Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 26 de 27.

Sete saudades

Noite. Não me pergunte por onde andava a lua. Havia quem dissesse que ela se despregara do céu. Havia quem dissesse que se atirara ao mar. Havia quem dissesse que chorava num quarto, inteiramente, escuro. Eu preferia não dizer nada.

A noite nos lustres. Quantos os sonhos daquelas estrelas artificiais. Os anjos, os santos, os deuses. As vozes tristes de um coral que sorria. A voz lenta e grave que enchia o ambiente. Um homem vestido de branco. Os enfeites, as flores. Talvez fossem sete flores, cada qual na sua cor, no seu perfume, no seu texto. Sete vozes, cada qual no seu ritmo, no seu tom, no seu corpo. Sete lustres, sete mil lâmpadas, sete milhões de sonhos. Sete vinhos, sete uvas, sete sabores. Sete mãos, sete colheitas. Sete pães, sete trigos, sete ceifas. ...
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Sexta-feira santa

Pela virgem dolorosa
Pela mãe tão piedosa
Perdoai-nos meu senhor
Perdoai-nos meu senhor

Esses versos cortam. Cortam feito vento. Cortam feito um pressentimento que, de tão bruto, não sabe se bom ou se ruim. Esses versos latejam como ferida aberta, que o tempo, feito um mertiolato barato só faz arder. Versos que rangem dentro de mim, como aquela porteira que já não abro mais. Versos que me arrastam e que me levam. Versos que, nesses movimentos, trazem um mar revolto onde se escondem os tesouros de um pirata de perna de pau. Versos que me rasgam assim como eu rasgava as folhas do calendário do Sagrado Coração de Jesus da casa da minha avó. Versos de uma noite escura. Versos de um vento frio vindo não sei de onde. Vento arteiro que fazia estripulias para apagar a chama das velas em procissão. Ah! As velas. Aquelas velas finas e cumpridas que já não saem mais por ai. Calmamente, preparava-se o copo, furando-o com a chama de um palito de fósforo para que a cera quente não queimasse o dorso de nossas mãos. E a noite era só da luz das velas. A lua vestia a mortalha da escuridão e as estrelas menos respeitosas, brilhavam, mas um brilho minguado, quase fosco. Como castigo, elas iam morrendo, queimando e ardendo em seu próprio fogo. O dia era de silêncio. Mas os versos rasgavam o silêncio em passos geométricos. Por meio das rezas e dos cânticos de duas filas indianas, sobre os ombros, vinha o andor de nosso senhor morto....
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Sherlok homes, 007 e companhia

Cuidado! Antes de ler esse artigo tenha a certeza de que está sozinho. Olhe para trás, para os lados, certifique-se que não está sendo seguido. Toda a precaução é pouca. Há uma onda de Sherlok Homes agindo no Brasil. São cerca de novecentos agentes secretos com o aval do governo espionando o que não deve ser bisbilhotado.

Não contrarie o governo, se o fizer faça de um jeito que ninguém tome conhecimento da sua indignação. Eles investigam quem questiona o governo. Lembra do Itamar Franco, o governador de Minas Gerais; do procurador da República Luis Francisco; do jornalista Andrei Meirelles, da revista Isto É, que apurava o escândalo do TRT paulista? Pois bem, todos eles questionaram o governo. Todos eles tiveram suas vidas espionadas pela Abin....
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Silva - o sobrenome do brasil (apresentação)

O livro-reportagem "Silva - o sobrenome do Brasil" nasceu do desejo de se conhecer um país. Inspirados por Noel Rosa que cantou que não se aprende samba no colégio, deixamos os bancos da escola e fomos em busca desse país imaginado. Queríamos descobrir a importância do sobrenome Silva para o Brasil e contribuir para esclarecer sobre a forte presença dele em nossa terra. A motivação deveu-se ao fato de que consideramos Silva como sendo um traço marcante da identidade brasileira, sobretudo por ser o sobrenome mais comum no país. Embora nem mesmo as pessoas que o carregam saibam sobre a origem dele....
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Silva - o sobrenome do brasil (introdução)

Um vento leve soprava as velas de pano das embarcações portuguesas. A tripulação se guiava pelas bússolas e pelas estrelas. Certamente, poucos sabiam sobre as lendas gregas, sobre as constelações. Lendas não importavam para se fazer comércio. Em breve, contornariam a silhueta atlântica da África e partiriam rumo às Índias. Comprariam especiarias, como canela e pimenta do reino, para venderem a preço de outro na Europa. As caravelas cortavam o oceano como facões desbravadores. Antes de avistarem as ninfas cantadas em versos por Camões, o tempo virou....
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Sinal vermelho

