras surgem pelas mãos do ciúme?

E que ciúme não seja confundindo com desconfiança, que é mais ação do que reação. O ciúme reflete uma situação, uma circunstância, um estado... É mutante, por isso não se apresenta sempre da mesma forma e com igual intensidade. Por essas e outras, a exemplo do amor ninguém dimensiona o ciúme sentido. Aliás, amor e ciúme se refletem entre semelhanças e distorções no mesmo espelho. ...
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Per fumum

Não vejo nada, tampouco ouço. Hoje, sou só um nariz andando pelas ruas. Pelas ruas de fora, pelas ruas de mim. Sou como aqueles cães farejadores que se guiam pelo tempero dos cheiros. Quero viajar no mundo das memórias olfativas e resgatar todo afeto transformado em perfume. O momento é deveras apropriado, afinal estamos na primavera. Assim como os amores e as cores, os cheiros são mais possíveis nessa época.

Lembre-se do cheiro da infância, do cheiro de mãe, dos cheiros da casa, do jardim, da rua, da escola, da cidade e de outras cidades. Vamos descobrir o que está escondido atrás do mundo feito de imagens. Enquanto o paladar só distingue seis ou sete sabores, os narizes captam milhares de cheiros. Eu, por exemplo, guardo imagens e sons relativos a Ayrton Senna, mas a emoção vinda do odor dos pneus queimados do tricampeão de Fórmula-1 é algo inexplicável para os outros sentidos. ...
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30/07/2010 - Peras ao açafrão

Seus olhos são como duas peras ao açafrão, feitos a partir de mel, vinho e limão. Olhos de fervura e caudalosos, ideais para sempre degustados a colheradas. E eu, cada vez mais, tento fazer das minhas palavras espátulas só para retirar, com todo cuidado, a cada novo encontro, um pouco mais dos seus olhares. Toda a maciez e o sabor das peras, com uma coloração única, e um frescor de hortelã, colocados em olhares que alteram o meu metabolismo de uma forma que nem a química ou a física podem explicar. ...
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26/01/2012 - Percepções

Nada é tão igual assim como nem tudo é tão desigual. O caos mora dentro de cada um de nós. Somos a confusão, a desordem, a bagunça generalizada. Antes de sermos humanos somos desumanos. Somos a civilização perdida. Nossos sentimentos são atômicos, nossos sonhos são quânticos. O sorriso é a pausa do pranto. Em todas as coisas há uma relação constante de poder e despoder, de querer e desquerer, de ter e desejar. São tantas teorias da conspiração. Para cada sim há um monte de não.

Nossas vidas são pré-fabricadas, mas a nossa obra jamais se conclui. Nosso tempo é relativo. A liberdade só existe enquanto utopia. Estamos todos condenados a algo ou a alguém. O retrocesso está no processo do progresso. Nem tudo pode ser dito ou ouvido. Ora estamos dentro ora, fora. Quase sempre o agora está no ontem ou no amanhã. A poesia é semente à espera das condições ideais para vingar. ...
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16/01/2010 - Perdas e traumas

Com as mãos sujas de terra um jovem chora pelas ruas de uma cidade destruída. Muros ao chão não cercam mais nada. Casas tombadas não guardam privacidade alguma. Estradas rachadas, construções condenadas. Rezar onde, se a igreja caiu? O homem não sabe para onde ir. Os bares estão fechados, os mercados foram saqueados. Há uma legião de desconhecidos caminhando por aqueles descaminhos.

São rostos estranhos que falam línguas mais estranhas ainda. A tragédia aguça a fome de uma gente faminta. Todos querem notícias, todos querem acordar do pesadelo, todos querem um pedaço de pão. Que bom seria se todos encontrassem seus mortos. Ao menos, para uma despedida. Mas como encontrar alguém entre os escombros e as pilhas de defuntos que são enterrados em valas coletivas?...
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