Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 313 de 320.

Quinta-feira

No calendário oficial, uma data qualquer. No calendário extra-oficial, também nada de relevante. Apenas mais uma quinta-feira a ser preenchida em uma página em branco na agenda. Enquanto azul, a quinta-feira, segue o caminho de tantas outras. Um azul comum, de um céu comum, com deuses comuns. Nada de nuvens, de fuligens, de cometas, de naves espaciais e de balões grenás.

De repente, ela surge avassaladora como a rainha da Mesopotâmia. Ela surge e a quinta-feira ganha seu nome e o azul escorre pelas frestas da mesmice. E do azul, faz-se à noite num escuro cintilante. Rapidamente, são chamadas as estrelas ainda dormentes. E a taça onde o sol reinava absoluto como uma rodela de laranja se enche de noite. Todos os encantos, lendas e suspenses são postos e depostos naquela taça. E ela se transforma em líquido. Um líquido que escancara e amortece e encara e aquece os lábios. Nos lábios, o cheiro da noite. Cheiro de brisa, de orvalho, de infinidade....
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Receita de um cruzar de pernas

De repente, as cores da saia quebram as fronteiras com as cores da pele. As sombras e as faltas de sombra, num corpo de baile. Cenas de um movimento, de um contentamento, de um lamento se espalham. E há todo um jeito especial de se dar o encontro. Dependendo da intensidade desse encontro, eis o vento. O vento surgindo. O vento sumindo. O vento indo e me vindo.

Vidas cruzadas. Órbitas cruzadas. Taças cruzadas. Notas cruzadas. Cartas cruzadas. Insinuações cruzadas. Juras cruzadas. Chamas cruzadas. Retas cruzadas. Nuvens cruzadas. Pernas tombadas, debruçadas, trançadas,..., cruzadas sobre si próprias. ...
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Registro civil

- Em que posso ajudar?

- Eu queria registrar meu filho.

- Você é o pai?

- Sou sim senhor?

- Parabéns, mas não me parece muito contente.

- É... Eu tenho dó dele.

- Desculpe-me, mas ele tem algum problema, não é sadio?

- Tem não seu moço. É um menino forte, encorpado, lindo.

- Então?

- Eu tenho pena é do futuro dele. Agora que ele tá mamando tá tudo bem, mas daqui um tempo a mué fica sem leite e ele já vai começar a chorá de fome. Sabe, eu tenho um empreguinho, mas é coisa pouca, depois com o tempo, já vai precisá de remédio, médico, brinquedo, roupa e essas coisas todas. Depois não sei se ele vai conseguir estudo, se vai arranjá emprego, se vai tê onde morar, se vai tê dinheiro para sustentá seu filho......
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Renascimentos

Quantas vezes você já nasceu? A pergunta pode parecer absurda, mas pense, por alguns instantes, quantas vezes você já nasceu e quantas ainda vai nascer. A vida é um nascimento constante. Alguns renascimentos são mais visíveis, como no caso da lagarta que renasce borboleta, da lua minguante que renasce cheia e da cigarra que renasce com outro esqueleto e até da famosa fênix que renasce do fogo. Outros, são mais discretos, como acontece com a espécie humana e o sol. Você acredita que o sol nascente de hoje é o mesmo sol poente de ontem? No caso dos humanos, na maioria das vezes, cada um dos bilhões de seres espalhos por esse mundo tem infinitas razões próprias e íntimas para renascer....
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Retrato da poesia

Agradeço a poesia. Esta chama que se esconde em meu corpo e se expõe ao mundo no momento exato. Sem mais cerimônias ou demasias. A poesia, o fruto de toda a fantasia, que quebra as fronteiras com o impossível e turva a realidade. Fonte da miragem quase concreta finge que é concreta. Finge que é real. Finge e só finge.

