Daniel Campos

Prosas

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22/06/2014 - Saudade caipira

A saudade canta rangida como um carro de boi. A saudade se esparrama como ramas depois da chuva. A saudade fecha como tempo em tarde de temporal. A saudade balança como cavaleiro no lombo do animal. A saudade ronca como trator em marcha pesada arrastando grades pela terra selvagem. A saudade assovia como vento solto pelo estradão. A saudade mancha por dentro e por fora como amora. A saudade aperta como caju. A saudade caleja como mãos no cabo da enxada. A saudade orvalha os olhos de quem sente. A saudade esquenta como fogão de lenha. A saudade respinga como casa sem forro em dia de chuva. A saudade chicoteia como cavalo xucro. A saudade é locomotiva puxando tantos e quantos vagões de lembranças. A saudade troveja e faz clarão. A saudade escorre como água de mina. A saudade afia como corte de canivete amolado na pedra. A saudade madura como fruta no pé. A saudade vai fundo, e mais que mais fundo, como raiz. A saudade dá arrepio como causo de assombração. A saudade é estação sem trem. A saudade estala como fogueira ao luar. A saudade valsa como pés que se põem a rodar. A saudade corta como capim napier. A saudade dá fisgada como peixe que morde sem morder a isca. A saudade é como a galinha que mesmo sem ovos continua choca. A saudade chora como leite na pele verde do mamão. A saudade vai encorpando como uma boa polenta. A saudade é visível e invisível e por isso engana como teia de aranha. A saudade é o cisco que não quer sair do olho. A saudade rói até a lua no céu. A saudade açucara o que temos de mais doce. A saudade é boiada estourada. A saudade nos trança com mãos de saci. A saudade pinica como folha de milho. A saudade faísca como casco na pedra. A saudade espinha como arroz-do-diabo. A saudade ponteia o que não terminou.


Comentários (1)

15/10/2013 - Saudade Calopsita

Ela se foi sem dizer. Não ouvi seus gritos de dor ou de perdão. Ninguém sabe o horário exato que ela arrumou as malas e partiu. Será que foi loucura? Será que foi tontura? Por que foi que ela caiu? Ela se foi sem ir. Caída no chão do quarto, encolhida e sem vida, vestida para casar. Não conseguiu ser mãe ou amante, foi só mulher de dois casamentos. Sem sorte no amor, Paola, um marido morto, um marido ao vento.

Ela se foi sem querer. E já há alguém cantando sua falta num canto lírico. E já há alguém investigando sua partida repentina. E já há alguém a comparando com um lírio – lindo e breve. Ainda não descobriram quais foram suas últimas palavras. O viúvo endoidou... Será que finge tanto amor? Ela é lembrada de tantos jeitos e formas. E por todos os lados palpita uma saudade calopsita – doce e selvagem ao mesmo tempo.


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06/08/2009 - Saudade de Marilene nº 1

Sentir saudade é ter uma faca apontada para o pescoço. Entre o passado e o presente, qualquer movimento mais brusco pode ser fatal. A vida com saudade é extremamente vinculada ao tempo presente. O que passou virou saudade e o que virá não aumenta nem diminui a saudade. Por isso, a saudade é permanente, afiada e corta mais do que faca de açougueiro. Pode pedir, pode suplicar, pode ajoelhar, pode rezar, pode chorar, pode negociar com o destino, com a vida, com o tempo, com os deuses... chova ou faça sol, a faca continuará roçando seu pescoço. Não é à toa que dizem que saudade mata. E eu já estou quase morrendo. ...
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07/08/2009 - Saudade de Marilene nº 2

Eu queria fazer café com coisas para você. Eu queria alimentar os seus pássaros. Eu queria fechar a casa para lhe poupar do frio e do pó. Eu queria massagear seu corpo. Eu queria uivar em seus ouvidos como lobo inebriado pela lua. Eu queria carregar sua bolsa e entrar em sua bolsa feito canguru. Eu queria contar as contas de uva que seus lábios contam. Eu queria fazer sua comida, naquele tempero que você gosta. Eu queria estar ao alcance dos seus braços. Eu queria ser seu travesseiro por mais essa noite. Pelos santos óleos, eu queria dizer eu te amo olhos nos olhos. ...
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08/08/2009 - Saudade de Marilene nº 3

