Daniel Campos

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Encontrados 372 textos. Exibindo página 34 de 38.

19/12/2009 - As cores da mulher amada

A mulher amada tem cores primárias, secundárias e, até mesmo, terciárias ao longo de seu corpo. Perdoem-me a comparação, mas a criatura amada é uma caixa de lápis de cores se colorindo pela rua afora. Quando o vermelho dos lábios dessa mulher encontra o azul do horizonte o mundo da à luz a um sol violeta. Um sol que irá arder e suar e se arrepiar no desejo que há na mulher que se ama. Como um camaleão carregado de sentimento, a mulher amada é um desfrute de colorações.

Não é à toa que a natureza inspira perigo diante de um ser repleto de cores, sobretudo, de cores fortes, vivas, radioativas. Pois isso é a mulher amada: feixes e mais feixes de cores em permanente radiação, seduzindo e atraindo páginas em branco. Quando as palavras azuis da criatura que irradia amor encontram o amarelo das flores jardineiras, eis que se inicia um tempo verde. Mesmo fora de época, os corpos, femininos e masculinos, são tomados por uma primavera de polens. E eis que se dá a fecundação e o nascimento de mais e mais cores....
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14/09/2015 - As filhas de dona Sinhá

Seu Sinhô coloca o chapéu no peito quando as meninas de dona Sinhá passam pela rua em respeito a sua mãe que foi ter com as estrelas. Paixão antiga daquelas de tirar faísca de pedra, de apostar coração numa roleta, de montar burro xucro em noite de trovoada. Daquelas três meninas nenhuma era filha dele, mas ele tinha respeito como se fosse. Dona Sinhá deu de um tudo para seu Sinhô menos uma vida nova que ele pudesse ver crescer. Como castigo pelo que nem sabe, viu a mulher que amava ir para não voltar e as filhas dela com outros tomando corpo e o mesmo gênio ruim da mãe. Como pecador que não toma jeito, mas respeita tudo quanto é santo, seu Sinhô tira o chapéu pras meninas passarem perfumadas pelas lembranças de dona Sinhá.


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29/04/2011 - As filhas dos pais

Numa mesma quinta feira perdida no final de abril morreram as filhas dos pais. Podiam ser chamadas assim essas mulheres nascidas de uma poesia de Vinícius de Moraes, de um discurso de Leonel Brizola. Independentemente das tentativas, nenhuma das duas conseguiu superar a fama de seus criadores. No fim das contas, só aumentaram a lista dos casos em que o sobrenome fala mais forte que o nome.

A filha do político, Neusinha, enveredou pela carreira artística e teve uma série de desentendimentos públicos com o pai por causa das drogas e um ensaio de nudez para uma revista famosa. Chegou a ser presa. Morreu no hospital por complicações pulmonares assim como o pai. Os pulmões da cantora silenciaram. Uma morte simples para uma mulher que, entre outras extravagâncias, já encheu uma banheira com champanhe para tomar banho. ...
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18/07/2012 - As folhas encantadas de Ossaim

Ewê ô. Ewé ó. Lá vem Ossaim, Ossaniyn, Ossanha. O senhor das folhas. Das folhas selvagens. Das folhas medicinais. Das folhas litúrgicas. Ele é o filho de Nanã que mora na floresta ao lado de outros orixás do mato, como Oxóssi e Ogum. A floresta e seus encantamentos. Ossaim e suas folhas sagradas, seus mistérios, seus medos. Ossaim possui uma só perna porque a árvore, base de todas as folhas, possui um só tronco. Dizem que durante seis meses Ossaim é homem. Nos outros seis, mulher. Ossaim é o desconhecido, o fantástico, a lenda. Traz uma haste ladeada por sete lanças com um pássaro no topo. Em certos dias, pendura suas folhas mais poderosas nos galhos de Iroco. Ossaim é o sacerdote das folhas. Por isso, muito cuidado ao arrancar ou pisar em uma delas. ...
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29/06/2015 - As maçãs-do-amor de Sinhazinha