Num cruzamento sujo de ruas sujas ela surge suja diante da vermelhidão suja da luz suja de um semáforo sujo, ela, de toda suja, leva um tabuleiro sujo colado à cintura suja com balas e chicletes sujos. Unhas sujas, cabelos sujos, colo sujo, pés sujos. Encardida. Cheirava mal. E ali, por entre carros sujos de motorista sujos aquela mulher vendia doces emporcalhados. Em meio a tanto lixo, a poesia tão logo nascia, era devorada por abutres e urubus mais sujos ainda.

Recebia algumas moedas sujas que, na verdade, eram sujas como as esmolas sujas que recebia pela pequena fresta suja de vidros sujos de mãos imundas. O sol sujo fazia escorrer um suor fedorento em seu corpo sujo. Bicas de uma água poluída ganhavam seu corpo sujo. Seus olhos eram sujos seja de remelas sujas ou de visões mais sujas ainda. Seus ouvidos eram sujos seja de cera ou de maldições. Seu nariz era sujo seja de sujeira ou dos cheiros podres que sentia. ...
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Solidão a sós

Tem dias em que a solidão amanhece em nossas veias e é levada a todo o nosso corpo. A solidão corre nas pernas. Corre no fundo das vistas. Corre pelas costelas. Infesta um a um dos órgãos. Então, vem uma vontade de correr. Correr para longe de si mesmo. Uma vontade de entrar atrás da geladeira, debaixo da cama, dentro das gavetas. Como se quisesse esconder de si próprio. E ao abrir a janela, o mundo de tão grande parece lhe violentar. Como se a solidão fosse uma espécie de vampiro que, para sobreviver, precisa ficar no escuro. ...
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Sonha

Sonha. Por mais que a vida se mostre impossível, sonha. Sonha com grandes milagres e com pequenos detalhes tão necessários para a felicidade. Sonha com a felicidade. Imagina as pausas do seu rosto, as hipnoses dos seus olhares e, sem cerimônias, dança com ela por um imenso salão que ora é infinito ora já se acabou. Conduza-a e se deixe conduzir por ela, sem maiores orgulhos ou vergonhas. Sonha. Por maior que seja o medo, encare o sonho olhos nos olhos. Sonha com um tempo, imperfeito pelo simples fato de ser amanhã. Sonha e se perca num gosto, num perfume, num gesto. Sonha, a saudade como um sonho que ainda não se foi. Sonha como sonham nos filmes, nos livros, nas histórias que contam e ninguém acredita. Insista e sonha. Sonha como quem voa para um horizonte pela primeira vez. Sonha com o encontro, embora a vida seja feita de esperas. Por mais falso que possa parecer o sonho, sonha. ...
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Sonhos bandidos

Um céu azul, quase sem nuvens, azul de todo azul, e um sol que brilha nas piscinas. Árvores rechonchudas, flores nos jardins, cadeiras nas calçadas. Vestidos, paletós, lenços. Cabelos soltos no ar. Pássaros cantando nas janelas. Palácios. Crianças brincando nas praças. Sorrisos, muitos sorrisos. O mundo a passar com suas cantorias, zonzo de felicidade.

Vamos leitor, acorde!!! Não se deixe hipnotizar. É assim que querem que vejamos o mundo. Um filme "água com açúcar". Ops! Não se esqueça que a produção "A Vida é Bela" desbancou "Central do Brasil". Os olhos em carne viva de Fernanda Montenegro... e preferiram o sorriso palhaço. Acorde! Vamos ver por detrás das cortinas dessa vida que nos querem dar. ...
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Sonhos de padaria

Ela sumia durante a noite. Ninguém a encontrava. Nem na casa de fundo onde morava, nem nos dois celulares que levava consigo, nem na padaria onde sempre passava e tomava um café e comia um sonho, como se essa fosse a sua maior travessura. Não era de aprontar, tampouco de quebrar sua rotina. Nunca roubou, nunca mentiu, nunca blasfemou, nunca matou, nunca desonrou,..., nunca quebrou os dez mandamentos. E também não se dava ao desfrute quando se tratava de pecados capitais. Ira, inveja, luxúria ficavam fora de seu cotidiano. E aquele café com sonho na padaria não poderia ser considerado desejo, tampouco gula. Era apenas cotidiano....
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