Pode anotar, saudade é dor que nunca terá cura. É o mal dos tempos. Pior, é o mal dos apaixonados. Como ficar longe da criatura amada sem que altas doses de sofrimento invadam mente e coração? Ao lembrar dos beijos, o vento frio da solidão roça e parte os lábios em mil pedaços. Ao lembrar dos abraços, a vida faz questão de gritar em seus ouvidos que o mundo ao seu redor é um grande deserto. Ao lembrar da amada, os pensamentos entram em curto. Curto-circuito. É isso, a saudade é uma espécie de curto-circuito que danifica o corpo físico, mental e espiritual....
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08/12/2014 - Saudade de temporizar

Ando com saudade do tempo em que eu tinha tempo para pensar no tempo. Tempo bom que ficou no tempo. Tempo que não volta. Tempo que não se cota. Tempo que dia a dia se esgota. Tempo que o tempo não devolve. Tempo que o próprio tempo absorve. Tempo que não se importa com nós. Tempo que nos deixa a sós no tempo. Tempo que dá e desdá nós em nosso sentimento. Tempo marrento. Tempo birrento. Tempo lamento. Tempo sofrimento. Tempo algoz. Tempo passando pelos ilhós do tempo. Tempo, tempo, tempo carregado de tempo, temporal, temporação, temporamento, temporatura, temporão... Ando com saudade do tempo que eu tinha tempo de temporizar.


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27/01/2015 - Saudade desfeita

E, de repente, eu me vi nos braços da senhora novamente. Aquele mesmo sorriso forte, sem mostrar dos dentes, mas numa profunda felicidade estampada nos lábios contraídos de emoção. As linhas de sua face, como nos nossos reencontros depois de muito tempo, tremiam. Seus olhos tentavam capturar o máximo de mim. Como se diz por aí, nem piscava. E quando me aproximei ela abriu os braços e num silêncio arrebatador, fui pra seu colo. Não falamos nada por um período de tempo que não dá para contabilizar. E nosso silêncio disse tudo o que precisava ser dito. As energias se manifestaram e a saudade foi desfeita.


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31/08/2014 - Saudade do seu abraço

Tenho saudade do seu abraço. De poder passar dez anos de conforto em dez segundos em seus abraços. De sentir suas mãos buscando trópicos e meridianos em minhas costas. De suas mãos escrevendo em minha pele o quanto me gosta. De sentir que todos os meus sonhos cabem perfeitamente no seu colo. De não querer mais sair desse abraçamento. De ser enlaçado por seus calores e tremores de prazer e bem querer. De saber que de um jeito ou de outro quer me guardar consigo ao mesmo instante que me deseja como abrigo. De ter a certeza de que nosso encaixe é perfeito em formas, texturas e essências. De confundir braços com asas. De flutuar entre a malícia e a inocência. De me jogar e de lhe receber na mesma intensidade. Do seu abraço tenho saudade...


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10/07/2015 - Saudade encolhida

Nunca mais tive seus beijos nem sua boca a me dizer nada. Seus abraços abraçam outros braços. Suas pernas, como estão? Pra onde vão? Que caminhos são? Seus pés fazem novos passos. E entre acertos e erros, você afunda nos aterros da minha imaginação que abunda pela oitava paixão. Quando é que você volta? E quando me encontrar não solta? Sua ausência me provoca. Sua falta me sufoca. Sua saudade me toca e me invoca junto à sombra da sua silhueta desbotada em minha cama, em meu corpo, em meu dia a dia. Quantos copos de amanhã preciso para lhe esquecer? Quantas poesias terçãs são precisas para lhe trazer ao meu querer? Nunca mais senti seu perfume, mas ainda tenho ciúme da metade que é minha e vaga sozinha atendendo pelo seu nome. Tenho fome da minha vida que é sua, minha vida amada e nua.


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17/04/2013 - Saudade enraizada

Por onde quer que eu vá, por aqui ou em qualquer lugar, levarei saudade. Saudade de um tempo não nascido. Saudade de um desejo proibido. Saudade de um sonho adormecido. Saudade de um sentimento banido. Saudade do que não pode ou não quis acontecer. Saudade do que eu fui impedido de viver. Saudade do que não hei de fazer. Saudade de um mundo paralelo. Saudade do gosto de marmelo. Saudade de um dia rosa-amarelo. Saudade de uma boca. Saudade de uma louca. Saudade do que sempre será pouca.

Minhas mãos estão carregadas de adeus. Meu peito segue cravejado por partidas. Nos meus olhos as imagens de tantas e quantas despedidas. Meus pés tropeçam em tantas separações. O choro de perdas ainda chora em mim. O começo e o meio caindo no fim. A minha razão ficando mais e mais cega a cada ponto das malhas tecidas pelas ilusões. O sim e o talvez sendo sufocados por um sem número de nãos. O encontro e o reencontro nas garras dos desencontros. Uma sensação de velório que me deixa tonto. ...
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