Poesia. Sobrepõe-se a frigidez cotidiana e constrói uma nova cena no antigo desejo dos meus olhos. Essa chama, quando oculta, em meu corpo, notada somente por mim, conforta-me diante da materialização mundana. A poesia não é fingimento ou hipocrisia. A poesia, embora triste, tenta ser felicidade. A poesia tenta, mesmo leiga, compreender a existência e o destino da razão, em seu singular e em seus plurais. A poesia busca os sonhos, ou melhor, a idealização da vida....
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Roda-gigante

Um leve toque do indicador era o suficiente para chamar o elevador. E era mais que suficiente para libertar aquela mulher que tivera uma manhãa estressante no trabalho. O chefe não gostava do seu tempo, do seu trabalho, de nada que fazia. Mas aquele toque não foi o suficiente para levar, de uma vêz por todas, aquela mulher dali. O elevador demorava para subir ou descer. Ela esta no sexto andar. Na metade do prédio. Então, ela caminha e seus olhos se depararam com a paisagem da janela. Depois de quatro anos trabalhnado ali essa era a primeira vez que ela reparava na paisagem da janela....
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Rosa benta

Como que numa tradição, passada de geração em geração, ela, com sua idade ainda cheirando a adolescente, caminhava. Como já caminhou sua mãe, sua avó, sua bisavó. Caminhava por um caminho feito de calçadas de pedra e ruas tortas levando uma rosa em suas mãos. Levava uma rosa branca. E pelo caminho ia encontrando outras meninas, moças, mulheres, senhoras e até alguns homens com rosas nas mãos.

Rosas de todas as cores e tamanhos, algumas ainda em botão. De outras, vindas em mãos de crianças, faltavam algumas pétalas. E ela, como na fábula de joão e maria tinha vontade de ir jogando as pétalas pelo chão para marcar o caminho de volta. Era a primeira vez que ia sozinha. Tinha euforia. Tinha medo....
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Rosa de retalhos

O domingo amanhecia em fiapos de esperança no corpo esquálido de uma rosa. Contrariando o clima de Copa do Mundo, o verde e o amarelo davam lugar a trapos frios, quiçá tendência nas passarelas de Milão. Uma realidade tão próxima quão distante daquela mulher de corpo magro e cabelos descorados. Sol e tintura barata.

Em torno do cálice do seu corpo, possíveis roupas, impossíveis cobertas. Eram pele e lã e fibra sintética num contorno sem rima. Era Rosa. Mas não era rosa flor, era rosa espinho. Espinho de um inverno que feria bania entristecia o dia. E pelas rachaduras de uma prancha de papelão aquela rosa nascia. ...
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Rua chico venâncio

Há mulheres que marcam passarelas em Nova Iorque, Milão, Paris... Há mulheres que se tornam símbolos de uma praia, como a Garota de Ipanema... Mas só uma mulher marcou uma rua como ela marcou. Quando ela surgia no portão de casa e colocava os pés na calçada de uma das ruas mais famosas de uma cidade do interior, pode-se dizer que um fenômeno acontecia. Homens, de todas as idades, classes sociais, estados civis e religiões saiam à porta de seus estabelecimentos para acompanhar os movimentos daquela garota. Mulheres, por curiosidade ou inveja, espionavam-na de forma discreta. Aliás, a notícia sobre a tal "musa da rua Chico Venâncio" se espalhou pela cidade de tal forma que muitos curiosos vinham de longe só para testemunhá-la. ...
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Sábado

Quantos os que tentam compreender a tristeza existente num Sábado. Acordar quase na hora do almoço, ficar o resto do dia na frente da televisão ou sair em busca de diversão, em suma, quebrando as regras da rotina. O que leva alguém a preferir o cotidiano, que em si é tão comum, tão cheio de gestos repetidos. O sono, o café, os afazeres, o almoço, a responsabilidade, o estresse, o jantar, o cansaço. Só os loucos trocam o sábado, da calma, da tranqüilidade, do improviso pela fatídica rotina. Somente os loucos e os apaixonados. Segunda, terça, quarta, enfim, todas as feiras vendo o desespero da sexta, a agonia de não vê-la amanhã e depois de amanhã, só depois. A sexta e a vontade da segunda, que insensatez....
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