Sinhazinha se arrumou toda pra se sentar na pracinha esperando alguém que lhe desse uma maçã-do-amor. Mas na pracinha não tinha macieira e nem era tempo de fogueira. Mesmo assim ela esperou, ela esperou, ela esperou e dançou com o tempo que seus olhos caramelizou. Sinhazinha não estava grávida, mas ardia numa vontade parideira que faz a desejosa subir e descer ladeira dia após dia até matar as lombrigas que brigam e fazem intriga e desdém em torno da fome do que não se tem. Passaram fulanos, ciclanos, beltranos sem que ninguém oferecesse maçã alguma à salivação crescente da sinhazinha que estava acostumada a viver sozinha. Passaram-se horas até que a menina chora e um tal moleque, longe de ser pivete, aproximou-se e enxugou aquelas lágrimas com um beijo certeiro daqueles que desmancham o coração por inteiro. Sinhazinha ficou pasma, faltou-lhe o ar como numa crise de asma, e suas maçãs do rosto ficaram coradas, avermelhadas como as maçãs-do-amor que ela tanto queria e pedia. Coisas da poesia.


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11/03/2010 - As mulheres de Atenas, agora são de Esparta

“Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
(...)
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas (...)”

Chico Buarque que me perdoe, mas as mulheres de Atenas agora são de Esparta.

Anos e anos de luta pela autonomia feminina corroeram a era das mulheres educadas para serem dóceis e reclusas ao mundo doméstico.

Hoje, as mulheres precisam, sobretudo, viver entre a espada e o escudo. ...
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09/03/2010 - As mulheres de hoje e sempre

Ontem as mulheres receberam carícias dobradas, bombons recheados, flores e outros mimos. Ontem as mulheres receberam discursos, sessões legislativas, inaugurações e outras menções não menos honrosas. Ontem as mulheres receberam espaço redimensionado na televisão, na rádio, na internet, nas páginas dos jornais. Ontem as mulheres receberam promessas e outras peças publicitárias das mais variadas bocas e mãos. Ontem as mulheres receberam elogios e rios de gentilezas...

Hoje, passado o dia oficial delas, tudo volta ao normal e, sendo assim, ao contrário de ganhar, perdem; ao contrário de receber, dão; ao contrário dos aplausos, o silêncio cúmplice do descaso. Hoje são pouquíssimos os que escutam o grito de uma infinidade de mulheres sendo violentadas, física e moralmente, em seu direito de ser mulher. Hoje são raríssimos os que compram alguma briga em defesa de mães, filhas, esposas, amantes com o mesmo empenho de ontem......
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15/04/2010 - As pedaladas de Hélio

Por aquela estrada estreita, divisa tênue entre a arquitetura da cidade e as histórias do campo, Hélio pedala sua bicicleta. Pelas curvas e ladeiras, leva sua marmita, suas ferramentas, seus sonhos. O chinelo de dedo rodando no pedal mantém em órbita um mundo encantando ou o que sobrou dele. Hélio é o último dos três guardiões das terras que um dia formaram a lendária fazenda de José Barbosa. Luiz, seu cunhado, sempre preferiu as estradas às plantações. Morreu num acidente de caminhão. Líbio, outro irmão de sua esposa Floripes, também pegou sua estrada. O homem que muitas vezes levou a bicicleta de Hélio de carona em sua perua tomou outros rumos. ...
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10/05/2011 - As pílulas de minha avó

Hoje, em especial, se minha avó estivesse aqui, com um riso meio que tímido meio que inseguro nos lábios, traria algumas pílulas na mão. Não me refiro às pílulas de farmácia tradicional ou de manipulação, tampouco pílulas coloridas, sintéticas ou efervescentes, porém, pílulas de papel. Não eram pílulas receitadas por um médico ou, por um farmacêutico ou por um desses programas de televisão. Eram pílulas mágicas, segundo ela. Não tinham bula ou maiores inscrições. Só existia uma indicação: era preciso tomar com fé e confiança. E serviam pra quê? Pra absolutamente tudo, tanto para as dores do corpo quanto para as da alma. ...
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19/09/2014 - As tatuagens de agora

Como você foi se transformar nisso? Foi um declínio vertiginoso. Tudo se perdeu em tão pouco tempo. Mudou de papel, da princesa à bruxa má ainda no meio da história. Fiquei sem entender e passei a conjugar o verbo sofrer em todos os tempos quando depois que você havia me ensinado a escrever felicidade em caixa alta. O que houve? Como pode ter se transformado nessa criatura pouca? Se você fosse isso o que é hoje jamais teria me apaixonado. Teria lhe ignorado, pois é o que essa pessoa que se tornou merece. ...
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