Daniel Campos

Prosas

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31/10/2012 - Periquito na goiabeira

Na beira da ladeira, o periquito na goiabeira faz estardalhaço. Azul, verde, amarelo, ora tem asas ora tem braços. Equilibrista de penas, artista da canção, faz do bico sua mão. Ginga para cá, balança para lá, segura ali, volteia aqui. Periquito guarani, fala tupi e tem olhos de organdi. Periquito que não dá bola pra colibri, sabiá, bem-te-vi... Periquito, periquiteiro, periquitiá. Se lambuza do vermelho de uma goiaba que nunca acaba. Enrosca no cabelo da mulher, e vai jogando ao chão as sementes à moda de um bem-me-quer malmequer. Periquito assanhado, que barulha em feitio de namorado. Periquito artista, que pelas folhas da goiabeira vai fugindo das nossas vistas. Periquito que fala estralado, do zóio de ametista. ...
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16/02/2014 - Permissão

Permita-me passar o restante dos meus dias como seu, seu na mais completa junção de ser e ter que se pode viver. Permita-me querer-te um pouco mais a cada dia de modo que entre a gente não haja qualquer ideia ou manifestação de monotonia. Permita-me fazer-lhe feliz de um modo como até hoje nunca me quis, fazer-lhe feliz tão feliz como imperatriz dos dias meus. Permita-me transformar por você todo sonho em realidade, pois com você toda fantasia tem que ser vivida na mais repleta vivacidade. Permita-me enlouquecer e poder viver essa loucura que é você num mais que completo querer. Permita-me doar tudo o que eu sou de melhor, faça proveito do meu eu mais que apaixonado, oferecido e doado a você sem qualquer restrição. Permita-me exercer o amor em todas as suas formas e conceitos nesse amor eleito para ser épico, extraordinário, tema de documentário. Permita-me embrenhar-me por todo seu ser ficando a me perder e a me achar cada vez mais no universo de você. Permita-me saltar sem paraquedas em seus olhos sem temer a queda. Permita-me construir um novo verbo que defina o que é esse se deixar possuir sem esboçar qualquer resistência. Permita-me descobrir o que é há reservado para nós, só para eu ter a certeza de que os lençóis da lua são para gente. Permita-me ficar a sós com tudo que há de nós desde que você fique comigo. Permita-me ser de todo romantismo e amar-lhe sem nenhum negativismo. Permita-me pulsar contigo na trilha sonora do que somos um pelo outro. Permita-me ser permitido em você sem contraindicação. Permita-me ter a sua permissão para que eu possa ir além da imaginação.


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30/01/2014 - Perna no mundo

Botar a perna no mundo. Viajar sem saber para onde. Pegar o primeiro avião. Ser abduzido. Navegar de olhos vendados. Sequestrar, raptar, levar ao infinito de qualquer jeito, a qualquer custo, sem medir consequências. Pegar um foguete rumo à lua. Carregar e pedir colo pela estrada afora. Laçar a cauda de um cometa. Ir ao encontro do que lhe espera. Seguir os ponteiros da bússola-coração. Ir sem medo. Deixar-se o mistério lhe levar. Montar em um cavalo encantado ou num pássaro de fogo. Seguir uma estrela de chocolate. Desenhar o próprio destino. Embarcar no trem da imaginação. Tomar fôlego e mergulhar num desejo sem fundo. Morar nos braços do vento. Boiar no céu. Volitar com quem já se foi. Botar a perna no mundo.


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15/05/2015 - Pernas ao inverno

Como garça na Antártica, ela caminha com suas pernas desnudas pelo chão de inverno, entre o vento e o relento. Muitas passam de casacos e cachecóis, com botas, peles e lãs. São texturas e pesos fazendo moda. Porém, ela vem de shortinho e sandália de dedo como se estivesse no verão, entre as areias da mais quente estação. Dizem que ela é exibida, aparecida, convencida, mas ela nem é assim desinibida. Surge num rosto corado de frio como que de rouge, mas com as pernas rosadas, entre a palidez da lua e o douro dos trigais das estradas. Desperta desejos daqueles que dariam a vida para cobrir aquela pele lisa e aromática de beijos e ensejos. Caminha sem se importar se é olhada, mas sabe que desde que fechou a porta de casa vem sendo devorada. Entre uma ave rara e uma égua nunca celada ela avança pelas ruas, como que nua, como que quem dança, como quem faz arte e é inocentada por ser criança. Já era bem crescida, mas ainda bem-vinda numa ingenuidade de infância, numa ânsia de malícia, como que um flerte no meio da santa missa. Vem com short curto causando espanto, encanto, susto e quebranto. Vem deixando o mundo louco, largando os gritos roucos, querendo ser pouco sendo tanto. Diante de suas pernas, o frio do inverno se aperta.


