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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 169 de 320.
23/03/2012 -
Contas e mais contas
Corre doutor, que lá vem o cobrador. O aluguel já venceu, ai meu deus. A coisa ta preta, fecharam seu crédito na caderneta. Ai coitado, acabou o fiado. Para aumentar o furo vem à dívida do seguro. Nossa Senhora da Esperança, piedade, ele tem que dar de comer à criança. É tanta taxa que lá se foi o dinheiro do lápis e da borracha. Não tem sim nem não na hora de comprar o pão com o vale-refeição.
Chora doutor que a verba foi embora. É bom procurar um falsário capaz de triplicar o salário. Tome um chá para abaixar a pressão, pois lá vem o IPVA e a inflação. E ainda tem carregar a cruz da conta de luz. Não há amor que resista ao penhor. A madame tá aflita tendo de raspar a marmita. E o contracheque não dá nem pro pileque. E tome cuidado ainda para não ser roubado, saqueado, lesado... ...
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22/03/2012 -
Paisagem pitoresca
Casinhas com quintais de terra e abacateiros ao fundo. Abacateiros verdes, grandes como não existem mais. Um romance anda por estradinhas em ziguezague. Um vira-lata latindo pra ninguém. O vento faz dançar o capim dourado ao mesmo tempo em que traz ecos da montanha de pedra. A saudade é quente e úmida. Os desejos são esticados na janela em feitio de cobertas. Um cavaleiro galopa por vielas estreitas e alongadas.
Na beira dos caminhos há flores e pedras. Dizem até mesmo que são as pedras que florescem. Histórias não faltam. Lendas então... A cana sangra cachaça. Até o vento tem sotaque. O lugarejo acolhe e embala. Tudo ali tem tempero incomum. As lembranças grudam nas paredes como lagartixas. Há um tilintar de prece pelo ar. O sol tem cor de caco de telha. Ali, a linha que separa os mundos não é imaginária. ...
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21/03/2012 -
Morando no espaço
Moro na noite. Meu jardim é feito de flores de escuridão. Guardo meus sonhos nas fendas da lua. Respiro galáxias e faço compras em Júpiter. Namoro em Vênus me enroscando nos anéis de Saturno. Tropeço em vários objetos astronômicos. Brinco com forças gravitacionais e giro em torno de um centro de massa comum. Sou vizinho de Andrômeda. Viajo a anos-luz cavalgando em cometas. Pulo asteroides e me deito com estrelas cadentes. São milhões, bilhões, trilhões de estrelas. Cada qual com um desenho e um brilho diferentes. ...
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20/03/2012 -
Toda molhada
Ela chega molhada em casa cheirando à chuva. Seu cabelo escorre como um rio doce. Veleiros velejam pelas tempestades de seu corpo agitado. Suas palavras quebram como ondas. Sua boca está mais viva, trazendo o viço das plantas depois de uma noite de chuva. Chega aliviada como nuvem depois de descarregar seus raios e trovões. Dispensa sombrinhas e sapatos. Vem descalça pelas enxurradas, totalmente livre, dividindo as corredeiras com barquinhos de papel e olhares distraídos.
Sua pele vem úmida e semeada, como se cada pingo de chuva enterrasse a flor de seu tecido uma semente de desejo, ou de esperança, ou de felicidade. Brinca com as poças d’água. Em momento algum pensa em se esconder da chuva. Em determinado trecho, depois de absorver muito daquelas nuvens, ela passa a chover. E chove num contentamento de encher os olhos dos deuses da chuva. E quanto mais chove mais exala um frescor que causa suspiros e sons ainda não batizados. ...
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19/03/2012 -
Sal grosso
Sal grosso pra banho de descarrego. Sal grosso pra limpar o ambiente. Sal grosso pra cortar o mau-olhado. Foi Preto Velho quem falou, oi, foi Preto Velho quem mandou lavar meu corpo, minha casa, meus caminhos com sal grosso. A onda eletromagnética desse sal tem o mesmo comprimento da onda violeta. E violeta é de Nanã. O sal grosso é de Nanã, da velha que é do mundo desde que o mundo é mundo. Com o sal da manhã, com o sal em buquê, com o sal grosso, renovai-me, Preto Velho, Adorai, Nanã Buruquê, Salubá. ...