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10/10/2009 - Perpetuum mobile

Eu queria não correr, encontrar um jeito de viver mais devagar. O mundo passa por mim e eu sou obrigado a segui-lo mesmo querendo ficar um minuto A mais. E é por isso que amo intensamente, amando demais. O mundo se alimenta de mim: dos meus sonhos, das minhas fantasias. E eu vou assim, feito cegonha e querubim, morrendo com as noites, renascendo com os dias. O que era para ser prazer tornou-se uma agonia, uma ebulição delirante. E é preciso ser cada vez mais constante num mundo inconstante, volúvel, volátil. Viver a correr é sobreviver e sobreviver não é fácil. Se ao menos existisse um jeito de viver em slow motion. Mas a vida não é feita no escurinho do cinema. A vida é um poema sangrando. A vida é um coração latejando, um moto-contínuo. Um desatino completo, o encontro do velho e do feto num tempo nem sempre predileto. Dentre tantas idas e vindas de pensamentos e sentimentos, a vida é um movimento perpétuo. ...
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01/10/2014 - Perto de você

Perto de você, sou forte. Perto de você, sou eu. Perto de você, sou mais. Perto de você, sou melhor. Perto de você, sou tudo. Perto de você, sou único. Perto de você, sou par. Perto de você, sou completo. Perto de você, sou carnívoro. Perto de você, sou chuva. Perto de você, sou íntimo. Perto de você, sou aventureiro. Perto de você, sou chama. Perto de você, sou latente. Perto de você, sou sol se pondo. Perto de você, sou puro. Perto de você, sou distante do medo. Perto de você, sou invencível. Perto de você, sou feliz. Perto de você, sou metade de você.


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Perturbadora

Cumprindo uma espécie maldição, ela estava lá. No mais improvável do improvável, lá estava ela. E pior, ele nem sabia quem ela era. Mas sabia que ela o seguia, mesmo sendo a primeira vez que a via. Talvez ela já aparecesse de outras formas, de outros jeitos, mas com o mesmo frio na sétima vértebra. E ele era supersticioso por demais. Aliás, tudo dele era por demais. O nervosismo levava as unhas, como cordeirinhas, a sua boca. Mas dali a pouco ela iria embora. Afinal, eram tantos ônibus, tantos trens, tantos aviões, tantos submarinos que poderiam levá-la para longe. Tudo acabaria em alguns poucos segundos. Não havia razão para tanto. Ou havia?...
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21/03/2014 - Pés bem-amados