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18/03/2012 -
Deus customizado
Deus está de cara nova. Deus agora é paz e amor. Esqueçam aquele deus bíblico, das pestes do Egito, da crucificação de seu filho, do apocalipse. Deus deixou de ser rock’n roll e está mais light. Um deus manso, bossa-nova. Deus não anda mais com um trovão na mão, mas com uma varinha de condão. Deus não senta no trono, mas na geral, no meio da multidão. Deus deve até mesmo vibrar com algum time de futebol já que o mundo virou uma bola. Deus anda tão zen que não pega mais no pesado, tampouco arranca os cabelos por conta de suas criações. Deixou o mundo a cargo do livre-arbítrio, que funciona como uma espécie de piloto automático. ...
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17/03/2012 -
Apreendendo com as nuvens
O céu é uma aula à parte. A resposta que precisamos pode estar bem acima da nossa cabeça. As nuvens são espécies de professoras, de oráculos, de mensagens divinas. São bulas que dizem muito sobre os mistérios do mundo. As nuvens são a prova concreta e diária de que tudo passa. Nós, assim como árvores, animais e as próprias nuvens, estamos aqui na Terra de passagem, como os antigos gostam de dizer. As nuvens demonstram que tudo é passageiro e mutável. Cada hora elas estão de um jeito, adquirindo formatos diferentes. ...
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16/03/2012 -
Desburocratize-se
Descomplique o que não tem solução. Diariamente transforme pelo menos um de seus tantos não em sim. Desamarre a cara. Fale de felicidade como se ela – a felicidade – estivesse em suas mãos. Não perca tempo, tampouco se perca dele. Pelo contrário, encontre-se no tempo. Nem fale demais nem escute de menos. Respeite, na medida do possível, as medidas, as divididas, as partidas. Nem aceite tudo nem rejeito o mundo. Mergulhe fundo na alma humana e desdobre cada segundo.
Se for para sofrer que sofra com arte. Reinvente receitas de viver e de morrer. Deguste dose a dose de seu dia em diferentes cidades. Lembre-se: nem todo vinho é fácil. Transforme o ato de sorrir, mas sorrir com gosto, num fenômeno natural. Quebre as pedras de sal até encontrar um quê de açúcar. Convide seus dramas para uma dança. Absorva o mínimo necessário para viver. Quanto mais peso menos frequentes e mais baixos seus voos. Chacoalhe o silêncio até ele virar música; a sua música.

15/03/2012 -
A dor segundo Schopenhauer
Schopenhauer tinha razão ao afirmar que o mundo não é mais do que uma representação. De um lado, o mundo-espaço, o mundo-tempo. De outro, o mundo-consciência íntima e subjetiva, que é mais profundo do que podemos imaginar. Nessa representação o homem se move por meio de suas paixões e aspirações. O homem como reflexo de sua vontade. Para o filósofo, nos realizamos e sofremos com nossas vontades. A humanidade refém de suas aspirações. O prazer é só a superação momentânea da dor. De fato, Schopenhauer, a dor é a única e verdadeira realidade. Tudo mais é ilusão, mentira, ópio. ...
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14/03/2012 -
O silêncio que mata
Depois do baile, os sapatos estarão no chão e os pés tatuados de notas musicais. Na planta dos pés, partituras inteiras. Pés com predominância de sol, de fá, de mi... Pés bailarinos silenciados de dor. Não da dor de calos ou bolhas de sangue, mas da dor do silêncio. Do silêncio nascido da ausência de música. Os músicos se perderam, os pares foram desfeitos e o salão ficou tão escuro quão noite sem vagalume. O corpo deserto e incerto como um eclipse que traz sempre a dúvida entre o temporário e o eterno. ...
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