Seus pés são tão delicados quão infinitos, pequenos seres que lhe trazem a mim, que lhe levam de mim. Ah! O amor que tenho pelos seus pés, desde que só os conhecia por fotografias, faz com que eu pulse neles. Seus pés princesianos merecem olhares, afagos, beijos... É impressionante como meus lábios se rendem ao primeiro toque em seus pés. Pés perfumados. Pés acalorados. Pés sagrados. Eu os reverencio, reconhecendo a nobreza desses pés de unhas impecáveis, de desenhos adoráveis, de perspectivas inalcançáveis. Seus pés me contam sobre seus caminhos, passados e futuros, com direito a histórias da infância e sonhos em gestação. Falam-me sobre as direções que você pretende tomar e me deixam escapar segredos do destino. Sim, os anjos tatuaram seu destino em seus pés. Se seus pés fossem de comer, comê-los-ia com gosto, pois me dão água na boca. Se seus pés fossem um lugar, faria pouso neles por tempo indeterminado, fazendo deles meu chão alado. Se seus pés fossem um signo, seria do signo do fogo, pois ardem de vontade de caminhar, de se aventurar, de trilhar por caminhos que lhe atraem. Seus pés andam pela imaginação com a mesma firmeza com que pisam a realidade. Vontade de deitar a cabeça em seus pés e cochilar tendo a certeza de que eles não a levarão embora. Seus pés são como as minhas esferográficas, seguem os sentimentos. Seus pés estão sempre alinhados com as estrelas cadentes, por isso sempre que os vejo faço pedidos de foro íntimo. Seus pés anunciam a vinda e a chegada da mulher amada. Seus pés tem uma fragrância que deixa rastro. Mesmo sem deixar pegadas, sou capaz de seguir seus passos pelo aroma deixado por seus pés. Seus pés mesmo que de carne parecem ser de plumas. Seus pés tem um canto inaudível a qualquer mortal, mas são de um canto em movimento. Seus pés são como um jovem pássaro, com certo receio e intensa sede de se jogar ao desconhecido. São pés que merecem ser regados com vinhos e sucos de flores. São pés de menina. E minhas mãos em seus pés são como sapatos de cristal nos pés da Cinderela. Seus pés são de uma contemporaneidade abstrata e de um romantismo à luz de velas, preservando o mistério entre véus e penumbras. Seus pés desafiam os logradouros mais complexos e distantes. Eles fazem inveja às bailarinas, que davam os olhos para dançar com os seus pés. Seus pés provam não só o que passa de sentimento em você, como a mulher sem mácula que é. Nada detém os seus pés, eles avançam mesmo em rodopios. Seus pés se abrem como pétalas. Ah! Quanta beleza há no desnudar de seus pés. Seus pés enxugam o que chorei quando eles a levavam para outras estradas. Seus pés são conhecedores da liberdade, desbravadores de horizontes. Seus pés são de um romance nascituro, que cresce e se fortalece no tempo certo. Seus pés vêm como o tempo, sabendo de tudo, sempre presente, dobrando o mundo... Seus pés trazem mansidão e alvoroço ao mesmo instante. São pés de provações e provocações. São pés que sabem se entregar ao grande amor. São pés que não têm vergonha de ir atrás do que querem. Seus pés passam pela minha história querendo ficar e, suplicante, quero que fiquem. Quero seus pés como âncoras do seu corpo em meu corpo. Seus pés são de renda, de mousse, de couché. Eles vão dando sentido ao que pisam. Dão viço a tudo o que tem contato com eles, inclusive a mim. Tímidos e risonhos, assim são seus pés, pés que pisam fundo em minha alma deixando marcas como corpos nos lençóis. Seus pés são as raízes da mulher que me dá folhas e mais folhas de poesia, frutos suculentos e sementes de sinceridade. Sagro-me cavalheiro aos seus pés, a sua luta e em sua defesa. Seus pés são como as conchas, só que ao contrário do mar, ao colocá-los perto dos ouvidos, escuta-se o som das ondas de um coração apaixonado elevado ao infinito.


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29/07/2013 - Pescador

Pescador, cadê seu peixe? O mar carregou. Pescador, cadê sua mulher? O nevoeiro encobriu. Pescador, cadê seu barco? A correnteza arrastou. Pescador, cadê seu amor? A maré engoliu. Pescador, cadê sua rede? A pedra rasgou. Pescador, cadê sua bebida? A gaivota descobriu. Pescador, cadê sua esperança? O vento salgou. Pescador, cadê sua âncora? Uma sereia roubou. Pescador, cadê seu destino? Uma fúria afundou. Pescador, cadê sua estrela guia? Uma concha comeu. Pescador, cadê a luz do seu farol? Sumiu. Pescador, cadê sua alma de navegador? Onda daqui, onda dali, se perdeu. ...
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06/09/2010 - Pescar como pesca o pescador

Ah! Se eu tivesse a coragem do pescador que pega seu barco e se deixa engolir pelo mar. Tempo bom, tempo ruim, o pescador rema, rema, rema remador, espia o peixe, puxa corda, sacode a rede. Não tem medo de o barco virar, de não voltar, de deixar alguém a lhe esperar para sempre na areia da praia. O pescador não leva bagagem, sai vestido apenas com o couro do corpo e as traias da pesca. É ele e o barco, é ele e o mar, é ele e o mundo das águas e dos ventos.

Queria saber pescar sonhos como pesca o pescador, que enfrenta a dor, a solidão e o desconhecido sem gritos. É o homem que deixa a terra, que tira o chão de seus pés e desafia os limites da fé. É homem duro, castigado e imolado a cada amanhecer, mas com o coração tão puro quanto à vida virgem do alto mar. Ele sabe que pode ser tragado e ceifado a qualquer momento por aqueles deuses que habitam o fundo do mar. Por isso, tenta ser o mais leve possível de modo que flutue entre o espelho d’água e o peito do céu.


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